Para o professor da UFRJ, Luis Fernandes, no ciclo de debates do Observatório da Democracia, “quanto mais salvamos vidas, mais criamos condições para minimizar os impactos na economia”
A política externa do governo Bolsonaro só tem prejudicado o Brasil, avaliaram os ex-ministros Celso Amorim e Rubens Ricupero e o professor de Relações Internacionais da UFRJ, Luis Fernandes, em debate organizado pelo Observatório da Democracia.
O tema do terceiro dia do ciclo de debates “Diálogos, vida e Democracia” discutiu “O Brasil na crise mundial”. Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois, do PCdoB, mediou o debate.
Renato Rabelo, na abertura do debate, afirmou que “o crescimento da economia mundial, que já vinha declinando, agora passa da semi-estagnação para uma aguda recessão repentina, conforme as instituições financeiras mundiais”.
Para ele, “é possível que a recuperação econômica da China seja mais rápida, permitindo que ocupe mais cedo o posto de maior economia do mundo”.
Os convidados citaram várias vezes o documento assinado por ex-ministros de todos os governos do país após o fim da ditadura, que critica a política externa de Bolsonaro e seu chanceler Ernesto Araújo.
“Um dos aspectos mais importantes desse documento é que ele encarna, pelos seus signatários, a totalidade da tradição diplomática brasileira. Além desse documento, só se nós fossemos a uma sessão espírita. Todos os que estão vivos [concordaram], menos os três” que são funcionários na ativa, disse o ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Ricupero.
“DIPLOMACIA DA VERGONHA”
Segundo o primeiro debatedor, Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, “o Brasil sempre exerceu uma grande liderança”. “Agora, só por causa do espírito de total submissão a Washington e, especificamente, ao governo Trump, o Brasil deixou” de participar de discussões importantes na Organização das Nações Unidas (ONU).
Amorim lembrou que o Brasil não apoiou uma petição do México pela cooperação no combate ao coronavírus, assinada por 179 países, “porque o governo Trump elegeu a OMS [Organização Mundial de Saúde] como um de seus bodes expiatórios, juntamente com a China, por conta da má administração que esse governo vem fazendo” durante a pandemia.
É uma “política de submissão absoluta ao governo Trump. Não é nem aos Estados Unidos”. “É uma coisa gritante”, disse.
O ex-ministro reforçou a importância da “solidariedade e de agir em conjunto” no combate ao coronavírus. “Não se avançará rapidamente em questão de vacinas, medicamentos se não houver uma ampla cooperação internacional”.
Celso Amorim também comentou que a postura da China frente à pandemia faz com que ela fique em mais evidência e forte nas relações internacionais. “Algo que já era previsto, que é a ultrapassagem econômica dos EUA pela China, ela vai se somar com a ultrapassagem de ‘poder brando’, da capacidade de atrair outros países para suas posições, para suas ideias e suas propostas”, disse.
“A China, com a questão do coronavírus, revelou uma disposição muito grande para dar assistência técnica, como no caso da Itália”.
Para ele, “superada a diplomacia da vergonha, o Brasil, para entrar nesse circuito e ter influência, terá que trabalhar muito pela integração sul-americana e latino-americana”.
CONSTITUIÇÃO E POLÍTICA EXTERNA
Ricupero lembrou que “a Constituição brasileira explicita quais são os princípios orientadores da política externa brasileira”. Entre eles está a independência nacional, a defesa os Direitos Humanos e da paz.
Para ele, a política externa atual “viola e contraria” esses princípios. Para que sejam seguidos, o ex-ministro disse que o Congresso Nacional, que também tem “atribuições dessa matéria” deveria discutir mais a política externa do governo Bolsonaro.
“Eu acredito que o Congresso tem que avocar a si o exame de certas iniciativas temerárias desse governo em política externa, que não receberam nenhum tipo de debate”.
Ele criticou o acordo de cooperação militar entre o Brasil e os EUA. “Esse acordo vai produzir consequências. Nós compramos a agenda de segurança americana sem ter nenhum interesse nacional nisso. O Brasil não é ameaçado pela China, não é ameaçado pela Rússia, não é ameaçado pelo Irã. Pelo contrário, o Brasil tem relações amistosas e frutíferas com todos esses três países”.
