De acordo com a Fiesp, “o 2º semestre não deverá repetir o mesmo dinamismo, em grande parte devido aos efeitos defasados do significativo aperto monetário”
O resultado do Produto Interno Bruto no segundo trimestre deste ano de 1,2% na comparação com o trimestre anterior foi puxado pelo setor de serviços, segundo divulgou nesta quinta-feira (1º) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), totalizando R$ 2,4 trilhões em valores correntes. Em 2022, o primeiro semestre acumula alta de 2,5%. Em comparação com o mesmo trimestre de 2021, cresceu 3,2%.
Após um tombo de quase 4% em 2020, Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, diziam que a economia “bombava”, que se recuperava em “V”, quando o país atingia recordes de desemprego, inflação e índices de pobreza. Para o economista José Luis Oreiro, a economia recuperou o que havia perdido em 2020, “mas nada mais além disso”.
“Na média do período 2019-2021 o crescimento do PIB foi de 0,52%, patamar inferior ao observado no primeiro ano do governo Bolsonaro, o qual já havia sido menor do que o observado na média do período de governo de Michel Temer”, assinalou o economista da UnB.
Apesar do crescimento de 1,2% no trimestre, o PIB brasileiro ainda está 0,3 p.p abaixo do pico da série histórica ocorrido no primeiro trimestre de 2014, diz o economista. “Essa é a prova cabal de que não apenas a tão propalada “agenda de reformas” não entregou os resultados esperados, como também que o governo Bolsonaro foi um desastre completo na economia”, afirma Oreiro.
No segundo trimestre, os setores da economia – indústria, serviços e agropecuária – registraram alta, sendo que o setor de serviço, que mais peso tem no resultado das Contas Nacionais, puxou o conjunto da economia após a normalização das atividades com a vacinação contra a Covid e os incentivos dados pelo governo federal. Incentivos estes com o dinheiro do próprio trabalhador, como a antecipação do 13º salário, a liberação de saque antecipado do FGTS e a elevação da margem do crédito consignado.
A alta no consumo veio acompanhada de índice recorde de inadimplência das famílias brasileiras, 67 milhões não conseguem pagar suas contas, muitos nem as contas de água e luz, diante da carestia e da queda na renda. O desemprego atinge cerca de 10 milhões de brasileiros, 40 milhões estão na informalidade, no trabalho precário.
De acordo com a Fiesp, “o 2º semestre não deverá repetir o mesmo dinamismo, em grande parte devido aos efeitos defasados do significativo aperto monetário. Vale destacar também as incertezas envolvidas no processo eleitoral e o esgotamento dos efeitos da reabertura econômica. Ademais, no cenário externo, a elevação das taxas de juros nas economias desenvolvidas e a desaceleração mundial também se colocam como importantes desafios. Tais fatores já impactam, inclusive, as expectativas de crescimento para 2023, as quais têm sido continuamente reduzidas”.
Entre os fatores que apontam para uma desaceleração no próximo trimestre está “o forte aumento da taxa de juros”, diz a Fiesp, que projeta para a produção industrial em 2022 uma queda de 0,9%.
“A projeção da Fiesp para o resultado do PIB em 2022 é de 2,6%, muito em função do efeito da herança estatística do 1º semestre, ou seja, mesmo que seja observado crescimento zero nos dois próximos trimestres, o PIB brasileiro ainda deverá crescer acima de 2% no ano, devido ao desempenho favorável dos dois primeiros trimestres. Para 2023, no entanto, a previsão da Fiesp é que a economia brasileira apresente crescimento de 0,2%, refletindo, sobretudo, os efeitos defasados da política monetária contracionista”, manifestou a Fiesp em nota.
A economista Natália Cotarelli do Itaú Unibanco também considera que o PIB deve mostrar perda de fôlego ao longo do segundo semestre, sob efeito dos juros mais altos, que jogam contra a recuperação do consumo. “Não mudou muito a perspectiva para o segundo semestre. A gente espera uma desaceleração da economia, o PIB andando de lado”, declarou à Folha. O Itaú Unibanco prevê o resultado do PIB de 2023 em torno de zero: 0,2%.
Resultado do PIB do 2º trimestre:
Serviços: 1,3%
Indústria: 2,2%
Agropecuária: 0,5%
Consumo das famílias: 2,6%
Consumo do governo: -0,9%
Investimentos: 4,8%
Exportações: -2,5%
Importações: 7,6%