Polícia desmonta fábrica clandestina que produzia bebidas com metanol ligado a mortes em SP

Foto: Polícia Civil

A Polícia Civil de São Paulo desarticulou nesta sexta-feira (10) uma fábrica clandestina em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, suspeita de produzir bebidas alcoólicas adulteradas com metanol – substância tóxica ligada à morte de pelo menos cinco pessoas no estado. A proprietária foi presa, e o marido dela é procurado pela polícia.

As investigações começaram após a morte de Ricardo Lopes, 54, e Marcos Antônio Jorge Júnior, 46, que consumiram drinks no Bar Torres, na Mooca, zona leste da capital, no dia 12 de setembro. O estabelecimento foi interditado pela Vigilância Sanitária, e laudos periciais detectaram metanol em oito das nove garrafas apreendidas no local – algumas com concentração de até 45,1% da substância venenosa.

Em nota publicada nas redes sociais, o Bar Torres afirmou que “todas as bebidas são originais, adquiridas apenas de fornecedores oficiais e com nota fiscal”. O caso, porém, expõe uma rede subterrânea de produção e distribuição de bebidas falsificadas que teria usado etanol adulterado com metanol comprado em postos de combustível.

CADEIA DO CRIME

De acordo com o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, a fábrica clandestina adquiria etanol com metanol de postos de gasolina – prática ilegal para produção de bebidas. Esse produto era misturado a destilados como vodca e uísque e depois vendido a distribuidoras que abasteciam bares.

“Esses criminosos foram, de certa forma, vítimas de outra organização criminosa que adulterou o combustível”, disse Derrite, referindo-se à possível origem do metanol, associado a esquemas de adulteração de combustíveis pelo crime organizado.

A Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto contra desvios de metanol e lavagem de dinheiro em postos pelo PCC, pode estar na origem do produto tóxico. Em alguns postos fiscalizados, o teor de metanol no combustível chegava a 90%, muito acima do permitido pela ANP (0,5%).

Na terça (7), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que a Polícia Federal investiga se o metanol usado nesses casos é o mesmo que teria sido abandonado após ação policial contra a infiltração do PCC em postos de combustível e no setor financeiro.

NÚMEROS DA CONTAMINAÇÃO

Até esta quinta-feira (9), a Secretaria de Estado da Saúde confirmou 23 casos de intoxicação por metanol e outras cinco mortes, além de 148 casos e seis óbitos em investigação. Duas outras mortes – de Marcelo Macedo Lombardi, 45, e Bruna Araújo de Souza, 30 – também são analisadas pela polícia quanto à possível relação com a mesma fábrica.

Segundo o superintendente da Polícia Técnico-Científica, Claudinei Salomão, das 300 garrafas já periciadas de um total de 1.800 apreendidas, cerca de metade tinha entre 10% e 45% de metanol. Em algumas, havia apenas metanol puro, sem álcool etílico.

OPERAÇÃO CARBONO OCULTO

No dia 28 de agosto, uma força-tarefa com 1.400 agentes cumpriu mandados de busca, apreensão e prisão em empresas do setor de combustíveis e do mercado financeiro que têm atuação nesse segmento e são utilizadas pelo PCC. A meta era desarticular a infiltração do crime organizado em negócios regulares da economia formal. A ação aconteceu em São Paulo e outros nove estados.

Parte do esquema investigado envolvia desvio de metanol e adulteração de combustíveis. A prática, além de ilegal, pode prejudicar seriamente alguns veículos, segundo especialistas. De acordo com informações que o promotor Yuri Fisberg, do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) disse à Folha na época, alguns postos fiscalizados como parte da investigação no estado de São Paulo tinham até 90% de metanol no combustível. O máximo definido pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) é 0,5%.

O metanol é um solvente industrial e matéria-prima da produção de formol, inflamável e tóxico, mas tem características de combustível.

Após os casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas, a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) divulgou uma nota em que alegava que o metanol usado pelo PCC para adulterar combustível pode ter sido revendido a destilarias clandestinas depois de ações da Carbono Oculto.

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