Meirelles é elo de ligação das quadrilhas
Corruptos testam a paciência do povo usando a Câmara dos Deputados para atacar ação da Justiça e Polícia Federal
A CPI Mista da JBS excluiu a convocação de políticos para depor – inclusive Geddel, Lula e Cunha. Foi excluída, também, a convocação de Henrique Meirelles, presidente do Conselho de Administração da JBS quando esta distribuía propina para três presidentes, ministros, deputados, senadores e partidos governistas. Por pacto entre o PMDB e o PT, a CPI irá investigar a equipe do ex-procurador Rodrigo Janot. Ao invés de investigar os que receberam propina da JBS para que esta assaltasse o dinheiro do povo, PT e PMDB pretendem atacar aqueles que investigaram e denunciaram os ladrões. Segundo o deputado Marun (PMDB-MS), assecla de Cunha e Temer – e relator da CPI – o que une os dois partidos é a “afinidade de objetivos”. Aproveitando essa “afinidade”, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) reivindica para seu partido a vice-presidência da CPI.
PT e quadrilha de Temer na CPI da JBS agem contra Lava Jato
Foco da CPMI não é investigar os crimes da JBS, mas colocar os procuradores que denunciaram os crimes nos bancos dos réus
O PMDB e o PT consumaram acordo, na CPI Mista da JBS, para acobertar Temer, Lula e demais corruptos que abrigam em suas organizações criminosas – quer dizer, em suas siglas, e nas de seus satélites.
O pacto do PMDB e do PT na CPI da JBS, segundo o deputado Marun (PMDB-MS) – que, de tropa de choque do malsinado Cunha, se tornou tropa de choque do malsinado Temer (e relator da CPI) – é devido à “afinidade de objetivos” dessas quadrilhas, isto é, desses partidos.
A “afinidade” peto-peemedebista está em impedir que se investigue – e até mesmo que sejam convocados a depor na CPI – todos os subornados pela JBS e em perseguir a equipe do ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, que fez a denúncia contra os corruptos do esquema, inclusive contra Temer.
Trata-se de acusar àqueles que denunciaram os ladrões. Ou, para ser exato, transformar os ladrões em acusadores dos acusadores – e estes em supostos réus na CPI.
Por conta desse pacto, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) reivindicou para o seu partido a vice-presidência da CPI.
O CASO
O caso da JBS é, provavelmente, um escândalo ainda maior que o da Odebrecht – e, aqui, não se trata de uma competição de quem subornou mais, de quem passou mais dinheiro para os corruptos. Nem mesmo de quem causou o maior dano ao país.
O escândalo, aqui, é a falta de pudor. Transformar uma grande construtora em um monopólio financeiro antissocial parece escandalizar menos do que transformar um matadouro em um truste – com dinheiro do Tesouro e dos trabalhadores, isto é, do BNDES – em apenas sete anos (2007-2014).
Que empresa teve como principal executivo o presidente do Banco Central de Lula e ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles, enquanto distribuía pelo menos R$ 500 milhões em propina a três presidentes, ministros, deputados, senadores, partidos governistas – ao mesmo tempo que esfolava o povo com um monopólio da carne bovina que remeteu os preços para o espaço?
Só a JBS.
A que empresa, ou grupo empresarial, algum governo forneceu R$ 5,64 bilhões de graça – ou seja, comprando ações, como fez o governo do PT, e não por empréstimos – em apenas três anos (2007-2009)?
Somente à JBS.
Que grupo empresarial ou empresa dispendeu, somente em doações eleitorais oficialmente declaradas, a quantia de R$ 361.741.374,50 (361 milhões, 741 mil, 374 reais e 50 centavos) na eleição de 2014?
Apenas a JBS.
Que empresa bancou a eleição de 167 deputados federais, 28 senadores e 179 deputados estaduais?
Outra vez, a JBS.
O RASTRO
A pretensão de todo ladrão – aliás, de todo criminoso – é acusar a polícia, o Ministério Público e a Justiça de estar, injustamente, perseguindo-o. Simplesmente porque todo criminoso quer cometer impunemente os seus crimes. Logo, se a polícia, os procuradores e promotores, e a Justiça, se opõem a isso, é porque o estão perseguindo.
Não é assim que Temer, Lula & outros se comportam? Não é isso o que eles falam? Tudo perseguição.
Porém, disseram alguns assessores palacianos, a CPI da JBS tem – ou deve ter, para eles – o objetivo de atacar a denúncia e as investigações promovidas por Janot e sua equipe contra Temer.
Para isso não precisam de provas, até porque não têm nenhuma. Como diz o novo advogado de Temer: “tudo o que veio do ex-procurador-geral não merece crédito, não tem credibilidade”.
Por quê? Como pode alguma coisa não ter credibilidade apenas porque vem de Janot, sem nenhum exame de seu conteúdo?
Exatamente porque a questão, para eles, é evitar, desesperadamente, qualquer exame do conteúdo das denúncias, mais precisamente, das provas.
Como as provas existem – e eles não têm como contestá-las – querem pegar alguns problemas na forma como foram conduzidas as investigações, problemas que o próprio procurador Janot revelou com admirável honestidade, para tentar desmoralizar, através da difamação, o homem que revelou as provas.
EXCLUSÕES
Examinemos, outra vez, a CPI da JBS.
Até a última terça-feira a CPI votara 229 pedidos. Foram aprovadas 53 convocações para depoimentos – nenhuma delas era para Lula, Geddel, Dilma, Cunha ou qualquer outro prócer do gangsterismo político que tenha aparecido no processo da JBS. Os pedidos de convocação desses últimos foram excluídos da pauta de votação da CPI pelo pacto PMDB-PT.
Convidado a depor foi o procurador Janot – com a ameaça, do presidente da CPI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), de que quem não atender ao “convite” será “convocado”.
O procurador Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Janot, foi “convocado”, assim como os delegados da Polícia Federal que chefiaram as operações Bullish, Greenfeld, Sepsis, Cui Bono, Carne Fraca e Tendão de Aquiles.
Foi incluído na pauta um requerimento para que a PF “compartilhe com a CPI os dados sob sigilo da Operação Lava Jato e da Operação Bullish”.
Disse o civilizado deputado Marun que o objetivo “é justamente investigar as circunstâncias em que foram celebrados os acordos de delação premiada e de leniência com o grupo JBS”.
Ou seja, a CPI não é para investigar a ação da JBS e dos que ela subornou, mas a ação dos procuradores para que as provas contra Temer, e o resto da oligarquia política, aparecessem.
Além dos donos da JBS, foram convocados os seus executivos.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protestou: “mais de 60% dos requerimentos se referem à convocação de membros do Ministério Público e espero que esta CPMI não seja comandada pelo Palácio do Planalto”, assim como o deputado João Gualberto (PSDB-BA): “não convidar os políticos, como fez a CPI da Petrobrás, não pode acontecer. Não é possível aprovar esse plano de trabalho apenas para criminalizar o Ministério Público, sem convocar políticos”.
O senador Randolfe denunciou a exclusão da pauta de votação da CPI de requerimento de convocação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que era presidente do Conselho de Administração da JBS, durante o tempo em que se perpetraram os crimes.
Além de requerimentos relativos a Meirelles, ficaram de fora da pauta pedidos de convocação do ex-presidente Lula, da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
CARLOS LOPES