Ao cercar sete fábricas de processamento de aves no Mississipi, com 650 agentes da Imigração, inclusive equipes fortemente armadas, e deter 680 supostos ilegais na quarta-feira (7), o regime Trump demonstrou que não vão ser dois ou três massacres de mexicanos por atiradores que insuflou em um fim de semana que o vão afastar da linha de campanha para reeleição xenófoba e racista do “send them back” (“enviem eles de volta”).
Foram capturados, segundo oficiais da Gestapo de Trump, todos os que não puderam comprovar que estavam legalmente nos EUA e que serão processados para deportação. Quase todos os detidos são latinos. Essas fábricas são de propriedade de duas grandes empresas de processamento de alimentos, a Koch Foods Inc e a Peco Foods, e se localizam em seis pequenas cidades no entorno de Jackson, a capital do estado.
Os trabalhadores foram algemados e embarcados em ônibus com destino à base da Guarda Nacional do Mississipi em Flowood, onde, conforme relatos da imprensa norte-americana, seriam amontoados em um hangar de aviões.
“Solte-os, solte-os ”, bradaram cerca de 70 familiares, amigos e outros residentes que testemunharam a detenção diante da fábrica da Koch em Monton. Só ali foram três ônibus lotados de candidatos à deportação.
Comparando o total de agentes envolvidos na incursão, 650, e os apreendidos, 680, dá quase uma razão de um para um. Tudo para reforçar a boca de urna de Trump à custa do sofrimento de 650 trabalhadores, que trabalham em um dos mais mal pagos, extenuantes e insalubres empregos: as fábricas de abate e processamento de frangos.
Em um ano, o número de investidas contra locais de trabalho executadas pelos agentes da imigração quadruplicou, de 1691 em 2017, para 6.848 em 2018. As detenções no local de trabalho tiveram um aumento de 650% desde 2016, segundo a revista Newsweek.
Indagado por repórteres sobre o que aconteceria com os trabalhadores que têm filhos nos Estados Unidos, o diretor interino da Imigração, Matthew Albence, candidamente explicou que as prisões levariam a separações familiares como parte do “funcionamento normal” do sistema de justiça criminal, e que o governo não buscava separar pais e filhos. Ele explicou que as crianças afetadas seriam colocadas com outros membros da família e, em casos excepcionais, os pais poderiam ser soltos com uso de tornozeleiras.
Em uma investida anterior no Tennessee, um dia depois que 100 trabalhadores foram detidos pela imigração, 500 crianças não foram à escola. O que dá uma ideia de como essas crianças são afetadas.
No condado de Scott, onde ficam Morton e a vizinha cidade de Sebastopol, o superintendente escolar Tony McGee relatou à imprensa que havia pais detidos desde alunos do jardim da infância até o ensino secundário. Ele acrescentou que os motoristas dos ônibus escolares haviam sido orientados a trazer as crianças de volta à escola se não houvesse ninguém em casa para recebê-las.
Antes de voar para El Paso, Trump se mostrou muito modesto quanto à eficácia das mensagens de ódio, racismo e xenofobia que dissemina pelas redes sociais, no estado de ânimo de certa escória da sociedade norte-americana. “Acho que minha retórica aproxima as pessoas… Nosso país está indo muito bem”. Apesar de toda a virulência de Trump, em matéria de deportação de imigrantes ainda vai ter de se esfalfar muito para superar o recordista Barack Obama que, simpático e sorridente, chegou a 400 mil em um ano – contra os 256 mil do presidente bilionário no ano passado.