Governador chegou a chamar unidades que atendem a zona noroeste de São Paulo de “ossinhos” para a iniciativa privada
O governo do estado de São Paulo publicou, em Diário Oficial, o edital de convocação pública para a privatização da gestão do Hospital Geral de Taipas e do Hospital de Vila Penteado, na zona noroeste da capital paulista, para uma organização social (OSs).
A iniciativa dá continuidade ao anúncio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de que iria privatizar as unidades, além do Hospital Rota dos Bandeirantes, localizado na cidade de Barueri. Na ocasião ele chamou os dois primeiros, Taipas e Penteado de “ossinho” em contraposição ao ‘filé’ desejado pelos empresários.
“Tem um monte de gente querendo administrar o Hospital de Barueri, o Sírio quer, o Einstein quer. Um monte de gente boa quer administrar e a gente disse o seguinte: já que vocês querem pegar o filé, vão ter que roer o ossinho também, vai levar junto o Taipas, vai levar junto o Vila Penteado e eu tenho certeza que a gente vai ter aí uma grande gestão”, disse Tarcísio sobre os hospitais.
A mobilização organizada pela Comissão de Luta Contra a Privatização dos Hospitais fechou por alguns instantes uma das faixas da avenida Elísio Teixeira Leite, em frente ao hospital, na sexta-feira (19), encerrou uma manhã de diálogos e protestos para fortalecer a luta contra a terceirização em curso e em defesa da união por Taipas e também pelo Hospital Geral da Vila Penteado, mais um na mira do governo.
Claudia, que é funcionária do Hospital Geral de Taipas, moradora da região e atuante na Comissão contra a Privatização, afirmou que é preciso barrar os desmandos de Tarcísio de Freitas. Com gritos de “não, não, não à privatização” e “não, não, não, não somos ossos não” , trabalhadoras e trabalhadores do Hospital Geral de Taipas deram o recado ao governo de que a entrega da gestão da unidade não será fácil.
“Nós não aceitamos a privatização, nós não deixaremos as OSs tomarem conta dos nossos aparelhos, nós não deixaremos que o desmando de Tarcísio de Freitas, que não está nem aí com o funcionário público, com a iniciativa de pessoas que trabalham aqui há 30, há 20, há 10 anos, não sejam simplesmente rechaçados e tentados ser engolidos pelo sistema. É não a OSs, é não a privatização. Taipas não aceita e não assinaremos. Não somos ossos, nós somos trabalhadores que têm que ser respeitados”, defendeu.
O Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (Sindsaúde) também participou das manifestações contra as privatizações. “Essa notícia não foi uma surpresa, recebemos muitas denúncias dos trabalhadores do grande processo de sucateamento nas duas unidades e no Taipas, ainda, recentemente foi iniciada uma grande reforma, mais um indício de que o governo faria a terceirização”, afirmou a presidente do SindSaúde, Cleonice Ribeiro.
Cleonice ainda destacou que os governos privatistas agem sempre da mesma forma: abandona o equipamento e os profissionais que nele atuam e quando está perto de chegar ao fundo de poço, faz uma reforma e entrega tudo renovado para a OS..
“Tudo isso, com o dinheiro da população, que está sofrendo com a superlotação dos hospitais, com as longas de filas de espera para fazer exames, procedimentos simples e cirurgias e que, muitas vezes, não consegue sequer ter acesso à medicação”, critica.
Em nota, o sindicato repudia a entrega do serviço público de saúde para o setor privado, que apesar de se esconder atrás do nome de organizações sem fins lucrativos ou filantrópicas, ganham muito dinheiro como foi comprovado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das OSs, realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), coordenada pelo então deputado estadual, Carlos Neder, médico que faleceu em 2021, vítima de Covid -19.
Além disso, o SindSaúde destacou a falta de respeito com os profissionais que atuam nos equipamentos, que mesmo sobrecarregados e sem condições dignas para exercer suas profissões, não abandonaram seus pacientes. São profissionais que lutam pela vida da população, que se colocam em risco diariamente para cuidar do outro e sequer foram ouvidos.
PRECARIZAÇÃO
A diretora da Federação das Mulheres Paulistas (FMP) e ex-vereadora da cidade de São Paulo, Lídia Correa, afirmou à Hora do Povo que a entrega dos hospitais precariza ainda mais a saúde de São Paulo. Lídia defendeu que os hospitais sejam públicos, com servidores concursados e com mais investimento.
