A Polícia Civil do Rio de Janeiro realizou uma operação para cumprir 74 mandados de prisão contra o grupo de milicianos do ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica. Desde a manhã desta quinta-feira, policiais realizaram buscas diversos pontos da capital fluminense, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Rio. Dentre os alvos estão dois policias militares e dois ex-PMs.
A operação acabou com 42 mandados de prisão cumpridos (17 novas prisões e 25 contra pessoas que já estavam presas). Um dos mandados foi contra o próprio Orlando Curicica, que está preso desde outubro de 2017. Em junho do ano passado, ele transferido do Rio para um presídio federal em Mossoró (no Rio Grande do Norte).
Na Operação Salvator, como foi batizada, os agentes também cumpriram 93 mandados de busca e apreensão. O bando é acusado de tráfico de drogas, venda de “segurança” para moradores e comerciantes que aterrorizavam, além do controle de imóveis há cerca de um ano e meio, na região de Itaboraí, garantindo lucro mensal de R$ 500 mil.
O principal alvo da ação, o sargento da PM Fábio Nascimento de Souza, conhecido como China foi preso nesta quinta. Lotado na UPP Borel, o agente foi encontrado em casa, em Rio Bonito, e uma pistola calibre 380 que estava com ele foi apreendida.
O ex-PM Alexandre Louback Geminiani, o Playboy, um outro procurado nesta quinta, conseguiu fugir quando os policiais chegaram à casa dele, em Niterói. Ele, que também é uma das lideranças da milícia, pulou do seu apartamento no quarto andar e escapou. Uma mulher apontada como companheira dele foi detida no local.
O delegado Antônio Ricardo Nunes, chefe do Departamento Geral de Homicídio e Proteção à Pessoa (DGHPP), disse que “combater essas organizações criminosas resulta em melhorias significativas na redução da criminalidade, especialmente o número de homicídios no município”. Nunes afirmou também que “o DGHPP será implacável com esses criminosos”.
COMPERJ
Em Itaboraí, a milícia passou na extorsão de moradores e comerciantes e na exploração de gás, TV a cabo e moto-táxi, chegando inclusive a exigir o pagamento de taxas para empresas que prestavam serviços para o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj).
A polícia identificou que o grupo cobrava o transporte das empresas que levavam funcionários ao Comperj. Eles ainda atuavam na compra e venda de imóveis da região.
CHACINAS
Os milicianos estariam por trás de diversas mortes e desaparecimentos em Itaboraí. Em um primeiro momento, os desafetos do grupo eram mortos e seus corpos deixados à mostra. Por conta das diversas investigações da DHNSGI, o bando passou a matar e desaparecer com os corpos. Alguns milicianos se passavam por policiais civis para praticar os crimes.
“Uma das vítimas foi mutilada, tiraram o coração dela, chegaram a tirar a cabeça e isso demonstra que eles tinham um requinte de crueldade”, conta o delegado responsável pelas investigações, Gabriel Poiava Martins conta, sobre uma morte que aconteceu há cerca de três meses. “Alguns deles (dos milicianos) foram indiciados e presos também por crime de tortura”.
Dentre os procurados nesta quinta estão os autores da chacina que deixou 10 mortos no dia 20 de janeiro em Itaboraí e São Gonçalo.
RACHA
De acordo com investigações da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), a milícia chegou a Itaboraí há pelo menos um ano e meio. Sob o comando de Orlando Curicica, China e Renato Nascimentos dos Santos, o Natan ou Renatinho Problema, praticavam homicídios, torturas, extorsões, desaparecimento de pessoas e tinham um cemitérios clandestinos. Curicica oferecia armamento e “soldados” para eles e, em troca, recebia um percentual dos valores arrecadados no município.
Ao chegarem na região, o grupo passou a matar usuários de drogas, pessoas que praticavam pequenos roubos e até mesmo prender traficantes de outras comunidades. O objetivo era expandir o domínio.
No entanto, no ano passado, houve um racha entre China e Renatinho Problema, quando China deixou o grupo e delatou Renatinho Problema para a 82ª DP (Maricá). Problema foi preso, em dezembro passado, em Guapimirim, durante as investigações do caso Marielle Franco.
“A divisão aconteceu basicamente depois da prisão de um outro PM e provavelmente aconteceu por discordâncias de atuação entre eles; um querendo explorar alguma atividade econômica, ter uma certa tolerância com o tráfico, e o outro discordando dessa parte”, explica a titular da DHNSGI, a delegada Barbara Lomba.
Durante as investigações, que duraram um ano, a DHNSGI descobriu que Curicica colocou Renatinho Problema para expandir os negócios da quadrilha no município.