O ex-presidente Jair Bolsonaro entregou, nesta terça-feira (4), o terceiro estojo de joias que recebeu da Arábia Saudita e manteve escondido por mais de três anos.
As joias avaliadas em R$ 500 mil foram entregues pela defesa do ex-presidente em uma agência da Caixa Econômica Federal, em Brasília.
A entrega só ocorreu porque o Tribunal de Contas da União (TCU) ordenou, entendendo que pessoas que ocupam altos cargos não podem pegar para si presentes que não sejam de caráter “personalísismo”, como objetos personalizados ou de baixo valor.
Esse pacote era composto por um relógio da marca Rolex, de ouro branco cravejado de diamantes, estimado em R$ 364 mil, um par de abotoaduras, um anel e um rosário árabe, sendo estes da marca Chopard e também tendo diamantes cravejados.
Jair Bolsonaro recebeu o “presente” em uma viagem para a Arábia Saudita, realizada em 2019, e entrou com as joias sem declará-las à Receita Federal.
O ex-presidente mandou que as joias fossem incorporadas em seu acervo pessoal, e não ao acervo da Presidência da República, como manda a lei.
Depois, ordenou que fossem enviadas para seu gabinete para que ficassem sob sua posse. Jair Bolsonaro escondeu o estojo de joias em uma fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília.
MAIS PRESENTES
Jair Bolsonaro já teve que devolver outro pacote de joias que recebeu ilegalmente, que também lhe foram dadas pela Arábia Saudita, e duas armas personalizadas que foram “presente” dos Emirados Árabes.
No dia 24 de março, um representante de Bolsonaro foi até uma agência da Caixa para entregar as peças.
Esse estojo veio para o Brasil na bagagem do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, depois que este esteve na Arábia Saudita. O pacote passou sem ser notado pela Receita Federal.
Entre as peças estava um relógio da marca Chopard que só tem 25 unidades, sendo um dos mais raros do mundo. O Chopard L.U.C Tourbillon Qualité Fleurier é avaliado em R$ 800 mil.
Jair Bolsonaro também se apossou de duas armas, uma pistola e um fuzil, que foram dadas pelos Emirados Árabes Unidos como presente. Elas são avaliadas em R$ 57 mil e tiveram que ser devolvidas ao estado brasileiro.
APROPRIAÇÃO ILEGAL
Antes que fosse revelada a existência dos dois pacotes de joias e das armas que Jair Bolsonaro incorporou ilegalmente a seu acervo pessoal, foi descoberto que a Receita Federal havia impedido a entrada de um outro estojo, que também foi trazido para o Brasil por Bento Albuquerque.
O então ministro de Bolsonaro tentou entrar no país sem declarar as joias à alfândega, mas não conseguiu. O valor estimado é de R$ 16,5 milhões.
Uma vez que as peças foram retidas, Jair Bolsonaro passou a se movimentar desesperadamente para tentar recuperá-las sem pagar impostos, o que é ilegal.
No dia 29 de dezembro de 2022, ele enviou um funcionário de sua Ajudância de Ordens até Guarulhos com o objetivo de conseguir a liberação na alfândega.
O funcionário foi transportado por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e municiado de contatos e documentos para tentar enganar o servidor da Receita, mas não foi suficiente.
SUSPEITAS
O ex-presidente Jair Bolsonaro está tentando tirar o corpo fora do caso das joias milionárias, passando a culpa para “servidores de carreira” que teriam incorporado as peças em seu acervo pessoal sem seu conhecimento.
Ele não sabe explicar, no entanto, porque ordenou que um relógio avaliado em R$ 364 mil fosse enviado para seu gabinete para ficarem sob “guarda do presidente da República”, como demonstram documentos oficiais.
Segundo Bolsonaro, os presentes milionários lhe foram dados pela Arábia Saudita “pela relação de amizade que eu tive com o mundo árabe”.
Ao mesmo tempo em que recebia os presentes milionários, transcorria o processo de privatização da refinaria Landulpho Alves, da Bahia, o que acabou acontecendo logo depois.
Quem comprou foi o fundo árabe Mubadala, que possui vários sócios árabes, mas o principal deles é exatamente o governo dos Emirados Árabes que enviou parte dos presentes.
A refinaria acabou sendo vendida para este fundo financeiro por R$ 10 bilhões, quando, na verdade, por ser uma das mais importantes do país, valia o dobro deste preço, R$ 20 bilhões.