
A Polícia Civil de Santa Catarina prendeu seis suspeitos de neonazismo na última quinta-feira (20). Conforme a investigação, a célula tinha ramificações nos municípios catarinenses de Florianópolis e São José.
Segundo a polícia, a investigação teve início ainda no mês de abril, quando um primeiro membro do grupo foi detido por tráfico de drogas. As informações foram divulgadas pelo “Fantástico”, da TV Globo, que acompanhou a operação.
De acordo com s Polícia Federal (PF), os indivíduos diziam ser a “nova SS de Santa Catarina” e idolatravam esse grupo nazista. A SS era considerada o esquadrão mais leal a Adolf Hitler.
Entre os presos, três estudantes universitários e um auxiliar de escritório, que vinham sendo monitorado por meses nas redes sociais. No espaço virtual, o bando publicava vídeos e imagens com alusões nazistas e trocavam mensagens racistas e xenófobas. Em uma das publicações, eles falam em alemão, mostram uma bandeira nazista e disparam tiros.
Um dos suspeitos foi detido na casa em que morava com a mãe e com as irmãs mais novas. Ele participava de um grupo nomeado “Aniversário do Fuher”, em referência a Adolf Hitler. Em uma das conversas interceptadas pela polícia, um dos comparsas fala: “Vamos matar ‘mendigo’ amanhã” ao que o outro suspeito responde “Todos os mendigos negros nordestinos deveriam ser fuzilados”.
Outro integrante da célula nazista, também preso, disse ter “fixação estética” pela SS, milícia que administrou os campos de concentração na segunda guerra, e, por isso, tinha um colete com a inscrição.
Em agosto de 2020, em outro local, desconhecido, um homem ajusta uma televisão antiga, e o outro arruma um adesivo no centro da tela. É um símbolo neonazista, uma caricatura criada para atacar os judeus.
“O que a gente tem procurado são aqueles indivíduos que trazem maior perigo para a sociedade e se estruturam de uma forma mais organizada”, afirmou o delegado Arthur Lopes, da Polícia Civil de Santa Catarina, em entrevista à Globo.
“Nesses encontros, eles se diziam ser a nova SS de Santa Catarina. Realmente idolatravam esse grupo da época do nazismo”, diz um delegado da Polícia Federal.
O grupo era investigado por associação criminosa armada, fabricação de arma de fogo e divulgação do nazismo. Na casa de um deles, uma impressora 3D que, segundo a polícia, era usada para fabricar partes de armas de fogo, foi apreendida.
Os indivíduos não tiveram as identidades divulgadas, segundo a polícia, “para não atrapalhar as investigações”. Após a prisão, os covardes negaram os planos de ataque, falaram que as mensagens de ódio eram “brincadeiras” e não tinham intenção neonazista.
AUMENTO DAS CÉLULAS NAZISTAS
Um relatório inédito feito pelo Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil mostra que as ocorrências de episódios neonazistas no país praticamente têm dobrado a cada ano sob o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Desde 2019, a entidade identificou 114 eventos desse tipo. Naquele ano, foram contabilizadas cerca de 12 ocorrências neonazistas; no ano seguinte foram identificadas 21 delas, em 2021, 49, e, no primeiro semestre deste ano, 32. Os autores do levantamento acreditam que não é esperada uma tendência de queda até o fim de 2022, algo que se confirma na prática com mais essa prisão.
“Esse crescimento sinaliza a gravidade de um processo que, em nosso país, atinge sobretudo os grupos que historicamente sofrem racismo estrutural. Na Alemanha nazista, o foco principal foram os judeus. No Brasil, as vítimas são os povos indígenas e afrodescendentes”, diz o estudo. O levantamento se baseou em notícias divulgadas pela imprensa e de ocorrências em redes sociais.
De acordo com a Lei 7.716/1989 é crime “praticar, induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A pena é de reclusão de um mês a três anos e multa — ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meio de comunicação social.