Alguns lulistas reclamaram de nossa matéria “Extorsão nos preços do diesel começou com Dilma e o PT”.
No entanto, o único reparo a fazer a ela é que dissemos que a política de manter os preços do óleo diesel e da gasolina acima dos preços internacionais, para aumentar a margem de lucro das multinacionais que importam derivados de petróleo, começou com Dilma e Bendine.
Na verdade, ela começou com a grande amiga que Dilma colocou na presidência da Petrobrás, Graça Foster, em setembro de 2014. Aldemir Bendine, preso e condenado a 11 anos de cadeia por pedir e receber propina, só tomou posse, na Petrobrás, em fevereiro de 2015.
Mas essa reclamação os lulistas não fizeram. Como dizia um sábio francês, um certo La Rochefoucauld, a verdade somente incomoda aos mentirosos.
Esse é exatamente o caso.
Vejamos as informações oficiais do próprio governo Dilma – ou seja, da Agência Nacional do Petróleo (ANP), sobre o primeiro ano de seu segundo mandato:
“Durante todo o ano de 2015, conforme indicado no Gráfico 43, os preços domésticos do diesel estiveram em patamar superior ao dos preços internacionais. Em janeiro, o preço médio do combustível no mercado nacional foi 56% superior ao do seu congênere de referência” (ANP, “Boletim Anual de Preços 2016”, p. 79).
O gráfico referido pelo texto é o seguinte (em roxo, o preço internacional):
Reparemos que desde outubro de 2014, depois do aumento no preço em setembro, o diesel, dentro do Brasil, passou a ter um preço maior que aquele fora do Brasil.
A diferença de janeiro (+56%) em relação ao preço internacional, refletia o aumento de setembro de 2014 – e o declínio no preço externo do diesel. Aliás, o aumento foi decretado quando o preço internacional já caía há três meses (v. gráfico acima).
Esse é um dos aspectos mais absurdos da política do PT, nessa época: enquanto o preço internacional do diesel (e também o da gasolina) caíam, refletindo a queda no preço do barril de petróleo, os preços internos do óleo diesel e da gasolina eram aumentados.
Já em 2014, o preço do óleo diesel encerrou o ano 34% acima do preço externo (cf. ANP, “Boletim Anual de Preços 2015”, p. 136).
No gráfico abaixo, está a trajetória do preço do diesel, desde 2013:
Observe o leitor que estamos lidando com médias. O que quer dizer que o diferencial pode ser maior ou menor em tal ou qual caso, em tal ou qual dia.
Mas é evidente o que significa esse gráfico: depois de passar quatro anos obrigando a Petrobrás a comprar diesel e gasolina no exterior (basicamente, nos EUA), e repassá-los às multinacionais por preço inferior ao que foi pago para adquiri-lo – o que redundou em um prejuízo, nessa importação, de R$ 98 bilhões – no final da gestão da senhora Foster a política passou a ser a de manter o preço interno acima dos internacionais para beneficiar a importação direta das multinacionais.
Assim, elas tiveram ganhos estúpidos mais uma vez às custas da Petrobrás e do país – isto é, do povo.
Quais foram os beneficiados?
Os mesmos da política de Parente: sobretudo a Shell/Raízen, mas também a Repsol, o grupo Ultra (controlador da Ipiranga) e as tradings que estão no negócio de importação de derivados, em geral companhias americanas.
Durante 2015, o diferencial entre o preço externo e o preço interno continuou subindo, com os últimos acima dos primeiros, apesar de uma diminuição temporária dessa diferença ao longo do primeiro semestre, logo anulada por um aumento no segundo semestre:
“… o preço doméstico do diesel encerrou o ano de 2015 em patamar cerca de 58% superior ao verificado no mercado externo” (cf. ANP, “Boletim Anual de Preços 2016”).
Ou seja, Bendine continuou, e piorou, a política iniciada ainda na gestão da senhora Foster, de manter o preço do diesel acima do preço internacional.
Qual a diferença dessa política – a diferença essencial – para a política de Parente?
Na essência, nenhuma.
No mais, Bendine (e a senhora Foster) não se atreveram a colocar no papel, ao contrário de Parente, que manter o preço interno acima do preço internacional era o “compromisso da Petrobrás” (ou seja, o compromisso deles).
Somente Parente teve essa falta de vergonha.
Logo, dirá o mentiroso lulista, a política era diferente – da mesma forma que o triplex não é de Lula porque ele não assinou a escritura.
Infelizmente, a realidade existe, independente dos documentos que se assina – e daqueles que se falsifica.
O que importa é o conteúdo da política de Dilma e do PT, não as suas declarações oficiais – ou a de seus subordinados -, que, em geral, nada têm a ver com a realidade, exceto como tentativa de escondê-la.
Da mesma forma, Bendine e Foster não fizeram aumentos diários no preço do diesel e da gasolina, como Parente.
Mas que este último é um neoliberal muito mais sem limite – ou seja, muito mais descarado ou desavergonhado – que Bendine ou Foster, não é propriamente uma novidade.
Não temos a pretensão de que este artigo vá convencer nenhum mentiroso lulista de que aquilo que afirmamos na outra matéria é verdade.
No entanto, o que importa é, realmente, a verdade.
C.L.
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