
Após 49 anos, o pianista brasileiro, Francisco Tenório Cerqueira Júnior, desaparecido em 18 de março de 1976 em Buenos Aires, assassinado dias antes do golpe que instaurou a ditadura na Argentina, teve o corpo identificado pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF)
A entidade afirmou que a conclusão foi possível por meio de exames de impressões digitais. Segundo a EAAF, Tenório foi enterrado sem documentos no cemitério de Benavídez, província de Buenos Aires.
Tido por muitos como o maior pianista brasileiro de seu tempo, Tenório, à época com 34 anos, havia viajado para Buenos Aires, acompanhando Vinícius de Moraes e Toquinho em turnê na capital argentina quando saiu do hotel e nunca mais voltou.
Dois dias depois, em 20 de março de 1976, um corpo foi encontrado num terreno baldio no bairro do Tigre. A investigação da época coletou digitais e realizou autópsia que apontou morte por tiros, mas o homem foi enterrado sem identificação.
“O processo foi recuperado pela Promotoria de Crimes contra a Humanidade, que realiza uma revisão de processos judiciais iniciados na província de Buenos Aires entre 1975 e 1983 devido à descoberta de corpos em vias públicas, arquivados sem a identificação das vítimas. Essa revisão visa a analisar se as vítimas foram assassinadas por terrorismo de Estado e permanecem desaparecidas”, explicou a EAAF.
Por ordem do Tribunal Federal de Apelações Criminais e Correcionais de Buenos Aires, aquelas impressões digitais foram comparadas às de Tenório Júnior, confirmando sua identidade. A família foi notificada no Brasil pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), por meio do procurador da República Ivan Marx.
“Além disso, no cemitério de Benavídez, outras cinco pessoas já haviam sido identificadas por esse método, mas seus corpos também não puderam ser recuperados”.
O pianista não participava de organizações políticas, mas teria sido confundido com militantes por soldados que já preparavam o golpe contra Isabelita Perón. Em 2013, a Comissão Nacional da Verdade pediu ao governo argentino investigações sobre brasileiros desaparecidos no país no período da Operação Condor. Entre 1971 e 1980, pelo menos 11 brasileiros foram sequestrados na Argentina — entre eles Tenório Júnior, conhecido como Tenorinho.
Seu desaparecimento inspirou um poema de Vinícius de Moraes em 25 de março de 1976.
Reconhecido como desaparecido político pelo Estado brasileiro, Tenório teve sua família indenizada em 2002 e seu nome inscrito no Parque da Memória, em Buenos Aires.
O filme “Atiraram no Pianista”, do diretor espanhol Fernando Trueba, conta a história de Tenório Júnior. O longa-metragem documental de animação contou como co-diretor o ilustrador e animador Javier Mariscal.
O filme segue uma investigação acerca do desaparecimento de Tenório Cerqueira Júnior em 1976 e apresenta depoimentos de Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Ferreira Gullar, Gilberto Gil, Toquinho e mais figuras importantes da música brasileira. O longa ganhou como melhor animação o Prêmio Goya, de 2024, e foi indicado ao Oscar.
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