Protesto de aposentados e pensionistas em frente ao Congresso Nacional da Argentina foi novamente marcado pela repressão neofascista, que deixou 27 feridos e dois hospitalizados
Polícia comandada por Bullrich usa, mais uma vez, cacetete e lança gás de pimenta nos olhos de aposentados e pensionistas para reprimir protesto e garantir o “superávit fiscal” do governo de Milei em favor de banqueiros e especuladores. Ataques coordenados das polícias federal e municipal de Buenos Aires deixaram um saldo de 27 feridos e dois hospitalizados.
Mesmo diante da criminosa repressão da semana passada, os idosos não se intimidaram e voltaram às ruas como em todas as quartas-feiras, em frente ao anexo da Câmara dos Deputados, só que desta vez mais numerosos.
Entidades como a Mesa Coordenadora Nacional de Aposentados e Pensionistas da República Argentina, a Reunião de Aposentados das Assembleias de Bairro e o Plenário de Trabalhadores Jubilados receberam o apoio de diversos movimentos políticos, sindicais e sociais na sua reivindicação, e fizeram ouvir bem alto a sua voz. Afinal, como assinalava uma faixa: “Somos todos aposentados, é só questão de tempo”.
“Não havia motivo para reprimir e a decisão de agredir fez parte do ataque aos movimentos populares”, avalia Marcos Wolman, dirigente da Mesa Coordenadora Nacional dos Aposentados. “Havia muitos milhares de pessoas a mais do que normalmente há, mas a polícia nem sequer permitiu que nos movêssemos. Estávamos dialogando com representantes de todas as organizações, como fazemos todas as quartas-feiras. Foi uma provocação da polícia”, sintetizou.
“Machucaram uma companheira nossa com gás pimenta nos olhos”, repudiou uma senhora, enquanto outra idosa perguntava a uma uniformizada: “Você vai dar os remédios para quem tem câncer?”.
E o protesto se faz necessário por ser uma questão de sobrevivência, já que “com o ajuste, os aposentados perderam como na guerra”, esclareceu o deputado Itai Hagman, da União pela Pátria (UxP), defendendo um reajuste conforme a inflação. Pois ao contrário do que propagandeia o governo, salientou, “os proventos vêm sendo achatados”.
“Não há nada mais cruel do que tirar o pão da boca dos nossos velhos e velhas”, asseverou a deputada Paula Penacca, da UxP, criticando o “viés autoritário” do governo ao vetar uma lei aprovada por ampla maioria em ambas as Casas (Câmara e Senado). “Estamos trabalhando dentro do Congresso para reunir os 172 votos necessários para reverter o veto, e fora, acompanhando a mobilização popular. Devemos chegar aos dois terços, temos 160 votos favoráveis da base. O que não precisa acontecer é que algum setor fraqueje e dê meia volta”, apontou.
Milei vetou nesta segunda-feira (2), o aumento de 8,1% da aposentadoria aprovado pela maioria do Congresso. Assinado com o referendo de todo o seu gabinete, o decreto publicado no Diário Oficial afirma que os gastos no aumento da aposentadoria e do salário mínimo excederiam as contas fiscais do governo nos gastos esperados para 2024, de 6 bilhões de pesos (R$ 35.386.650,00) e 2025, 15 bilhões de pesos (R$ 88.478.625,00). Mas, para a canalha neoliberal, tudo tem uma justificativa plausível: “É a primeira vez desde 2008 que seis meses consecutivos de superávit financeiro foram alcançados”.
Com a perseverança nesta linha, alertou um idoso com o seu cartaz erguido: “Sou aposentado e graças a Milei vou poder me dar ao luxo de ser indigente”.
CONTRA OS ATAQUE DO FMI E DO GOVERNO ENTREGUISTA
Líder da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Pablo Moyano conclamou a uma “forte” mobilização para “resistir” aos “ataques” do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do governo entreguista, que ataca o orçamento público para encher os cofres do parasitismo internacional. “Espero que possamos conscientizar os deputados e senadores que ainda têm alguma lucidez. Devemos rejeitar qualquer tentativa de obstruir o novo orçamento e continuaremos nas ruas para resistir aos ataques do FMI e deste governo lixo”, ressaltou.
O secretário-geral da CTA dos Trabalhadores, Hugo Yasky, frisou que a política econômica adotada nos últimos sete meses por Milei “elevou a indigência e a pobreza acima do registado durante a própria pandemia”. “Queremos viver em um país onde se respeitem os idosos, as crianças e os trabalhadores. Estamos em mãos de um presidente servil, forte contra os débeis e débil contra os fortes. Não vamos permitir que nos disciplinem com a política de fome e de repressão”, declarou.
O secretário-geral da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA-Autônoma), Hugo Godoy, ratificou o apoio histórico aos aposentados e pensionistas “porque são um exemplo de dignidade, de luta e de orientação para a rebelião popular que devemos alimentar para enfrentar este governo despótico”. Godoy repudiou a repressão e a desproporcionalidade da operação militar e sublinhou que o uso da violência visa “encher os bolsos dos grupos empresariais amigos do governo”.
“Nossa luta é contra Milei e seu governo neofascista, que não respeita os direitos humanos, especialmente os das crianças e dos idosos”, acrescentou a secretária de Bem-Estar Social da CTA de Buenos Aires, Alejandra Brillante.
A presidente do Centro de Aposentados da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE) Buenos Aires, Beatriz Mendoza, disse que o clima de violência “torna a situação ainda mais complicada, já que estamos sofrendo com a redução dos nossos proventos, o corte de medicamentos e serviços de saúde”. “É por decisão deste governo que não temos com que viver”, condenou.
Em entrevista ao jornal Página12 um aposentado esclareceu que “não está se mobilizando por ele, pois graças a Deus estou são, ainda tenho um prato de comida”. “Meu problema é o companheiro, vou às ruas pelo vizinho, pelo que está do lado, pelos que estão passando muito mal”, relatou com os olhos marejados.
Diante da intransigência do governo, as centrais sindicais convocaram uma nova manifestação “Contra o veto das aposentadorias por Milei” para a próxima quinta-feira (12).