“O pior aspecto das reformas neoliberais, que precisam ser barradas, é o dumping social, pois significam precarização e retrocesso. Na França, o atentado perpetrado pelo presidente Macron contra a legislação trabalhista é para que não haja limites à regressão social que querem impor, já que uma vez sem emprego, se aceita menos que o vizinho”, afirmou o secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT) francesa, Philippe Martinez, em visita ao Brasil nesta segunda-feira.
De acordo com Philippe, “agindo em função do interesse das multinacionais, os governos dos nossos países agem para nos distanciar, buscando sempre culpabilizar os trabalhadores, dizendo que há muitas leis, que eles são muito bem pagos”. Na prática é sempre a mesma história, alertou: “as multinacionais ficam todo o tempo tentando colocar a sua política no governo, tratando de diminuir o custo do trabalho baixando os salários, ameaçando que se não reduzirem, outros vão reduzir”.
Conforme o líder da CGT francesa, é como uma espiral descendente, que só amplia a concentração de renda e a desigualdade. “Há 25 anos os franceses eram comparados aos espanhóis, hoje os espanhóis são comparados aos romenos, os romenos aos eslovenos, os eslovenos aos marroquinos, visando sempre puxar mais pra baixo, valorizando quem trabalha por menos e em piores condições”. Que este caminho não leva a lugar nenhum está mais do que provado e os exemplos são abundantes, assinalou. “Primeiro foi a Grécia, depois Portugal, Espanha, Itália e agora focam na França para impor a negociação por empresa, onde as entidades sindicais ficarão fragilizadas para eles poderem quebrar as leis trabalhistas e a negociação coletiva. Assim, numa mesma região, teremos operários de uma mesma categoria recebendo salários diferentes, sendo regidos por legislações diferentes, com relações de trabalho diferentes”, frisou.
Para fazer frente a tamanho retrocesso, lembrou o sindicalista, a França realizou pela primeira vez a apenas quatro meses da eleição de um presidente um Dia Nacional de Luta, com Greve Geral contra as medidas regressivas. Philippe lembrou que Macron foi eleito como um voto de oposição à candidatura fascista e ao governo anterior, mas não para adotar um programa de retrocessos em todos os níveis. “E depois da eleição presidencial vieram as legislativas, com somente 44% de participação, uma enormidade de abstenção. Nestas eleições apareceram muitos empresários, alguns que sequer sabiam que tinham de ir até o Congresso para legislar. Há um deputado que inclusive organiza visitas e cobra como uma agência de viagens”, relatou o dirigente, apontando que o ridículo dos parlamentares-empresários não tem limites.
Por toda a França, a Confederação Geral do Trabalho está convocando para o próximo dia 16 de novembro uma série de Jornadas de Mobilização, “para impedir que o governo e os patrões invertam o princípio da lei, que é a defesa do bem comum, e façam com que os interesses de uma minoria se sobreponham ao conjunto”.
Citando o exemplo da Renault, Philippe explicou que o mundo do trabalho mudou e que mais do que nunca as entidades sindicais precisam estar atentas, conscientes e mobilizadas para estas alterações. “Quando comecei, a minha fábrica tinha 25 mil assalariados e o trabalhador metalúrgico, o engenheiro, o porteiro, o vigia e o que cortava grama eram regidos pelo mesmo contrato. Hoje são só 16 mil assalariados e tem 77 empresas diferentes, o que corresponde a 35 contratos diferentes, boa parte precários. E a visão de Macron é reduzir cada vez mais os direitos”, denunciou.
LEONARDO SEVERO