Milhares de professores de Porto Rico paralisaram seu trabalho, na terça-feira (20), para rechaçar a reforma do sistema público de educação, que já foi aprovada pela Câmara dos Deputados e proximamente deverá ser votada no Senado.
A reforma apresentada no mês passado pelo governador Ricardo Rosselló está baseada na política de ‘livre seleção de escolas’, que destina fundos públicos à educação privada mediante vales educativos e escolas “charter”.
A Frente em Defesa da Educação Pública liderou o protesto contra a privatização do setor, e está convocando uma marcha de professores neste sábado (24).
O movimento está integrado por entidades como o Educamos, a Federação de Professores de PR, Educadores Porto-riquenhos em Ação, Organização Nacional de Diretores de Escolas de Porto Rico e a Organização de Diretores e Administradores. À convocatória se somaram outros sindicatos como os do setor energético e várias organizações progressistas além de mães, pais e estudantes.
Porto Rico é um território dependente dos Estados Unidos desde 1898, quando os estadunidenses o ocuparam na guerra contra a Espanha. Desde então, a ilha ficou sendo chamada de “estado livremente associado”, mas sem ser um estado pleno da federação norte-americana, nem um país independente. Na prática, é uma colônia que não permite que os porto-riquenhos tenham soberania, moeda própria, diplomacia nem forças armadas.
A ilha enfrenta uma grave crise econômica, com 45% de sua população vivendo em estado de pobreza – mais de três vezes o percentual dos Estados Unidos. E o fato de seus cidadãos terem direito a passaporte americano faz com que Porto Rico sofra intensa migração: a ilha tem 3,4 milhões de habitantes, enquanto mais de 5 milhões de porto-riquenhos vivem nos EUA. Ricardo Rosselló, anunciou no ano passado que o território decretaria falência para tentar reestruturar sua dívida pública, estimada em mais de US$ 70 bilhões.
Eva Ayala, presidente da entidade Educamos, disse em coletiva de imprensa que “chegou o momento de que os professores nos façamos sentir com mais força na sociedade. Para o governo, os interesses das empresas ficam primeiro que nossas crianças e professores”. Para a porta-voz, “só uma ação contundente permitirá que o governo considere sua intransigência”.
“Trata-se da diminuição do Estado na área educativa como parte das políticas neoliberais impulsionadas pelo governo. Cortam gastos e aumentam os lucros através de demissões massivos, fechamento massivo de escolas, eliminação de direitos, privatização e aumento no custo deste serviço. Este chamado para a ação é crucial no momentos em que em PR, seis meses após a passagem dos furacões Irma e Maria e a só três meses antes de que comece a temporada de furacões, ainda não foi resolvida a devastação causada no ano passado. Ficam ainda milhares de pessoas sem luz, um desemprego catastrófico, grandes problemas de saúde, incluindo um aumento nos suicídios e a depressão, pessoas sem lar, e milhares de outros problemas que incluem um envenenamento de grandes proporções pelo armazenamento de cinzas tóxicas produto da queima de carvão, e as ineficazes ações – beirando em criminosas – das tarefas de “recuperação” por parte de Agência Federal de Gestão de Emergências, FEMA, e do Corpo de Engenheiros do exército dos EUA”, assinalou Eva Ayala.