Por mais que pareça surreal, no final de julho, durante as comemorações de aniversário de 13 anos de criação do Batalhão de Polícia Tática (BPOT), do Pará, os policiais não tiveram a menor cerimônia em fazer apologia aberta e pública da pena de morte por decapitação na frente do governador Helder Barbalho (MDB).
“Arranca a cabeça e deixa pendurada. É a Rotam patrulhando a noite inteira. Pena de morte à moda brasileira”, gritavam os soldados. E os gritos entoados eram ouvidos pelas autoridades presentes como se nada estivesse acontecendo. Até hoje o governador não explicou o que significou aquilo.
O evento ocorreu dois dias depois que um massacre no presídio de Altamira (830 km a sudoeste) ter deixado 58 mortos, dos quais 16 decapitados, em meio a uma disputa entre facções rivais. Outros quatro morreram durante a transferência para Belém, dentro de um caminhão.
Alguns comandantes puxavam e os soldados repetiam a pregação da pena de morte com “cabeças penduradas”, apesar desse tipo penal ser proibido no Brasil. Podem dizer que era só uma canção, como tentou se explicar depois, em nota, o comando da PM, mas o fato é que com a cínica apologia, eles passaram por cima da Lei, das autoridades e de tudo o mais.
O Inciso 47 do Artigo 5º da Constituição Federal do Brasil é claro sobre isso. Inclusive, o Código Penal Brasileiro no Artigo 286, prevê punição de três a seis meses a quem “Incitar, publicamente, a prática de crime”, como se pode ver no vídeo abaixo, da PM paraense. Não há respeito às leis e, pelas imagens, há também uma conivência inaceitável por parte de autoridades.
Esse tipo de comportamento vem sendo estimulado pela máxima de Bolsonaro de que “bandido bom é bandido morto”. Desde que, é claro, o “bandido em questão” não seja próximo de si ou de seus familiares.
Cidadãos, considerados “de bem”, como Queiroz, o “fazedor de rolo”, ou o ex-capitão da PM, Adriano Nóbrega, miliciano, assassino de aluguel e fugitivo da polícia, homenageado pelo filho, Flávio, com a Medalha Tiradentes, merecem um tratamento diferenciado. Os demais “bandidos”, podem fuzilar e decepar à vontade.
Os psicopatas incrustados nas forças policiais, assim como milicianos rurais e desmatadores de aluguel, que tocaram fogo na floresta amazônica, se sentem muito à vontade com as aberrações que emanam de Bolsonaro e de seu entorno. Podem fuzilar, derrubar florestas, roubar madeira à vontade, cortar cabeças e anunciar aos quatro cantos, até a governadores, porque é isso o que o “mito” está incentivando com sua odienta pregação.
Assista ao vídeo
O caos na ordem social.