
O programa Fantástico, da TV Globo, do último domingo (25) mostrou a prisão de cinco pessoas acusadas de envolvimento em crimes de violência contra adolescentes na plataforma Discord (aplicativo da internet usado principalmente por adolescentes para conversarem sobre games). Os abusadores não só ameaçam as meninas pela internet, como também atraem as vítimas para locais onde elas são humilhadas e agredidas fisicamente.
A reportagem mostrou os principais efeitos da falta de regulação das redes, onde criminosos acreditam estar impunes para persuadir, aliciar e ameaçar as vítimas. Relator do PL 2630 de combate às Fake News na Câmara dos Deputados, Orlando Silva, afirmou que o projeto visa proteger crianças e adolescentes desses criminosos.
“Matéria do Fantástico mostrou os riscos do uso criminoso da Internet, o que é facilitado pela ausência de regulação das plataformas digitais. O PL 2630 visa coibir crimes e proteger crianças e adolescentes. A Internet não é terra sem lei”, afirmou o deputado federal.
Nesta segunda-feira (26), a Polícia Civil de São Paulo prendeu um integrante de uma rede de jovens investigada por suspeita de ameaçar e estuprar ao menos duas meninas, menores de 18 anos, que conheceram no Discord.
As vítimas têm 13 e 16 anos. Elas são de Santa Catarina e São Paulo. A polícia também investiga a possibilidade de que o grupo tenha estuprado e ameaçado mais cinco vítimas: 3 em São Paulo, uma no Espírito Santo e outra no Amapá.
Outros três criminosos já tinham sido presos pelos policiais, na semana passada, após o Fantástico revelar, em maio, como usavam a plataforma virtual para cometerem crimes.
- Carlos Eduardo Custódio, “DPE”, de 21 anos, é acusado de aliciar adolescentes que fugiram de casa e estupro. Entre as vítimas, está uma jovem de 13 anos de Joinville, Santa Catarina
- Vitor Hugo Souza Rocha, o “Verdadeiro Vitor”, 21 anos (detido no começo de junho em Bauru, interior paulista): investigado por armazenar pornografia infantil;
- Gabriel Barreto Vilares, o “Law”, 22 (preso também na sexta passada na capital paulista): investigado por estupro e ameaça;
- William Maza dos Santos, o “Joust”, 20 (detido na sexta em São Paulo): investigado por estupro e ameaça;
Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo também investiga o próprio Discord.
“Nós estamos apurando, através de um inquérito civil, a falta de segurança da plataforma Discord. Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio. Um local propício para que eles planejem ataque as vítimas e, principalmente, transmitam o conteúdo do crime”, declara o promotor de Justiça de São Paulo Danilo Orlando.
“É importante que fique muito claro que não se trata de desafios que estão sendo praticados por adolescentes. Tratam-se de criminosos, a grande maioria maiores de idade, que utilizam a insegurança dessa plataforma em relação a crianças e adolescentes para praticar crimes gravíssimos contra essas meninas”, diz a promotora Maria Fernanda Balsalobra.
O Discord permite que as pessoas se comuniquem em transmissões ao vivo de vídeos dentro da plataforma. A vítima passa a ser chantageada a cumprir desafios. Se ela não aceitar, fotos íntimas são vazadas.
Um dos criminosos tem vários aparelhos de armazenamento e revela uma coleção cruel: “backup das vagabundas estupráveis”. Em cada pasta, o nome de uma vítima. São dezenas de meninas violadas, chantageadas, expostas, catalogadas.
Há denúncias de dez vítimas: fotos de meninas nuas, mutiladas com uma dolorosa assinatura, o nome Dexter escrito com lâmina na pele.
A jornalista Letícia Oliveira monitora grupos de ódio e violência nas redes sociais há dez anos.
“Cada vez mais, elas vão vendo conteúdo mais extremo e isso acaba levando elas a cometerem atrocidades, porque elas estão tão dessensibilizadas, estão tão acostumadas com a violência. É urgente que a gente entenda o que está acontecendo para tentar mudar isso”.
Um jovem não identificado na reportagem do Fantástico passou a colaborar com as investigações e afirmou que em comunidades do Discord, há apologia ao estupro, misoginia, racismo, nazismo e ataque à escolas.
Veja a íntegra da reportagem:
PL 2630 SIM!
Além de Orlando Silva, outros parlamentares se manifestaram. “Esta matéria que foi ao ar ontem no Fantástico é extremamente preocupante e angustiante. A violência e a humilhação sofridas por essas meninas são inaceitáveis e resistiram à ação imediata. O PL 2630, conhecido como “PL das Fake News”, é uma importante ferramenta para combater essas redes criminosas e garantir um ambiente digital mais seguro para todos e todos. A internet não pode ser terra sem Lei!”, afirmou a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
“Ontem o Fantástico exibiu uma reportagem denunciando como os criminosos agem na internet em busca de vítimas menores de idade para violentar sexualmente por meio do Discord, que é um aplicativo que oferece chat de voz, texto e vídeo, sendo bastante utilizado por gamers para se comunicar com amigos e outros usuários ao jogar online. No entanto, sem regulamentação, está sendo utilizado de forma criminosa! Precisamos aprovar o #PL2630 e garantir um ambiente seguro para nossas crianças e adolescentes!”, afirmou a deputada federal Erika Kokay (PT-SP).