“O governador Tarcísio anunciou há poucos dias a privatização do Hospital Geral de Taipas e do Hospital Penteado. São importantes hospitais aqui da região que atende toda a população da região noroeste de São Paulo e que estão sob a ameaça de privatização. O que nós defendemos já há muito tempo é que os hospitais sejam públicos, permaneçam públicos e que contem com investimentos, investimento em pessoal, com servidores de carreira, em equipamentos na sua estrutura para melhorar o atendimento. No entanto, vem esse anúncio agora da privatização, que a gente sabe o que significa isso. Isso significa precarização do trabalho, isso significa precarização dos serviços, em um declínio no atendimento, porque as OSs querem lucros”, disse.
“Então, por isso, nós participamos do movimento em defesa do Hospital de Taipas e contra privatização, que realizou há poucos dias uma assembleia e um ato em defesa dos hospitais públicos, e nós estamos com muita decisão de trabalhar e lutar contra a privatização do Hospital de Taipas, que já foi um hospital referência, e é ainda um hospital referência aqui na região e que precisa muito ser melhorado. Nós não queremos a privatização do hospital”, continuou.
Lidia continuou, com críticas à fala de Tarcísio, em referência a ossos para empresários, das entregas dos hospitais.
“A saúde é tratada assim pelo governador, sem investimento. Recentemente ele deu uma declaração dizendo que ia entregar os hospitais para as OSs e que o hospital de Taipas e Penteado seriam ‘ossos’, ou seja, admitindo que os serviços dos hospitais aqui da região estão péssimos, infelizmente. A nossa preocupação com tudo é que a população seja ainda mais prejudicada e o que nós queremos é isso, investimento público, administração pública, a saúde tem que ser pública”, disse.
Por fim, a ex-vereadora afirmou ao HP sobre os próximos passos para barrar a privatização dos hospitais em São Paulo
“Na quinta-feira agora, dia 25, está programada uma assembleia no Hospital Penteado com o sindicato e nós vamos participar também deste ato no Hospital Penteado e seguiremos aí com as panfletagens, solicitação e realização de audiência pública, apoio de parlamentares e levar a campanha para a população. A campanha segue contra a privatização”, afirmou.
Veja o conteúdo da carta aberta da Comissão de Luta Contra a Privatização na íntegra:
CARTA ABERTA À POPULAÇÃO E USUÁRIOS
DO HOSPITAL GERAL DE TAIPAS
O SUS, Sistema Único de Saúde, foi conquistado em 1988, através de lutas árduas da população brasileira, e tem por obrigação, atender a todos os que dele precisar. O atual governador, Tarcisio de Freitas, QUER PRIVATIZAR O HOSPITAL GERAL DE TAIPAS, assim como tantos outros. O HOSPITAL GERAL DE TAIPAS é referência na zona norte de São Paulo, atendendo a população de Taipas, Pirituba, Jaraguá, Brasilândia, Perus e adjacências. Segundo falas do governador, “os hospitais de Taipas e Penteado, serão os ossos que as empresas terceirizadas que irão gerir o Hospital Barueri, irão roer”, oferecendo as duas unidades como moeda de troca para fechar um excelente negócio remunerado. Definitivamente, não é dessa forma que queremos que tratem nossa saúde. Lembrando que o Hospital Geral de Taipas, possui 2 MIL FUNCIONÁRIOS que se dedicaram anos a fio e dependem desse posto de trabalho.
A Saúde Pública, necessita é de investimento e recursos, aumento no quadro de colaboradores, ampliação dos prédios, equipamentos, para prestar o serviço de qualidade que a população necessita e merece.
Agora é a hora de união para barrar essa decisão absurda e arbitrária, sem jamais esquecer os princípios do SUS que são: Universalidade, Integralidade, Equidade, Hierarquização e Participação Social.
TERCEIRIZAR A SAÚDE NÃO É UMA OPÇÃO, POIS NOSSA SAÚDE NÃO É MERCADORIA.
*VIVA O HGT PÚBLICO *
DIVULGUE! PARTICIPE! MOBILIZE
Deixe-me entender uma coisa. A Matéria ficou muito boa, mas não vimos a convocação ou a fala do movimento que iniciou essa luta, que foi a Comissão contra a Privatizacao, que aliás, foi a criadora da carta aberta e a que iniciou essa batalha, que já havia sido enunciada desde a fala fatídica do governador Tarcísio. Como será maravilhoso ouvir a fala desta comissão que vem gritando a plenos pulmões sobre tudo isso. Contatos: Gabriel Lima +55 11 96830-6109, Claudia +55 11 99496-7247 e Edgar 11 98994-6761.
Uma questão de dar crédito à quem iniciou a luta e ser justo com a fonte.
Obrigado pelo comentário – e pela cobrança. Corrigiremos esta falha.