“Por justiça e dignidade, Fujimori não!”, afirmam peruanos

Em Lima, dezenas de milhares de pessoas se concentraram em apoio à candidatura de Castillo (Aldair Mejía/La República)

“Por justiça e dignidade, Fujimori nunca mais”, afirmaram os peruanos que cobriram as ruas de do país neste sábado (22) em apoio ao candidato Pedro Castillo às eleições presidenciais de 6 de junho e rejeição à candidata Keiko Fujimori.

As manifestações alertaram que a eleição de Keiko seria retorno do fujimorismo, ditadura exercida por seu pai. Com palavras de ordem, faixas e cartazes, os manifestantes recordaram a prática sistemática e generalizada de esterilizações forçadas, torturas, execuções arbitrárias e desaparições, cometidas no governo de Alberto Fujimori, enfatizando a denúncia nos crimes de lesa-Humanidade de La Cantuta e Barrios Altos. Pelo genocídio, Alberto está preso, condenado a 25 anos de prisão.

Mais de 270 mil mulheres e 22 mil homens – a maioria indígena e pobre – foram submetidas à esterilização forçada por Alberto Fujimori (Clinto Medina/La República)

A eleição ocorre em um momento em que Peru sofre um aumento muito grande de infecções e mortes por Covid-19 e, piorando a situação, ainda amarga as consequências da crise que atingiu o país em 2016, quando os subornos da construtora brasileira Odebrecht a vários presidentes peruanos foram descobertos e divulgados.

A última pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos (IEP) divulgada no sábado mostra que o candidato Pedro Castillo ampliou sua vantagem sobre Keiko Fujimori, do partido Fuerza Popular, duas semanas antes do segundo turno.

A pesquisa aponta que a distância entre os candidatos aumentou em mais de 10 pontos percentuais: o representante do Peru Livre atingiu 44,8%, enquanto Keiko Fujimori, 34,4%. Em comparação com a pesquisa IEP anterior, Pedro Castillo cresceu 8,3 pontos nas preferências.

No 1º turno que teve 18 candidatos à presidência, o professor e líder sindicalista Castillo ficou em primeiro lugar com 19,1% dos votos e Keiko teve 13,3% dos votos.  O novo pleito será em 6 de junho.

A pesquisa também observa que os eleitores brancos / nulos passaram de 23,6% para 12,8% em uma semana. Da mesma forma, aqueles que indicaram que ainda estão indecisos ou não precisam de opção, caíram de 7,8% para 5,1%.

Na capital, Lima, com dezenas de milhares de pessoas, uma expressiva participação das organizações de mulheres, que sublinharam a determinação de varrer o fascismo nas urnas: “Somos as filhas das camponesas que não pudeste esterilizar”. Conforme dados oficiais do Ministério da Saúde, durante os anos da ditadura de Fujimori (1990-2000), foram esterilizados de forma forçada mais de 270 mil mulheres e 22 mil homens, a maioria provenientes de comunidades indígenas quéchua e de famílias pobres.

Ressaltando a amplitude dos atos, em Cusco, o protesto teve a participação da ex-candidata presidencial de Juntos pelo Peru, Verónika Mendoza, que reiterou seu apoio a Pedro Castillo, em defesa do desenvolvimento e da justiça social. “Não podemos permitir que nos governe uma organização criminosa que jogaria por terra toda nossa luta contra a corrupção, o Peru não merece”, destacou.

Em Arequipa, os manifestantes denunciaram o colapso dos hospitais diante do alastramento da pandemia de Covid-19 e a vinculação do fujimorismo com a política de privatização do sistema de saúde.

A mobilização em Tacna contou com a participação de María Amaro Cóndor, irmã de Armando Amaro, um dos universitários assassinados pelos paramilitares de Fujimori. Integrantes da Federação Regional de Mulheres Líderes, da Resistência Patriótica e da Associação de Direitos Humanos reforçaram o ato.

Em Puno e Juliaca, os manifestantes exigiram um basta aos desmandos do fujimorismo. “Estamos nas ruas porque não podemos ser indiferentes ao que significou esse governo e que hoje pretende regressar para manter o status quo da corrupção”, declarou Hugo Tito Rojas, dirigente do Sindicato Unitário de Trabalhadores na Educação Peruana (Sutep).

A comunidade no exílio também se fez ouvir, reiterando o “Não ao fujimorismo”. Devido ao ditador e sua política de submissão aos interesses estadunidenses, mais de 3 milhões de pessoas tiveram que deixar o país, entre 1990 e 2015.

GENOCÍDIO

O morticínio de La Cantuta ocorreu em 3 de novembro de 1991 quando seis indivíduos encapuzados e armados do grupo paramilitar Colina – braço clandestino do Exército – invadiram uma moradia em Barrios Altos, ordenaram aos presentes que se estendessem no chão e dispararam indiscriminadamente. Mataram 15 pessoas, entre elas uma criança de oito anos, deixando outras quatro gravemente feridas.

Manifestantes recordaram os anos de terrorismo de Estado, com fotos dos desaparecidos e vítimas das execuções arbitrárias (Aldair Mejía/La República)

Meses depois, na Universidade Nacional de Educação Enrique Guzmán La Valle, mais conhecida como La Cantuta, nove estudantes e um professor foram retirados à força de suas moradias e “desaparecidos”. Os corpos de dois deles foram achados em fossas clandestinas, um ano depois.

Veja vídeo com imagens da marcha contra o fujimorismo:

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