Para impedir protesto pacífico, forças de ocupação fardadas e à paisana reprimiram com violência ativistas em Laayoune, reivindicada como capital da República Árabe Saarauí Democrática, mas ocupada pelo reinado marroquino
As forças de ocupação marroquinas reprimiram com violência nesta quinta-feira (11) manifestantes em Laayoune, na capital da República Árabe Saaraui Democrática (RASD), quando tentavam realizar um protesto em comemoração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos. Além de mulheres, crianças foram alvo da polícia.
Cumprindo ordens do reinado do Marrocos, mais uma vez homens fardados e à paisana espancaram ativistas que clamavam pacificamente nas rua Smara contra a “última colônia da África” e exigiam independência. A atividade foi organizada pelo Mecanismo de Coordenação para a Luta no Saara Ocidental.
A manifestação começou às 18 horas, com os participantes erguendo bandeiras nacionais saarauís e fotos de prisioneiros civis, juntamente com faixas e slogans condenando o recente acordo entre a Comissão Europeia e a ocupação marroquina, que inclui o Saara Ocidental, em clara violação do direito internacional e das decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia.
Durante a covarde intervenção, vários defensores dos direitos humanos saarauís foram agredidos, entre eles Fatimatu El Hirch, Sidi Mohamed Daddach, Mahfoudha Lefkir, Dafa Ahmed Babou, Mina Abaali, El Kouriya Saidi, Khadjtou Douih, Jamila El Moujahid e Soumia El Moujahid. Yehdiha Haimouda e Oum Saad Bourial foram detidas em um beco próximo ao local do protesto e espancadas.
Irmã de um dos presos pelos históricos protestos no acampamento de Gdeim Izik, em 2010, onde manifestantes foram assassinados e torturados pelos marroquinos, denunciou ter sido violentamente agredida na cabeça pela polícia e ter seu telefone destruído.
Além disso, as forças de ocupação perseguiram vários ativistas e os impediram de chegar ao local do protesto. Conforme alertaram, o aparato repressivo marroquino impôs, há dois dias, um cerco sufocante a vários bairros da cidade ocupada de Laayoune, além de intensificar a vigilância sobre as casas de diversos ativistas saarauís, “numa clara tentativa de impedir que expressassem suas justas reivindicações por dignidade, liberdade e independência”.
FRENTE POLISÁRIO REFORÇA A DENÚNCIA
Conforme o diplomata saarauí Ahmed Mulay Ali Hamadi, representante da Frente Polisário no Brasil, “os manifestantes estavam indo às ruas somente com suas bandeiras e cantos para alertar o mundo sobre o recorde de desaparecidos e presos políticos nos cárceres do Marrocos, quando ocorreu a brutal repressão”.
“Os saarauís queriam que se abrissem as fronteiras no Dia Internacional dos Direitos Humanos para que a imprensa pudesse ver com os seus próprios olhos, sem filtros, o que está se passando. Mas, em menos de dez minutos, todos passaram a ser alvo da violência policial, com aqueles que se encontravam à paisana fazendo ainda mais dano do que os fardados. Lamentavelmente, só pode entrar no Marrocos quem está alinhado com a ocupação”, frisou.
Infelizmente, reiterou Ahmed, “a imprensa europeia e internacional não tem uma visão própria do que está ocorrendo, com o reinado mantendo fechado o território ocupado a jornalistas, escritores e intelectuais que possam divergir e repercutir o que está realmente ocorrendo”.
OCUPAÇÃO MARROQUINA INICIOU EM 1975
O Marrocos ocupou o Saara Ocidental a partir do final de 1975, após a retirada da Espanha, com a famosa “Marcha Verde” em 6 de novembro, quando invadiu o território e pressionou por sua anexação. Consolidou seu controle sobre grande parte do território no início de 1976 e expandiu seu domínio após a saída da Mauritânia em 1979, num conflito que permanece até hoje.
Espanha, Marrocos e Mauritânia assinaram esses acordos, dividindo o Saara Ocidental entre Marrocos e Mauritânia e estabelecendo uma administração tripartite temporária. Após a saída final da Espanha em 28 de fevereiro de 1976, Marrocos e Mauritânia partilharam as terras ocupadas, com o Marrocos ficando com os dois terços do norte, incluindo grandes cidades e recursos.
Esse evento desencadeou uma guerra entre o Marrocos e a Frente Polisário, o movimento de independência saarauí e que se encontra à frente do governo do Saara Ocidental, que durou até 1991 e devolveu a área ao seu comando, mas que Marrocos mantém o controle da maior parte do território.











