O vice-chanceler russo, Sergei Riabkov, respondeu à ameaça do embaixador de Washington na Rússia, a bordo de um porta-aviões nuclear no Mediterrâneo, de que ali estavam “100 mil toneladas de diplomacia internacional”, dizendo ter a esperança de que “a diplomacia de megafone norte-americana” não se converta em “uma diplomacia de megatons”.
Caso em que, como ressaltou, “não haverá ganhadores” e os diplomatas norte-americanos se arrependerão de “não poderem encontrar uma oportunidade para um diálogo normal e construtivo com seus parceiros no mundo”.
A bravata do embaixador de Trump, Jon Huntsman, foi feita a bordo do porta-aviões nuclear USS Abraham Lincoln, da classe Nimitz, que, acompanhado do USS John C. Stennis, também nuclear, mais um grupo de dez navios de guerra, faz no momento exibição de força no Mar Mediterrâneo.
Como eram dois porta-aviões nucleares juntos, depreende-se que eram “200 mil toneladas de diplomacia”. A última vez que dois porta-aviões ianques adentraram simultaneamente no Mediterrâneo havia sido em 2016.
“Cada um dos porta-aviões que estão operando no Mar Mediterrâneo neste momento representa 100.000 toneladas de diplomacia internacional”, declarou o afoito.
Huntsman acrescentou que se a Rússia “realmente quer melhorar as relações” com os EUA, deve parar de conduzir “suas atividades desestabilizadoras” em todo o mundo.
Ou seja, o mundo inteiro tem que se submeter ao que o Pentágono e Wall Street querem. Ter soberania é “desestabilizador”, asseveram os ventríloquos do excepcionalismo norte-americano.
As provocativas manobras também são feitas nas vésperas do anunciado corte a zero das exportações de petróleo do Irã e logo após as eleições na Ucrânia que despacharam o marionete Poroshenko.
Comentando tais parvoíces, o vice-presidente da Associação de Diplomatas Russos, Andrei Baklanov, rebateu: “Huntsman nos acusa de atacar, tentando dominar, mas surge a pergunta: o que esta armada está fazendo longe da costa dos EUA?”
Aliás, muitos milhares de milhas náuticas.
Baklanov acrescentou que o conceito de comunicação orgânica entre o Mar Negro e o Mediterrâneo “é geralmente aceito”. “Para nós, o Mar Mediterrâneo é uma piscina tão próxima quanto o Mar Negro”.
“Os americanos acham que este é um pedaço dos oceanos do mundo, onde todos estão em pé de igualdade, mas este não é o caso”, assinalou o especialista.
“Eles precisam começar com eles mesmos. O que eles estão fazendo nos mares Negro e Mediterrâneo? Esta é uma tentativa de dominar o mundo da maneira mais inescrupulosa”, enfatizou Baklanov.
Um especialista militar ouvido pela RT, Vasily Dandykin, considerou estranha a argumentação de Huntsman, levando em conta que os aviões que bombardearam a Síria, a Líbia e a Iugoslávia decolaram de navios dessa classe no passado.
Ele notou, ainda, que a Rússia acaba de lançar ao mar quatro novos navios, duas fragatas com mísseis e o submarino nuclear Belgorod, portando o Poseidon. “Talvez tenha sido isso que deixou excitado o embaixador americano”, assinalou. De qualquer forma, a chegada desses dois grupos de porta-aviões é uma grande oportunidade “para nossa esquadra no Mediterrâneo treinar rastreá-los”.
Por sua vez, o chanceler russo Sergei Lavrov advertiu que, no contexto da falta de diálogo entre a Rússia e a Otan, “o preço de um erro ou mal-entendido” pode ser muito alto. No que tange à Rússia, acrescentou, “seguem sobre a mesa” todas as propostas para “fortalecer a estabilidade estratégica”.
Desde que Moscou anunciou suas armas hipersônicas, contra as quais os EUA não têm reconhecidamente defesa, a histeria anti-russa em Washington, que não dá mostras de cessar, tem vindo à tona das formas mais grotescas – como um embaixador falar em “100 mil toneladas de diplomacia”, dirigindo-se a uma superpotência nuclear com conversa de “diplomacia de canhoneiras” da era colonial.