A política de Bolsonaro está isolando o Brasil mundialmente. O Brasil “se autoexclui do diálogo internacional ao adotar essas posições extremistas e caudatárias do poder norte-americano”.
“Enquanto este governo estiver por aí, é difícil imaginar que isso possa mudar”, disse.
“Espero que o mundo tire como lição a necessidade de reforçar a OMS, criando um verdadeiro sistema para detectar as pandemias e combatê-las quando elas ainda estão no início”, concluiu.
AÇÃO ESTATAL ACELERA RECUPERAÇÃO
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da PUC-RJ, Luis Fernandes, afirmou que “a pandemia acelerará e intensificará a tendência de transição estrutural”.
“O que nós estamos vendo é que os países que preservaram capacidade de intervenção e regulação estatal maior nas suas economias estão conseguindo enfrentar e conter a evolução da pandemia de forma muito mais eficiente do que a Europa, os Estados Unidos e, infelizmente, do Brasil”.
“A rapidez e a eficácia na contenção da pandemia se desdobra, logo em seguida, numa recuperação mais rápida da sua economia. Isso é o que já estamos vendo na China”, continuou.
Fernandes enfatizou que não há contradição entre salvar vidas e salvar a economia. “Ao contrário, quanto mais salvamos vidas, mais criamos condições para minimizar os impactos na economia”.
O ciclo de debates “Diálogos, vida e Democracia” está sendo organizado pelo Observatório da Democracia.
O Observatório é composto pelas fundações partidárias Astrojildo Pereira (Cidadania23), João Mangabeira (PSB), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (PDT), Maurício Grabois (PCdoB), Ordem Social (PROS) e Perseu Abramo (PT). A Fundação Cláudio Campos também participa do Observatório.
Veja os outros debates agendados para maio:
16/05 – Mesa 4 – Pandemia, crise e Pacto Federativo
Coordenação: Manoel Dias (FLB-AP)
Debatedores confirmados: Rui Costa (PT), governador da Bahia; Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão; Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo.
Convidados: João Doria (PSDB), governador de São Paulo; Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo; Arthur Virgílio Neto (PSDB), prefeito de Manaus.
18/05 – Mesa 5 – Coronavírus, isolamento social e Saúde Pública 2
Coordenação: Maria Célia Vasconcellos, secretária de Saúde de Niterói
Debatedores: Glória Teixeira, professora de Epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA; Rosa Maria Marques, professora titular do departamento de Economia da PUC-SP e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e ex-presidente da Associação Brasileira de Economia de Saúde (ABRES); Lígia Bahia, médica sanitarista e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ).
22/05 – Mesa 6 – Congresso, momento e opções políticas
Abertura: Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados
Bloco 1 – 14h30:
Debatedores: Acácio Favacho, líder do PROS; Alessandro Molon, líder do PSB; Arnaldo Jardim, líder do Cidadania23; Carlos Sampaio, líder do PSDB; Enio Verri, líder do PT.
Bloco 2 – 16h30:
Debatedores: Fernanda Melchionna, líder do PSOL; Joênia Wapichana, deputada da Rede; Perpétua Almeida, líder do PCdoB; Wolney Queiroz, líder do PDT.
25/05 – Mesa 7 – Crise, Comunicação e democracia
Coordenação: Henrique Matthiesen (FLB-AP)
Debatedores: Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), ex-deputada federal e presidente do Instituto E Se Fosse Você?; Humberto Costa (PT-PE), senador; Natália Bonavides (PT-RN), deputada federal; Túlio Gadelha (PDT-PE), deputado federal; David Miranda (Psol-RJ), deputado federal; Lídice da Mata (PSB-BA), senadora.
28/05 – Mesa 8 – Redes Sociais e Novas Formas de Comunicar
Coordenação: Renata Mielli (FMG – Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé)
Debatedores: Renato Rovai, jornalista e diretor de redação da Revista Fórum; Leonardo Attuch, jornalista e diretor do portal Brasil 247; Glenn Greenwald, jornalista e advogado, um dos fundadores do The Intercept Brasil.
Os debates são transmitidos através do Youtube do Observatório da Democracia e das páginas de Facebook das fundações.
Youtube: https://www.youtube.com/c/observatoriodademocracia
Fundações:
Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini
Fundação Lauro Campos e Marielle Franco
Fundação Instituto Cláudio Campos