Marielle Franco foi assassinada com quatro balas de 9 mm na cabeça, disparadas de uma submetralhadora alemã HK MP5. Seu motorista, Anderson Gomes, com três balas nas costas.
Se existe algo que compromete Bolsonaro é o fato de que ele está sôfrego para agarrar o porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, mas nem um pouco preocupado em punir os assassinos de Marielle e Anderson Gomes.
Na quarta-feira (30/10), a promotora Simone Sibilio, durante a entrevista do Ministério Público, declarou: “O porteiro mentiu, e isso está provado por prova técnica”.
Estava se referindo a um dos porteiros do Condomínio Vivendas da Barra, que afirmou, em dois depoimentos, que Élcio Queiroz, um dos assassinos de Marielle e Anderson, na tarde do dia do crime, disse, na portaria, que ia até à casa 58 (a casa de Jair Bolsonaro) e não à casa de Ronnie Lessa, o outro assassino, que, horas depois, atirou contra Marielle Franco.
Segundo o porteiro, a entrada de Élcio foi autorizada por “seu Jair”, da casa 58. Alguns minutos depois, quando viu, pelo monitor da portaria, que Élcio Queiroz estacionou o carro na casa 65/66, o porteiro telefonou outra vez para a casa 58 – obtendo como resposta, do mesmo “seu Jair”, que ele sabia para onde estava indo o motorista do carro (v. HP 30/10/2019, Assassino de Marielle, para reunir-se com parceiro, disse que ia à casa de Bolsonaro).
Naquele dia, Jair Bolsonaro, então deputado federal, estava em Brasília.
Portanto, a pergunta era, até a entrevista das promotoras Simone Sibilio, Carmen de Carvalho e Letícia Petriz: se não foi Bolsonaro, quem, na sua casa, autorizou a entrada de Élcio?
Segundo as promotoras, a solução do mistério é que ele jamais ocorreu – o porteiro, simplesmente, mentiu.
Mas por que ele mentiria a respeito disso? Qual a sua motivação para mentir? Por vontade de prejudicar um de seus patrões, o condômino Jair Bolsonaro?
Seria muita vontade de ficar desempregado. Mas isso, nesse caso, é coisa quase sem importância, diante do que ele poderia, realmente, perder.
Trata-se de um assassinato brutal, covarde, realizado por gente sanguinária, no qual estão envolvidos as milícias e o Escritório do Crime – dos quais Bolsonaro, assim como sua família, há muito são apologistas, para dizer o mínimo (v. HP 24/04/2019, Bolsonaro e as milícias).
Será que o porteiro do Vivendas da Barra está – ou estava – com vontade de morrer?
Mas é pouco provável que ele tenha imaginado um modo tão complicado de suicídio. Seria mais fácil recorrer aos venenos contra ratos que ainda existem no mercado.
Confrontada com esse problema, a promotora Sibilio respondeu que “o porquê do porteiro ter dado esse depoimento será investigado. Se ele mentiu, se equivocou ou esqueceu”.
Aqui, ela não afirma, peremptoriamente, que “o porteiro mentiu”.
Uma relativização que é aumentada quando diz que o depoimento do porteiro “não guarda compatibilidade com a prova técnica”.
No entanto, de acordo com as declarações das promotoras, é verdade, como disse o Jornal Nacional, da TV Globo, de quarta-feira (30/10), “que, segundo a polícia, esse porteiro e as anotações manuscritas em papel registraram que um suspeito de matar Marielle Franco e Anderson Gomes entrou no condomínio no fim da tarde de 14 de março do ano passado, horas antes do crime, dizendo que iria para a casa do presidente”.
Disse a promotora Sibilio que acredita que o porteiro “se enganou”.
Então, que “prova técnica” é que contrariaria o depoimento do porteiro – além, evidentemente, do fato de que Jair Bolsonaro estava em Brasília?
“Segundo a Promotoria, há registro de interfone para a casa 65 (enquanto a casa de Bolsonaro é a de número 58), e a entrada de Élcio foi autorizada pelo morador do imóvel, Ronnie Lessa”.
A voz, segundo as promotoras, que autorizou a entrada é a de Ronnie Lessa, morador da casa 65/66.
Mas permanece o problema: o registro escrito confirma o relato do porteiro.
Somente no último dia 5 houve busca e apreensão das planilhas da portaria do Condomínio onde moravam Bolsonaro e Ronnie Lessa. Foi então confirmada a anotação do porteiro, de que Élcio Queiroz disse que ia à casa de Bolsonaro.
“Se o porteiro se equivocou ou se esqueceu, a informação não é compatível”, resumiu a promotora Sibilio.
A promotora esclareceu que somente depois do desbloqueamento do celular de Ronnie Lessa as planilhas da portaria chamaram atenção.
No celular de Lessa havia a foto de uma das planilhas, enviada por sua mulher em janeiro, indicando a entrada no condomínio para a casa 58, a casa de Bolsonaro.
Quanto às gravações dos comunicados entre a portaria e os moradores, foi durante a busca e apreensão – no começo de outubro – que se soube da existência delas.
“Gravação não é comum. Nem os moradores sabiam que elas existiam”, informou a promotora Sibilio.
C.L.
Matérias relacionadas: