Em meio a desemprego recorde e queda na renda, PIB varia 1,2% no 1º trimestre com queda no consumo das famílias e do governo
Os resultados do PIB (Produto Interno Bruto) do país divulgados na manhã desta terça-feira (01), apesar de apontarem crescimento frente ao trimestre anterior, mostram que o consumo das famílias – um dos principais motores da economia – permanece em queda como desdobramento do desemprego a níveis catastróficos e da perda de renda dos brasileiros.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia do país avançou 1,2% no período entre janeiro e março deste ano, totalizando em valores correntes R$ 2,048 trilhões. O consumo das famílias, parâmetro para a circulação de renda e um dos principais componentes do PIB caiu 0,1% frente ao trimestre anterior e de 1,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias contribui com cerca de 60% de sua formação.
“O aumento da inflação pesou, principalmente, no consumo de alimentos ao longo desse período. O mercado de trabalho desaquecido também. Houve ainda redução significativa nos pagamentos dos programas do governo às famílias, como o auxílio emergencial”, destacou Rebeca Palis, economista do IBGE.
Em termos gerais, a economia também ainda não eliminou o tombo recorde de 9,2% registrado no 2º trimestre de 2020. No acumulado em 12 meses, o PIB permanece em queda de 3,8%.
O IBGE também registra que, apesar do resultado, a economia desacelerou em ritmo de expansão, já que no 4º trimestre do ano houve avanço de 3,2%. Este período coincide com a segunda e mais grave onda da pandemia da Covid-19, que alcançou recorde em número de contaminados e mortes entre março e abril.
Frente ao mesmo trimestre de 2020, o PIB apresentou crescimento de 1%. Assim, o PIB do país voltou aos patamares pré-pandemia (último trimestre de 2019), o que significa, em termos relativos, que a economia praticamente ficou paralisada neste um ano.
“Com o resultado do primeiro trimestre, o PIB voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia, mas ainda está 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, alcançado no primeiro trimestre de 2014”, informou o instituto.
Em 2020, no primeiro ano da pandemia, a economia brasileira tombou 4,1%, registrando a maior contração desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996.
Agropecuária, exportações e importações
O resultado positivo foi sustentado pela agropecuária, beneficiada pelo dólar, exportações e importações – itens da formação do PIB que tiveram os melhores números no período. Isso se relaciona com a tendência de centralizar a economia do país na atividade primária e agroexportadora, sobretudo da soja, que tem peso na lavoura brasileira e previsão de safra recorde este ano.
Todos os demais setores da economia tiverem crescimento minguado, se não quase nulo:
Serviços: 0,4%
Indústria: 0,7%
Agropecuária: 5,7%
Consumo das famílias: -0,1%
Consumo do governo: -0,8%
Investimentos: 4,6%
Exportação: 3,7%
Importação: 11,6%
Construção civil: 2,1%
A atividade industrial, por exemplo, registrou avanço de 0,7% pautado na indústria extrativa (+3,2%). A indústria de transformação, de maior valor agregado, teve retração de 0,5%.
Pela ótica da despesa, os investimentos tiveram alta de 4,6%, enquanto o consumo do governo, em plena emergência sanitária, teve queda de 0,8% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
Crescimento não se sustenta
Segundo Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, a manutenção do desemprego em nível recorde neste início de ano é resultado da recuperação desigual entre os setores da economia, como serviços, comércio e indústria, que além de serem os maiores empregadores, também dão a maior contribuição para formação do PIB do país.
“Não há surpresa positiva no mercado de trabalho”, considera a economista. “Isso porque a recuperação da atividade está sendo puxada por segmentos que empregam relativamente menos, comparado aos segmentos que ainda estão com desempenho ruim”, opina. “Então talvez tenhamos mais PIB, mas não necessariamente mais empregos neste primeiro momento”.
“A redução do auxílio, inflação alta e mercado de trabalho desaquecido reduzem o poder de compra das famílias”, diz Matos. “Assim, apesar de estarmos vendo uma recuperação da atividade, o consumo das famílias segue em patamar baixo, pois a geração de renda continua muito fraca”.