“Planos destrutivos contra Rússia fracassaram”, diz Putin

Pronunciamento de Putin no Ministério da Defesa (RUSI)

O presidente Vladimir Putin afirmou que o “mais importante que aconteceu” durante a operação militar especial em curso “foi que a Rússia recuperou seu status de plena soberania. A Rússia se tornou um país soberano em todos os sentidos da palavra”

A afirmação foi feita em reunião ampliada no Ministério da Defesa russo na quarta-feira (17), o Dia das Forças de Mísseis Estratégicos, em que Putin analisou os avanços no processo de contenção da anexação da Ucrânia pela Otan e restauração da neutralidade, e de defesa dos territórios historicamente russos no Donbass e dos direitos de suas populações ao idioma e à liberdade de culto.

Aos militares russos, Putin disse que iria “começar pela nossa história recente, para entendermos onde estamos e por que estamos nessa situação”.

“Logo após o colapso da União Soviética, pensávamos que nos tornaríamos rapidamente membros da chamada família civilizada das nações europeias, a família civilizada ocidental em geral. Hoje, descobrimos que não há civilização nenhuma ali, apenas completa degradação, mas não importa. Naquela época, parecia uma coisa boa, e que nos tornaríamos uma parte plena e igualitária dessa família.”

“Nada disso aconteceu, entende? Nada disso; não nos tornamos uma parte igualitária dessa família”, ele ressaltou. “Não, pelo contrário, a Rússia continuou a ser pressionada por todos os lados e, além disso, cada vez mais.”

“Quase tudo o que dizia respeito à Rússia era decidido a partir de uma posição de força. Elogiavam-na, convidavam-na para vários eventos, mas o Ocidente prosseguia os seus interesses na Rússia pela força, inclusive pela força armada.”

“O apoio ao separatismo e ao terrorismo foi claramente demonstrado e implementado por meios armados: os terroristas receberam armas e dinheiro, além de apoio político e informativo em toda a região. Restrições econômicas também foram incluídas — afinal, isso também é uma forma de pressão coercitiva, e de um tipo muito diferente.”

“Lembro-me muito bem. Quando dissemos: ‘Claro, temos a obrigação de proteger nosso país do terrorismo’, eles nos responderam: ‘Não, façam o que quiserem, mas não podem fazer isso, não podem fazer aquilo, não têm permissão para fazer isso, senão não conseguirão empréstimos nem receberão tratamento preferencial’. Pressão direta e coercitiva sobre a economia, restrições.”

“Ferramentas destrutivas também foram usadas para influenciar a política interna da Rússia, para desestabilizar a Rússia por dentro — de forma puramente deliberada. Assim como vemos em alguns outros países, ferramentas foram criadas e usadas para desestabilizar a situação política interna.”

CARTA DA ONU IGNORADA

“E, claro, nada do que havia sido criado no período pós-II Guerra funcionava mais. Tudo começou a se deteriorar muito rapidamente, todas as regras e a Carta da ONU foram ignoradas.”

“Os eventos na Iugoslávia — o que é isso? Onde está a Carta da ONU, o uso da força? Já falamos sobre isso muitas vezes, mas é um fato: eles simplesmente faziam o que achavam necessário. Se conseguissem forçar uma votação — ótimo; se não, não se importavam. O uso direto da força armada. E, no fim, eles destruíram a Iugoslávia e destruíram os sérvios — dividiram um único povo em diferentes instâncias governamentais, e foi isso.”

Em última análise — acrescentou Putin — “ainda nos dizem: vocês não têm o direito de obrigar ninguém a resolver seus problemas de segurança da maneira que vocês querem, nem de privá-los do direito de fazê-lo da maneira que desejam”.

NEM UM CENTÍMETRO A LESTE

“Não estamos privando ninguém de nenhum direito. Simplesmente insistimos em que sejam cumpridas as promessas que nos foram feitas. Foi declarado publicamente que não haveria expansão da OTAN para o leste. E daí? Eles não se importaram, e uma onda de expansão seguiu a outra. Não estamos exigindo nada de especial, repito, insistimos em que se cumpra as promessas que nos foram feitas.”

“Creio que todos nesta sala compreendem que os acordos com a União Soviética eram uma coisa, mas com a Rússia moderna, após o colapso da União Soviética, ignoraram completamente todos os nossos interesses.”

“No fim das contas, tudo se resumiu a um golpe de Estado na Ucrânia”, sublinhou Putin. “Que tipo de democracia é essa, a que nos dizem que existe há décadas? Um simples golpe armado. Se tivessem ido às urnas, como já disse centenas de vezes, teriam vencido as eleições; nada os impedia; teriam vencido com certeza. Não, eles simplesmente demonstraram sua força, e só isso.”

“E então começaram a reprimir as regiões do sudeste, pela força, praticamente desencadeando uma guerra. Não fomos nós que começamos a guerra em 2022; foram as forças destrutivas na Ucrânia, apoiadas pelo Ocidente — em essência, o próprio Ocidente desencadeou esta guerra.”

PÔR FIM À GUERRA

“Estamos apenas tentando pôr fim à guerra, impedi-la”, enfatizou o presidente russo. “Inicialmente, tentamos meios pacíficos, por meio de negociações em Minsk, como vocês se lembram, mas depois fomos forçados a incluir um componente militar porque percebemos que estávamos sendo enganados.”

