Relatório da PF e do MP-RJ, obtido pelo site UOL, revela ligações dos dois milicianos com loja de carros de luxo da Barra da Tijuca
Um relatório conjunto da PF (Polícia Federal) e do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), obtido pelo site UOL, foi divulgado neste domingo (12) mostrando que havia relações entre o chefe do Escritório do Crime, Adriano Magalhães da Nóbrega, e o assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes, Ronnie Lessa.
Lessa está preso, junto com Élcio Queiroz, o mesmo que entrou no condomínio de Lessa, que coincidentemente era vizinho de Bolsonaro, no mesmo dia do crime.
O documento mostra que Adriano usava uma concessionária de luxo na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, para vender e comprar carros.
A Garage Car Store vende carros de luxo, novos e usados, e com blindagem. A loja foi alvo de pesquisas na internet feitas por Ronnie Lessa, antes de executar a vereadora.
Ainda de acordo com o mesmo documento, homens ligados a Lessa e Adriano se conheciam e frequentavam as mesmas festas. “O estabelecimento Garage Store é suspeito de transacionar com Adriano da Nóbrega, alvo da Operação Intocáveis, e foi pesquisado por Ronnie Lessa junto à ferramenta Google”, lê-se no documento.
Márcio Mantovani, homem de confiança de Lessa, preso por participar da operação que jogou ao mar armas do PM da reserva, era frequentador da Garage Store. Mantovano, que é conhecido como Márcio Gordo, foi preso por envolvimento no Caso Marielle. Ele produziu uma festa na casa de um lutador de MMA, na qual compareceu o miliciano Leonardo Augusto de Medeiros, o MAD, afirma o relatório.
MAD foi preso no último dia 30 de junho, em uma operação que o apontou como o novo chefe do Escritório do Crime, após a morte de Capitão Adriano. Ele foi citado em uma gravação telefônica descoberta pela PF como um dos reais assassinos da vereadora e de seu motorista. O miliciano tentou invadir um apartamento de Lessa na zona norte do Rio, horas depois de o policial militar ser preso pela acusação de matar Marielle e Anderson.
No dia seguinte, Márcio Gordo e outras pessoas ligadas a Lessa conseguiram retirar armas do PM reformado do local e jogaram em alto mar. A suspeita da Polícia Civil é que o armamento usado no atentado contra Marielle estava entre o material descartado. A PF e o MP-RJ apontam no relatório outro elo entre Márcio Gordo e homens ligados a Adriano. Ele é morador da Tijuquinha, comunidade da zona oeste do Rio dominada pela milícia do major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, braço direito do falecido chefe do Escritório do Crime.
Outras ligações perigosas de Adriano da Nóbrega foram detectadas pelo Ministério Público do Rio, no inquérito da rachadinha. Dois meses antes de morrer numa operação de captura da polícia na Bahia, Adriano recebeu uma proposta feita por Luis Gustavo Boto Maia, advogado de Flávio Bolsonaro, e pela mulher de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar. Os dois foram orientados por Frederick Wassef, o “Anjo” e Fabrício Queiroz antes de se reunirem com a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães em seu esconderijo no interior de Minas Gerais.
Tudo isso foi detectado a partir da apreensão do telefone de Márcia Aguiar numa das operações da polícia civil do Rio de Janeiro. Raimunda e a ex-mulher de Adriano, Danielle Mendonça, eram funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. As duas eram lotadas ao cargo CCDAL-5, com salários de R$ 6.490,35. Elas recebiam o salário mas não trabalhavam. Esses valores eram divididos em três partes. Uma ficava com elas, a outra voltava para o deputado e a terceira ia para Adriano da Nóbrega.
O chefe do Escritório do Crime, que também era o manda-chuva na milícia do Rio das Pedras, passou mais de um ano como fugitivo e, depois da reunião dos emissários de Flávio com sua mãe, passou a ser defendido pelo advogado Paulo Emílio Catta Preta, advogado da ex-mulher de Frederick Wassef, então íntimo da família Bolsonaro.
A contratação de Catta Preta deve ter sido um dos acertos feitos com a mãe de Adriano porque dois dias antes da reunião em Minas, Fredrick Wassef se reuniu com Luis Gustavo Boto Maia em Atibaia.
Catta Preta assumiu o caso mas teve pouco tempo para se inteirar dos problemas do pistoleiro. O causídico não chegou a se reunir com o cliente porque Adriano foi morto apenas dois meses depois da reunião com sua mãe em Astolfo Dutra, onde ela estava escondida a mando de Queiroz. Aliás, esse foi um dos motivos do pedido de prisão do casal feito pelo juiz Flávio Itabaiana Leonel, responsável pelo caso (Leia aqui a íntegra do pedido de prisão).
Ele estava coagindo testemunhas e adulterando provas do esquema de lavagem de dinheiro instalado no gabinete de Flávio na Alerj. Esse foi ocaso da ex-funcionária fantasma Luiza Souza Paes, que em 2019 foi levada por Queiroz para assinar uma folha de ponto de 2017.
Depois que caiu a liminar de Toffoli proibindo investigações com base em relatórios do COAF, e que beneficiava Flávio Bolsonaro, Wassef escondeu Fabrício Queiroz e sua mulher Márcia Oliveira por mais de uma no em sua casa no interior de São Paulo. Coincidentemente, Wassef indicou o mesmo Paulo Emílio Catta Preta para defender o casal.
E também por coincidência, Wassef andou dizendo recentemente que estava escondendo Queiroz porque queiram matá-lo. Todas essas revelações apenas confirmam o que já se sabia. A existência de uma íntima relação da família Bolsonaro com os milicianos e assassinos de aluguel.
Não é à toa que o mesmo Adriano já tinha sido homenageado por Flávio em 2003 e 2005 e defendido também em 2005, por Jair Bolsonaro da tribuna da Câmara Federal.
Assista ao vídeo onde Jair Bolsonaro defende Adriano da Nóbrega
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Está conprovado que família Bolsonaro: é envolvida com milicianos no Rio de Janeiro, como mostra está reportagem isto é fato e contra os fatos não há argumento.