Desde 2016, Varsóvia considera oficialmente Bandera como o chefe da limpeza étnica contra 150 aldeias polonesas em 1943, o ‘Massacre de Volyn’, que resultou em 100.000 a 130.000 civis assassinados
Não pode haver “nenhuma nuance” quando se trata da glorificação do colaborador nazista da Segunda Guerra Mundial, Stepan Bandera, na Ucrânia, disse o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki em entrevista coletiva na segunda-feira (2), em reação às comemorações, pelo regime de Kiev, na véspera, do que seria o 114º aniversário do nascimento do assim proclamado “herói nacional” ucraniano e notório chefe do massacre de centenas de milhares de poloneses, judeus e soviéticos.
O aniversário, que costuma ser celebrado em Kiev e outras localidades com marcha de tochas, pôsteres de Bandera, suásticas, outros símbolos a exemplo dos ‘wolfangels’ (‘anjos lobos’ das SS), estandartes do neonazi Batalhão Azov e anauês de todo tipo, foi saudado pelo parlamento ucraniano e só foi tirado do ar após protestos da Polônia e de Israel.
O comandante do exército de Kiev, o festejado (pela mídia colonial) general Valeri Zaluzhni, também comemorou a efeméride postando um retrato seu com Bandera ao fundo.
O ‘desabafo’ do premiê polonês se explica: o governo de Varsóvia é o elo essencial na sustentação do regime de Kiev e a Polônia funciona como o pátio dos fundos pelo qual passa a maior parte do armamento para a guerra de procuração dos EUA contra a Rússia na Ucrânia.
Ao mesmo tempo em que é a linha vital do regime que congrega bandeiristas e neonazis em geral, asseclas da CIA, oligarcas ladrões e astros como Zelensky, Varsóvia desde 2016 considera oficialmente Bandera como o chefe da limpeza étnica contra 150 aldeias polonesas em 1943, o ‘Massacre de Volyn’, que resultou em 100.000 a 130.000 civis assassinados.
Resolução do parlamento polonês reconheceu 11 de julho como o Dia Nacional em Memória das vítimas do genocídio cometido pelos banderistas. Em 2018, o presidente polonês Andrzej Duda assinou um projeto de lei que proíbe a promoção da ideologia de Bandera. Israel também pediu repetidamente a Kiev que não glorifique “criminosos de guerra ou reabilite colaboradores de guerra”.
Morawiecki rotulou Bandera de “um ideólogo de … tempos criminosos, tempos de guerra” que presenciaram “terríveis crimes ucranianos”. Não haverá “clemência” para aqueles que se recusam a admitir que o “terrível genocídio” que os poloneses sofreram nas mãos dos nacionalistas ucranianos durante a Segunda Guerra Mundial foi “algo inimaginável”, acrescentou.
“Não tenho palavras suficientes de indignação com todos os tipos de ações que exaltam ou homenageiam os responsáveis pelos crimes de Volhynia […]. Aquilo foi um genocídio. Nunca o esqueceremos. Não tenho um pingo de consentimento para justificar esses crimes”, escreveu Morawiecki em sua conta no Facebook.
O que explica a “indignação” manifestada pelo primeiro-ministro Morawiecki, que prometeu abordar com seu congênere ucraniano, Denis Shmyal, na próxima vez que tiver uma oportunidade – quem sabe à margem de nova reunião sobre entrega de armas -, asseverando que será “muito, muito claro sobre isso”.
Na Polônia, a assertividade de Morawiecki mereceu comentários irônicos, um deles de que se Kiev não pediu desculpas pelos dois mortos do disparo de sua defesa antiaérea no ano passado, quanto mais pelas centenas de milhares de civis poloneses mortos em 1943-1945.
Após a repercussão de mais essa exibição de neonazismo explícito, o parlamento ucraniano e o general Zaluzhni correram a apagar as postagens reverenciando seu ídolo Bandera.
Em 2016, quando o parlamento polonês aprovou o 11 de julho como o Dia Nacional em Memória das vítimas do genocídio cometido pelos banderistas, os deputados ucranianos reclamaram, dizendo que a decisão “prejudicou as conquistas políticas e diplomáticas dos dois países”.
“Bandera é nosso pai, a Ucrânia é nossa mãe”, bradam tropas de Kiev, conforme mostra o vídeo abaixo distribuído pela Agência Sputnik. Manifestações públicas em homenagem aos colaboracionistas nazistas na Ucrânia ocorrem no país desde o golpe de 2014