“Sem qualquer constrangimento, altos funcionários declararam publicamente que não tinham intenção de implementar nada, apenas de fazer uma pausa para equipar as forças armadas ucranianas com armas e equipamentos”, se referindo às confissões espontâneas da premiê Merkel e do presidente Hollande.

“Eles iniciaram deliberadamente operações militares lá — estou certo de que levaram deliberadamente à guerra.”

“O presidente Trump diz que, se ele fosse presidente naquela época, nada disso teria acontecido. Talvez seja verdade. Porque o governo anterior levou deliberadamente a situação ao conflito armado.”

“E acho que está claro o porquê. Todos acreditavam que iriam destruir e desmantelar a Rússia em pouco tempo, e os “leitõezinhos europeus” imediatamente se juntaram aos esforços do governo americano anterior, na esperança de lucrar com o colapso do nosso país: recuperar algo perdido em períodos históricos anteriores e tentar se vingar.”

FRACASSARAM

“Como agora ficou óbvio para todos, essas tentativas, todos esses planos destrutivos em relação à Rússia, fracassaram completamente. A Rússia demonstrou resiliência na economia, nas finanças, na política interna e na sociedade, e, finalmente, em sua capacidade de defesa. Sim, ainda temos muitas perguntas e problemas nessa área.”

“E, no entanto, nossas Forças Armadas se tornaram completamente diferentes, completamente diferentes. E o mais importante que aconteceu durante a operação militar especial foi que a Rússia recuperou seu status de plena soberania. Recuperamos esse status, em grande parte, graças à sua participação, à participação das Forças Armadas. Nosso exército se tornou completamente diferente. Isso se aplica ao comando das tropas, às táticas, à estratégia, aos equipamentos e às operações e ao trabalho do complexo industrial de defesa. Isso se aplica estrategicamente: nosso escudo nuclear é mais moderno do que o componente nuclear de qualquer potência nuclear oficial.”

INICIATIVA ESTRATÉGICA NA LINHA DE FRENTE

Putin também destacou como o exército russo conquistou e mantém firmemente a iniciativa estratégica ao longo de toda a linha de frente no Donbass. “Este ano, mais de 300 assentamentos já foram libertados, incluindo grandes cidades que o inimigo havia transformado em fortalezas entrincheiradas, repletas de fortificações permanentes. Elas se mostraram impotentes diante da coragem e da habilidade militar de nossos soldados.”

Os objetivos da operação militar especial serão, sem dúvida, alcançados. Preferimos fazê-lo e abordar as causas profundas do conflito por meio da diplomacia. Se o lado oposto e seus patrocinadores estrangeiros se recusarem a participar de discussões substanciais, a Rússia conquistará a libertação de seus territórios históricos por meios militares.”

“Sim, as forças armadas ucranianas estão passando pelo crisol da ação militar, mas infelizmente para elas, assim como o Estado ucraniano está se desintegrando, como evidenciado pelos “banheiros de ouro”, as forças armadas também estão se deteriorando. Isso é comprovado pelo crescente número de desertores: mais de 100.000 processos criminais por deserção foram abertos somente na Ucrânia, e o número total de desertores chega às centenas de milhares. Este é um sinal claro de degradação.”

PARA UMA PAZ DURADOURA

Sobre as perspectivas de alcançar uma paz justa de duradoura, Putin observou que “a verdade é que a Rússia sempre se esforçou, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, até o fim, enquanto houvesse a mínima chance, para encontrar soluções diplomáticas para as contradições e os conflitos.”

E – apontou – a responsabilidade pelo fracasso em aproveitar essas oportunidades recai “inteiramente sobre aqueles que acreditaram que poderiam falar conosco pela força.”

“Continuamos a defender a construção de uma cooperação mutuamente benéfica e equitativa com os Estados Unidos e os países europeus, bem como a criação de um sistema de segurança unificado em toda a região da Eurásia”, destacou Putin, saudando “os progressos alcançados no nosso diálogo com a nova administração dos EUA.”

HISTERIA EM BRUXELAS, PARIS, LONDRES E BERLIM

Infelizmente, ele acrescentou, o mesmo não se pode dizer da atual liderança da maioria dos países europeus. “Na Europa, o medo de um inevitável confronto com a Rússia está sendo martelado na cabeça das pessoas: dizem que precisam se preparar para uma grande guerra” e aumenta cada vez mais “o nível de histeria”.

“Já disse repetidamente: isso é mentira, um absurdo, um completo disparate sobre uma suposta ameaça russa aos países europeus. Mas isso está sendo feito de forma bastante deliberada.”

“Apesar disso, sempre dissemos, e quero reiterar: nós, como antes, estamos prontos para negociar e resolver pacificamente todos os problemas que surgiram nos últimos anos. O governo dos Estados Unidos demonstrou essa disposição; estamos em diálogo com eles. Espero que o mesmo aconteça na Europa. É improvável que isso seja possível com as atuais elites políticas, mas, em todo caso, será inevitável à medida que continuarmos a nos fortalecer, se não com os políticos atuais, então com uma mudança nas elites políticas na Europa.”

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