
O torcedor do São Paulo que morreu no último domingo (24), após a final da Copa do Brasil no estádio do Morumbi, foi atingido na cabeça por uma “bean bag”, um tipo de munição utilizada pela Polícia Militar em substituição às balas de borrachas.
A causa da morte foi um traumatismo crânio-encefálico e um laudo preliminar confirmou que ele foi atingido pela “bean bag”, segundo a chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Ivalda Aleixo. A delegada diz que a munição é visível em imagens feitas do corpo. “Foi um tiro certo e a curta distância”, disse Aleixo.
Segundo a polícia, Rafael Garcia, de 32 anos, foi encontrado com um ferimento na cabeça durante confronto entre torcedores do clube paulista e a Polícia Militar, no final da tarde do domingo. Testemunhas afirmam que, durante a confusão, os polícias começaram a agredir os torcedores e não deixaram que fosse prestado socorro ao Rafael.
Rafael tinha deficiência auditiva e integrava a ala inclusiva “Surdos e Mudos tricolores” da torcida organizada Independente Tricolor. Ele foi enterrado na última terça (26).
A bean bag é um tipo de saco que encobre diversas esferas de metal. Uma imagem do caso mostra sacola semelhante a essa munição, cheia de sangue e com as esferas de metal dentro. O objeto estava em um saco plástico transparente, como se estivesse sendo preservado para perícia.
Ao ser atingido, conforme um documento assinado por um médico legista, Garcia estava com um boné na cabeça, que foi perfurado. O torcedor foi encontrado desacordado por policiais militares logo após uma confusão nas imediações do estádio Cícero Pompeu de Toledo.
A Polícia Civil agora investiga de onde partiu o disparo e quem foi o autor. Segundo Ivalda, foram coletados outras três munições do tipo bean bag nos arredores do estádio, além de pedaços de madeira e garrafas de vidro.
Investigadores devem procurar registros do disparo nas imagens de câmeras de segurança, e compará-las com imagens feitas com drones da polícia na última terça-feira. A primeira testemunha a ser ouvida será a mãe da vítima.
A delegada quer entender qual era o nível de surdez e de autonomia de Garcia, e se ele costumava ir a estádios e a eventos eventos sozinho, por exemplo.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP), por meio de nota, confirmou que bean bags foram usados durante a ação de PMs para conter o tumulto com torcedores.
“Na ocasião, os policiais militares realizaram ações de controle de multidão com uso de munições de menor potencial ofensivo como bean bags, elastômero e jatos de água”, disse a secretaria.
Um inquérito policial militar foi aberto pela PM para investigar o caso. pele apura rigorosamente toda a ação ocorrida no último domingo. “Qualquer excesso por parte dos policiais que eventualmente seja identificado, será devidamente investigado e responsabilizado”, disse a secretaria.
BEAN BAG
Três “bean bags” foram encontrados perto do Estádio do Morumbi e apreendidos pela perícia.
“Beans bags”, ou “sacos de feijão”, são pequenas esferas de chumbo envoltas por plástico que ficam dentro de sacos de tecido sintético. Os saquinhos são acondicionadas em cartuchos e disparados por armas de fogo. Após o tiro, são lançados para atingir o alvo.
A munição foi adotada pela PM de São Paulo em 2021, e tem substituído de forma gradativa as balas de borracha na contenção de distúrbios urbanos. Ambos são considerados munições menos letais, mas o elastômero tem sido abandonado aos poucos devido a falhas técnicas, segundo a corporação informou anteriormente.
A Ouvidoria das Polícias de São Paulo solicitou acesso às câmeras corporais usadas pelos agentes da Polícia Militar que atuaram nos arredores do Estádio do Morumbi. O órgão abriu um procedimento para acompanhar a apuração da morte.
Em nota, a SSP informou, entretanto, que os policiais da Cavalaria e do 2º Batalhão de Choque não são contemplados com o equipamento.