A Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) divulgou nesta segunda-feira (10) os dados completos da pesquisa sobre o aumento da pobreza no Brasil. Na última edição havíamos publicados dados preliminares, mostrando que a pobreza extrema cresceu 33% nos últimos quatro anos.
Mais detalhado, agora o estudo – “Qual foi o impacto da crise sobre a pobreza e a distribuição de renda?”, realizado por Marcelo Neri – aponta como a pobreza cresceu desde então, mostrando um aumento abrupto nos primeiros anos da pesquisa, que vai de 2014 a 2017.
Segundo o estudo, a pobreza extrema – pessoas que recebem ate R$ 233 por mês – cresceu 33% nesse período, atingindo 23,3 milhões de pessoas. O acréscimo corresponde a mais 6,27 milhões de pessoas inseridas na pobreza.
O período mais crítico foi entre 2014 e 2015, quando a pobreza cresceu 19,3% (+3,6 milhões de novos pobres). Nesse período, a queda da renda atingiu todos os grupos sociais, principalmente os jovens, que tiveram um declínio de -20,51% para aqueles entre 15 e 19 anos e -12,49% para aqueles entre 20 e 24 anos.
Além desse grupo, os dados, conforme informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (PNADC), revelam severa queda de renda média do trabalho entre todos em idade ativa, não restrita somente aos ocupados.
“Entre o segundo trimestre de 2015 e de 2018, a perda de renda média acumulada é de 3,44%. Esta perda é mais forte entre os jovens (-20,1% entre 15 e 19 anos e -13,94% entre 20 e 24 anos), entre pessoas com ensino médio incompleto (-11,65%) e entre os responsáveis dos domicílios (-10,38%)”.
O estudo ressalta que a resposta para esse resultado “tanto para queda da renda média como para o aumento da desigualdade e consequentemente da pobreza foi o aumento do desemprego”.
O desemprego começou a acrescer em 2015 e a partir daí explodiu com o aprofundamento da crise no país, intensificada pelas políticas de “ajuste fiscal”, iniciada no governo Dilma e seguida à risca por Temer. O resultado foi a economia encolhendo, aumento do desemprego e do trabalho precário, do arrocho salarial e consequente aumento da miséria.
“A crise social que se manifesta no final de 2014, surge a partir de excessos e desvios de um caminho do meio onde o bolo de renda crescia com mais fermento entre os mais pobres. Apenas em 2015, a pobreza subiu 19,3%, com cerca de 3,6 milhões de novos pobres. Embora a desigualdade medida por métricas usuais, como o índice de Gini, não tenha aumentado em 2015, a desigualdade relevante em termos de pobreza explodiu. Basta dizer que enquanto a média de renda caiu 7%, a renda dos 5% mais pobres caiu 14%. Resultado direto do congelamento nominal do Bolsa Família em 2015, quando as taxas de inflação e de desemprego atingiram os 2 dígitos”, afirma o estudo.
“A pobreza voltou aos níveis do começo da década (2011). Portanto, esse período caracteriza-se como uma década perdida. Olhando para a desigualdade, o retrocesso não fica atrás. Desde 1989 o Brasil não experimentava mais de três anos de aumento consecutivo de desigualdade. A piora na performance social do Brasil também explica o mau desempenho econômico”, afirma o estudo.