A Polícia Federal sugeriu ao Ministério Público a abertura de uma segunda linha de investigação no caso do esquema de candidatas laranjas do PSL de Minas Gerais.
A ideia é que as investigações se concentrem, a partir de agora, especificamente nas contas de campanha do ministro do Turismo do governo Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio.
A sugestão de concentrar as investigações sobre os crimes do ministro veio logo após a PF ter entregue ao Ministério Público (MP) do estado relatório indiciando Álvaro Antônio no caso das candidatas laranjas.
O Ministério Público Eleitoral de Minas Gerais decidiu denunciar o ministro por crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita e associação criminosa, com pena de cinco, seis e três anos de cadeia, respectivamente.
ASSESSOR ENTREGA ESQUEMA
O indiciamento baseou-se no depoimento do assessor parlamentar do ministro, Haissander Souza de Paula. Ele afirmou à Polícia Federal, que “acha que parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”.
Haissander foi coordenador da campanha de Álvaro Antônio a deputado federal no Vale do Rio Doce (MG). Álvaro Antônio foi eleito e coordenou no estado a campanha presidencial de Bolsonaro. Uma planilha apreendida pela PF numa gráfica corrobora a versão de Haissander.
A planilha, nomeada como “MarceloAlvaro.xlsx”, mostra fornecimento de material eleitoral para a campanha de Bolsonaro com a expressão “out”, o que significa, de acordo com os investigadores, pagamento “por fora”.
BOLSONARO CHAMA VALEIXO
A decisão da PF de indiciar seu ministro fez Bolsonaro convocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, para uma reunião fora da agenda oficial.
A notícia do indiciamento, com envolvimento da campanha de Jair Bolsonaro, foi divulgada em manchete da Folha de S. Paulo no domingo (06) e o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, saiu em defesa de Bolsonaro. Em seu twitter, o ex-juiz deu a entender que estava a par de investigações que deveriam estar correndo em segredo de Justiça.
MORO SAI EM SOCORRO
“Bolsonaro fez a campanha presidencial mais barata da história. Manchete da Folha de São Paulo de hoje não reflete a realidade. Nem o delegado, nem o Ministério Público, que atuam com independência, viram algo contra o PR [presidente] neste inquérito de Minas. Estes são os fatos”, disse Moro.
Mesmo com a defesa de Moro, Bolsonaro passou a atacar e ameaçar a imprensa. Ele afirmou no domingo (6) que a Folha “avançou todos os limites” e desceu “às profundezas do esgoto” ao publicar a reportagem sobre o envolvimento de sua campanha com o esquema de caixa dois do ministro do Turismo. “Com mentiras, já habituais, conseguiram descer às profundezas do esgoto”, disse.
SECOM AMEAÇA BOICOTE DE ANÚNCIOS
Mais cedo, o chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) da Presidência, Fabio Wajngarten, usou suas redes sociais para criticar a reportagem e também atacar a Folha. O funcionário de Bolsnoaro sugeriu um boicote publicitário a órgãos que, no seu entender, veiculam “manchetes escandalosas”.
Para o líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), Moro, que é chefe da Polícia Federal, “atuou como advogado de defesa de Bolsonaro”. “Na lambança, tudo indica que expôs informações às quais nem deveria ter tido acesso, colecionando críticas na área jurídica. Cadê o combate à corrupção?”, questionou.
Já o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), disse que Bolsonaro usa a velha tática do batedor de carteira que grita “pega ladrão”. “Não diz uma palavra sobre a denúncia, mas ofende a mídia que não lhe é servil para distrair a platéia”, escreveu no Twitter.
QUEREM ME DERRUBAR?
Na manhã de segunda-feira (07), Bolsonaro voltou a destilar seu ódio contra a imprensa. Ele acusou-a de querer tirá-lo do poder e ressaltou que isso não irá ocorrer porque ele tem o “couro duro”. “Vocês (jornalistas) querem me derrubar? Eu tenho couro duro, vai ser difícil. Continuem mentindo”, afirmou, antes de encerrar a conversa com jornalistas.
Entidades protestaram contra as ameaças do presidente e do chefe da Secom. Em uma nota conjunta, divulgada no domingo, a Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas) e a ANJ (Associação Nacional de Jornais) disseram condenar a manifestação de Wajngarten com críticas à mídia. As entidades disseram também repudiar “a conclamação” feita pelo secretário aos anunciantes.
“A ANJ e a Aner lamentam ainda a visão distorcida do secretário sobre mídia técnica, o que é preocupante vindo de quem tem a responsabilidade de gerir recursos públicos de publicidade”, afirma a nota.
Em nota, o presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Daniel Bramatti, disse que “a gravíssima manifestação do funcionário do governo Bolsonaro se insere em um contexto de sistemáticos ataques ao jornalismo vindos do presidente e de seus aliados”.
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