
Munidos de veículos militares e de um helicóptero, policiais fortemente armados agrediram com cassetetes, dispararam balas de borracha e lançaram bombas com produtos químicos para impedir a solidariedade de manifestantes locais aos trabalhadores rurais. O mexicano Jaime Alanis, que trabalhou colhendo tomates por dez anos, foi morto na “operação”
Fronteiriço com o México, o sul da Califórnia voltou a ser palco nesta quinta-feira (10) de graves confrontos entre manifestantes solidários aos trabalhadores imigrantes e a Guarda Nacional dos Estados Unidos.
Foram duas “operações” dos policiais do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) de Trump: uma na fazenda Santa Bárbara e outra na comunidade de Camarillo, próximo a Los Angeles. Nesta última, ao serem recebidos com um protesto de solidariedade aos trabalhadores rurais, os guardas agrediram com cassetetes, dispararam balas de borracha e lançaram bombas de produtos químicos, como gás lacrimogêneo.
Além de matar o mexicano Jaime Alanis, que trabalhou colhendo tomates por dez anos, a guarda enviada por Trump abusou da truculência contra os manifestantes, prendeu 200 imigrantes e feriu dezenas. Quatro cidadãos estadunidenses também foram presos, acusados de “agredir ou resistir aos agentes”.
Veículos da Patrulha da Fronteira e da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA bloquearam a estrada nesta área predominantemente agrícola de Camarillo, ladeada por campos e estufas, com carros militares e um helicóptero acionados para executar as ordens do presidente Donald Trump.
A Glass House Farms – a fazenda de tomate, pepino e canabis invadida – doou milhares de dólares ao Partido Democrata, oponente dos Republicanos, que encontra-se atualmente à frente da Casa Branca. É legal cultivar e vender cannabis na Califórnia com a devida licença. Registros demostraram que a empresa estava com seus documentos regularizados e em dia.
Imagens de televisão mostraram manifestantes reunidos numa estrada onde policiais uniformizados formavam uma fila. Logo depois, imagens comprovaram a crueldade da perseguição, com agentes federais camuflados, usando capacetes e máscaras de gás.
As cenas divulgadas mostram a violência do acosso e muitas pessoas sentadas contra uma parede com as mãos amarradas.
GOVERNADOR CONDENA TRUMP: “A VERDADEIRA ESCÓRIA”
Condenando a barbárie, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, partilhou na quinta-feira um vídeo da estação de televisão KTLA mostrando meninos e meninas tentando escapar das bombas disparadas pelos agentes federais. “Crianças fugindo de gás lacrimogêneo, chorando no telefone porque a mãe acabou de ser levada dos campos. Trump chama-me ‘Newscum’ – mas ele é que é a verdadeira escória”, disse Newsom.
O membro da Câmara dos Representantes, Salud Carbajal, também prestou solidariedade aos manifestantes e denunciou que como Democrata lhe foi negado o acesso ao local do confronto. Carbajal acusou os agentes federais de “visarem trabalhadores agrícolas”. “Os agentes estavam gerando medo, ansiedade e intimidação. Eles estavam vestidos com uniformes e roupas militares e portavam armas de nível militar. Estavam simplesmente criando uma situação insustentável e incendiária”, acrescentou.
A direção da Glass Gouse Farms, que recebeu a visita de agentes do Serviço de Imigração e Alfândega na quinta-feira, disse ter cumprido “integralmente os mandados de busca dos agentes”.
Na sexta-feira (11), dezenas de pessoas esperavam do lado de fora da fazenda Camarillo para recolher os automóveis de seus parentes e conversar com os administradores sobre o ocorrido.
Familiares de Jaime Alanis informaram que ele ligou para a esposa no México durante a operação para avisá-la que os agentes de imigração haviam chegado e que ele estava escondido com outras pessoas dentro da fazenda.
PESCOÇO QUEBRADO E CRÂNIO FRATURADO
“Quando soubemos, ele estava no hospital”, disse Juan Durán, cunhado de Alanis, com a voz embargada. De acordo com o divulgado pela repressão, “o imigrante caiu do telhado”. Alanis teve o pescoço quebrado, o crânio fraturado e uma artéria que bombeia o sangue para o cérebro rompida, disse sua sobrinha Yesenia, que não quis revelar seu sobrenome por medo de retaliação. “Nos disseram que ele não sobreviveria e que deveríamos dizer adeus”, lamentou Yesenia, chorando. A direção do hospital não quis se manifestar.
María Servín, de 68 anos, declarou que seu filho, Rafael Ortiz, trabalhava na fazenda há 18 anos e estava construindo uma estufa quando os agentes chegaram. Servín conversou com o filho, que é indocumentado, após saber da investida do governo e se ofereceu para buscá-lo. “Ele me disse para não vir porque estavam cercados e havia até um helicóptero. Foi a última vez que falei com ele”, relatou Servín, cidadã americana naturalizada.
Apesar do clima de terror dominante, a senhora foi à fazenda na quinta-feira, mas como os agentes estavam disparando, María Servín avaliou que era impossível ficar. A senhora e a filha retornaram na sexta, quando foram informadas de que o filho havia sido preso. Elas ainda não sabem para onde foi levado.
PAISAGISTA HONDURENHO É PRESO
Na busca para deter um paisagista hondurenho, agentes federais de imigração o perseguiram até um centro cirúrgico no sul da Califórnia e se viram em um dilema, pois a equipe da clínica exigiu a apresentação de um documento de identificação e um mandado. O profissional acabou sendo preso.
O incidente ocorre em um momento em que o governo dos EUA intensifica as prisões no sul da Califórnia, indo a lava-rápidos, fazendas e estacionamentos para prender trabalhadores estrangeiros, enquanto alimentam o medo generalizado entre as comunidades de imigrantes.
Após enviar a Guarda Nacional para fortalecer a ação dos agentes que realizaram as invasões, o governo Trump determinou que uma grande caravana fosse encaminhada com armas e cavalos a um parque em Los Angeles.