Segundo delegado que investiga o caso, grupo pode ser enquadrado por “atentado à segurança do serviço de utilidade pública, no caso, a imprensa; e associação criminosa”
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) abriu um inquérito para investigar o caso “Guardiões do Crivella” e pediu esclarecimentos ao prefeito do Rio de Janeiro e bispo licenciado da Igreja Universal Marcelo Crivella (Republicanos), sobre o caso revelado na última segunda-feira pela TV Globo.
Para o MP, o esquema montado pela equipe de Crivella para fazer plantão na porta dos hospitais municipais do Rio, atrapalhar coberturas jornalísticas e impedir que a população fale e denuncie problemas na área da Saúde, está envolvido em diversos crimes.
Dentre eles, ato de improbidade administrativa cometido por agentes públicos, como Crivella; atrapalhar livre manifestação de cidadãos e da imprensa, com ônus aos cofres públicos; indícios de violação ao direito constitucional à liberdade de imprensa; indício de violação ao direito à livre manifestação de pensamento; indício do uso de máquina pública para fins particulares.
O MP pediu ainda esclarecimentos ao prefeito Marcelo Crivella, incluindo se ele sabe ou participa do grupo ‘Guardiões do Crivella’, como afirmam integrantes.
OPERAÇÃO
A Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil do RJ que está responsável por investigar os Guardiões do Crivella espera ouvir, até a próxima sexta-feira (4), a Chefia de Gabinete do prefeito.
Nesta terça, a Polícia Civil fez uma operação para cumprir nove mandados de busca e apreensão, e apreendeu celulares, computadores e documentos e prestou depoimento, Marcos Luciano, o ML, assessor especial do gabinete do prefeito que seria o coordenador dos milicianos evangélicos que trabalham para Crivella.
“A simples análise do que foi exibido já permite que a gente conclua a existência de três crimes: o atentado à segurança do serviço de utilidade pública, no caso, a imprensa; a associação criminosa, tendo em vista que eles se organizaram para impedir o livre exercício do jornalista; e a advocacia administrativa, considerando que eram agentes públicos exercendo uma função que não era de interesse público”, disse o delegado William Pena Júnior.
Após o depoimento de Marcos Luciano a polícia concluiu que ele de fato estava lotado no gabinete do prefeito. “Agora vamos avançar. Com todo esse conteúdo que foi apreendido — notebooks, tablets e celulares -, vamos saber se ele era mesmo o líder ou se havia alguém acima dele. Para isso, vamos intimar a Chefia de Gabinete até sexta-feira. Queremos saber quais as funções desses agentes comissionados lotados ali”.
Ainda de acordo com o delegado, os integrantes dos grupos de WhatsApp serão intimados a prestar esclarecimentos na delegacia.
Testemunhas afirmaram à Policia Civil que os “Guardiões do Crivella” tinham medo das ameaças de Marcos Luciano e de Mariana Angélica Toledo Gonçalves, apontada como braço direito dele.
“É uma pessoa que manda muito. Aliás, é a que mais assusta, tá? Todo mundo tem medo da Mariana e do Marcos Luciano. Até porque todo tempo ameaça de demissão”, disse uma testemunha à TV Globo, que preferiu não ser identificada por medo de represálias.
Todos que tinham o papel de impedir a ação imprensa eram vigiados.
“E são monitorados o tempo todo. Inclusive no alto da Covid-19, as pessoas na porta de hospitais se expuseram muito, né? Se expuseram muito mesmo porque ficava na porta do hospital ali com medo. Tem que ficar”, explicou a testemunha.
O MP do Rio também recebeu um pedido do Ministério Público Federal (MPF) para que investigue se Crivella, que é candidato à reeleição, violou a legislação eleitoral ao articular com funcionários a milícia para coibir o trabalho da imprensa.
ASSOCIAÇÃO
Na tentativa de minar as denúncias feitas pela Globo que estão sendo apuradas pelo MP e a Polícia Civil, Crivella afirmou na noite desta terça-feira que a emissora atua como “partido político de oposição” e que “utiliza artifícios antidemocráticos para atender suas ambições”.
“No dia 6 de janeiro de 2020, entreguei ao presidente Bolsonaro uma denúncia de gravíssimos fatos praticados no fim do ano passado pelas Organizações Globo, que atuam como verdadeiro partido político de oposição, que disseminavam falsamente o caos na saúde e o pior, que o Hospital Albert Schwartz e o Pedro II estariam com atendimentos suspensos. Uma inacreditável fake news, porque esses hospitais nunca fecharam um minuto sequer”, diz ele, em vídeo publicado nas redes sociais. “Desde então, cidadãos comparecem às portas de unidades de saúde para esclarecer e orientar os usuários, evitando, assim, que alguém seja manipulado pelas falsas informações da Globo e corra o risco de morte”, prosseguiu o prefeito.
Crivella se defende dizendo ainda que o termo “Globolixo” não ocorre apenas nas portas dos hospitais. “Portanto, não cabe a mim a acusação de que seria responsável por esse constrangimento que a Rede Globo sofre durante as suas reportagens”.
Em sua publicação, o bispo não esclarece se ele tinha conhecimento dos grupos de Whatsapp, ou se o número de telefone na lista de participantes do “Guardiões do Crivella” com o nome Marcelo Crivella, é o seu.
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