Jack Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, e William Burns, da CIA, trabalham contra a amizade do Brasil com a China. Adesão de Bolsonaro ao extemporâneo bloqueio americano à empesa asiática prejudica os interesses nacionais e tornará mais cara e demorada a implantação da tecnologia 5G no país
Jair Bolsonaro vai receber esta semana os representantes do governo dos Estados Unidos, Jack Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, e William Burns da CIA, para tratar do veto à participação da empresa chinesa Huawei nas redes 5G. Além do general Braga Netto, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, participa da reunião, junto com Tarun Chhabra e Amit Mital, diretores sêniores de tecnologia e cibernética no Conselho de Segurança Nacional de Joe Biden.
Segundo a pauta do encontro, os dois países vão “discutir oportunidades para fortalecer a parceria estratégica Brasil-EUA, melhorar a estabilidade regional, avançar os objetivos climáticos, colaborar com a infraestrutura digital e ajudar a traçar um caminho de recuperação da pandemia da Covid-19”.
Para tentar barrar a participação da China, principal parceiro comercial do Brasil, no leilão da rede 5G, Bolsonaro, subserviente a Donald Trump, assinou com os Estados Unidos no ano passado o protocolo da chamada “rede limpa”, onde as empresas chinesas ficariam de fora do leilão, acusadas sem provas pelos EUA de espionagem. A política do governo – inclusive explicitada pelo próprio Bolsonaro – era a de conceder o monopólio dos equipamentos da 5G para empresas norte-americanas ou com influência do capital financeiro norte-americano.
As acusações de espionagem foram refutadas pelos chineses e rechaçadas no Brasil por especialistas e pelas próprias teles estrangeiras que operam no país. Boa parte da tecnologia atual já tem como base equipamentos produzidos por empresas chinesas. As operadoras consideram que qualquer mudança sem considerar todo o acúmulo que já existe no setor, que já trabalha com tecnologia chinesa, seria um retrocesso, atrasaria a implantação do 5G e aumentaria os custos, tanto para as operadoras quanto para os consumidores.
“A China é um país com o qual o Brasil deve ter um relacionamento bom, pautado na confiança. No que diz respeito à Huawei, qualquer tipo de alegação que havia relação a uma eventual espionagem isso não tinha fundamento e nenhum tipo de dados concretos, muito pelo contrário, as empresas de telecomunicações do Brasil elas mesmas insistiram em dizer que já trabalhavam com a Huawei desde o 2G, 3G, 4G, e que não havia nenhum tipo de fato que desabonasse a credibilidade dos produtos da empresa chinesa”, afirma Evandro Menezes de Carvalho, professor de Direito Internacional Público da FGV e da UFF, em entrevista ao Sputnik Brasil.
Ainda assim, mesmo atendendo a todos os critérios de segurança cibernética, a Huawei não poderá vender seus equipamentos para a construção da rede 5G privativa do governo federal, uma rede que servirá apenas ao poder público, conforme previsto no edital do leilão previsto para ser realizado este ano.
O governo se submeteu em parte aos interesses dos EUA ao criar a “rede privativa” com critérios que exclui a empresa chinesa de fornecer equipamentos. O Planalto só permite que a Huawai participe da rede privada das operadoras. Agora nem nesta os americanos estão aceitando. A Huawei opera na área de tecnologia no Brasil há 23 anos, e já tem a maior parte das redes 3G, 4G e 4,5G. A empresa projeta sua participação na instalação da infraestrutura para o funcionamento da nova tecnologia 5G no país.
A China, além de principal parceiro comercial do Brasil, tem sido fundamental no fornecimento dos insumos para a vacina contra a Covid-19. Nem por isso deixou de receber ataques dos seguidores e filhos de Bolsonaro nas redes sociais, que foram repudiados no Brasil e pela própria Embaixada da China.
No mês passado, Jair Bolsonaro se reuniu com o diretor da CIA, de William J. Burns, no Palácio do Planalto. Não houve aviso prévio da visita e a agenda de encontros foi mantida em sigilo.