Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) também critica – em seu voto na Assembleia Geral de Acionistas da Petrobrás – o pagamento de “dividendos absurdos de R$ 215 bilhões, deixando de investir e gerar empregos no País”
Para a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) a política de preços da Petrobrás – chamada de PPI (Paridade de Preço de Importação) – está dando munição para o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, continuar mantendo em patamares elevados a taxa de juros da economia (Selic), hoje em 13,75%.
Em seu voto na Assembleia Geral de Acionistas da Petrobrás, na quinta-feira (27), a Aepet afirma que “o preço de paridade de importação gera preços absurdos nos derivados sugando patrimônio do povo brasileiro e transferindo o lucro astronômico para os 63% de acionistas privados, cuja grande maioria é de estrangeiros, através da distribuição de dividendos”, destacou a entidade.
A Aepet acrescentou que, “no caso do diesel, por exemplo, o litro produzido pela Petrobrás tem um custo de produção de cerca de R$ 1,20. No mês de janeiro, a Petrobrás recebia R$ 4,50 por litro vendido na bomba dos postos. Ou seja, um lucro absurdo, superior a 300%, que se irradia aos demais itens no preço final. O fato ainda mais grave, entretanto, é que o diesel, sendo o principal insumo usado para transportes de alimentos, materiais e pessoas. O seu preço elevado é um dos principais causadores da inflação. A inflação alta gera o pretexto para o Banco Central elevar os juros ao maior patamar do mundo travando completamente o desenvolvimento nacional”.
“Tudo isto causa vários prejuízos ao povo brasileiro, pois ele paga caro demais pelo diesel e demais combustíveis e pelos alimentos; a dívida pública explode e o governo paga uma fábula de dinheiro pelo serviço da mesma. Só em 2022 pagou ao sistema financeiro, cerca de R$ 2 trilhões de juros, rolagem e amortização dessa dívida”, denunciou a associação de engenheiros.
“Em 2022”, complementa a Aepet, “a Petrobrás também pagou dividendos absurdos de R$ 215 bilhões, deixando de investir e gerar empregos no País. Algo semelhante ao Diesel ocorre com os preços da gasolina e do GLP usado nas cozinhas, inclusive pela população mais pobre. No caso do GLP, além da Petrobrás, o revendedor do botijão tem também um lucro absurdo. Portanto, é urgente a redução dos preços nas refinarias”.
“No caso do diesel algo como R$ 2 por litro. Afinal o movimento ‘O petróleo é nosso’, o maior movimento cívico da história do País, teve como objetivo usar o petróleo para benefício do povo brasileiro. E não é o que vem ocorrendo”, observou a entidade.
Em seu voto, ainda, a Aepet defendeu a recompra das ações da Petrobrás “vendidas na bolsa de Nova Iorque, por ADR’s, porque, além de terem sido vendidas por um valor muito inferior ao real, agridem a soberania do País e geram enorme prejuízo para a Petrobrás e para o povo brasileiro”, constatou a Aepet.
De acordo com a entidade, diante da distribuição dos R$ 215 bilhões em dividendos pela estatal em 2022, “pela composição acionária atual, os acionistas estrangeiros – cerca de 40% deles são da Bolsa de Nova Iorque – receberam R$ 100 bilhões destes dividendos e o Povo brasileiro (o governo) ficou apenas com 78,71 bilhões”.
“Portanto, qualquer recuperação que a Petrobrás consiga, dos estragos produzidos nela, pelos maus dirigentes, vai beneficiar muito mais os investidores estrangeiros do que o povo brasileiro”, avalia a Aepet.
A Aepet também defendeu a suspensão da venda de ativos da Petrobrás, negociações iniciadas no governo de Bolsonaro, incentivada por meio de um acordo entre a gestão bolsonarista na estatal com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que propunha acabar com o monopólio do refino no Brasil. Por este a acordo, a estatal teria que privatizar oito das suas 13 refinarias – das quais três já foram concretizadas (Landulpho Alves (RLAM), a Isaac Sabbá (Reman), e a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX) – além de alguns ativos dentro do setor de gás natural.
“Suspender a venda de ativos e mandar auditar as vendas já ocorridas, pois a maioria delas supostamente foram através de preços subfaturados”, denuncia a entidade. “Retomar as obras das refinarias Renest (segundo trem) e Comperj, pois ambas atingiram a 90% do total de suas obras. A Petrobrás tem que refinar o petróleo no País, gerando empregos e reduzindo a exportação de petróleo bruto. O petróleo no Brasil tem sido exportado em volumes recordes, cerca de 1,2 milhão de barris por dia, mais de 45% da produção nacional. Hoje, a Petrobrás e as demais petroleiras exportam o petróleo, cujo custo total de produção é da ordem de U$ 30 por barril, pelo preço de US$ 80 por barril sem pagar imposto pela exportação desse produto estratégico. Com um lucro da ordem de U$ 50 por barril, essas empresas não dão qualquer benefício ou retorno para o povo brasileiro, dono real das reservas de petróleo do País”, disse a Aepet.