Repúdio geral ao ataque à Previdência
Mesmo com suborno e chibata, governo não conseguiu 308 suicidas
A dificuldade de aprovar a emenda constitucional do Além-túmulo – o ataque à Previdência – é tanta, que Temer, Maia e outros elementos começaram a dar declarações de que não seria uma derrota, se a votação fosse adiada para o próximo ano.
Apesar disso, a batalha não está ganha.
Na segunda-feira, alguns empresários, que ocupam postos na diretoria de suas entidades de classe, declararam que vão “fazer corpo a corpo” com deputados, para que eles aprovem essa aberração. E que vão até as casas dos parlamentares, para impor a eles que aprovem esse suicídio político.
Bem, amigos leitores, gostaríamos de começar este artigo de forma elegante – como, aliás, é o tradicional estilo do nosso jornal. Infelizmente, às vezes não é possível. Então, vamos começar como é possível começar.
O que preocupa, não é se os empresários cometerão a grossura de invadir a casa dos deputados da base governista que resistem a votar contra as aposentadorias, contra o povo, contra a Previdência.
Nem o que eles oferecerão – ou não – aos deputados, ou que ameaças farão.
BURROS
É verdade que coisas muito graves já ocorreram neste país, de Collor a Dilma, passando por Fernando Henrique e pelo mandato de Palocci/Meirelles – digo, primeiro mandato de Lula – sem que esses mesmos empresários fizessem nada para defender seus interesses, e, muito menos, os do Brasil.
Porém, parece que eles encontraram energias para lutar contra os seus próprios interesses – e contra os interesses do Brasil.
Infelizmente, é preciso convir que o sujeito precisa ser muito burro para acreditar que a economia, ou lá o que seja, vai melhorar no Brasil se os trabalhadores estiverem condenados a somente aposentar-se depois de morrer – ou um pouco antes.
Meirelles, por exemplo, não para de berrar essa idiotice porque não tem compromisso algum com a economia brasileira, nem com o empresariado brasileiro, nem com o Brasil. Seu compromisso é com Wall Street – e somente. Qualquer um, minimamente informado neste país, sabe disso, até porque ele continua funcionário do Bank of America, proprietário do BankBoston.
“Reformas da Previdência” não faltaram neste país desde o primeiro governo da ditadura, em 1964. Aliás, foi mais uma “reforma da Previdência” que iniciou, em 1981, a implosão da própria ditadura.
Porém, vejamos algo mais recente.
É óbvio que o rebaixamento no valor das aposentadorias, desde o governo Fernando Henrique, foi um dos elementos, e dos principais, que jogaram o país na estagnação. O famigerado “fator previdenciário”, redutor tucano das aposentadorias, que Lula manteve, foi, também, uma importante contribuição para travar o crescimento, permitindo desviar recursos para o setor financeiro.
O desvio de recursos da Previdência – é a isso que estão chamando de “reforma da Previdência” – tem um efeito deletério sobre os investimentos das empresas, ao empoçar recursos no setor parasitário, não produtivo da economia – isto é, o setor financeiro – e também sobre o consumo da população.
Concentremo-nos no último aspecto.
Grande parte do que se chama “mercado interno” é composto pelas aposentadorias. Há milhares de municípios no Brasil cuja renda é formada, antes de tudo, pelas aposentadorias que o povo recebe. Quanto mais baixo é o valor real dessas aposentadorias, menos vendas, menos consumo, menos dinheiro em circulação, menos “combustível” para a indústria nacional e o comércio local.
Já tivemos (e ainda estamos tendo) essa experiência.
Agora, imaginemos o que aconteceria com as regras que Temer e Meirelles querem aprovar.
Aqui, seria o óbvio do óbvio:
1º) Como pouca gente conseguiria se aposentar com alguma decência, isso aumentaria muito o número de trabalhadores na força de trabalho (hoje são 104 milhões e 285 mil).
2º) Com isso, os salários dos trabalhadores na ativa seria rebaixado pelo aumento de gente procurando emprego ou na reserva formada pelos desempregados.
3º) As aposentadorias, obviamente, seriam rebaixadas – até porque o plano do governo, de acordo com o relatório, encomendado pelo governo Dilma ao Banco Mundial, e divulgado agora pelo governo Temer – é fazer com que as aposentadorias desçam abaixo do atual piso de um salário mínimo. Mesmo sem isso, elas teriam seu valor reduzido, pelas próprias regras que Meirelles e Temer querem impor.
O resultado do rebaixamento dos salários dos trabalhadores da ativa e das aposentadorias seria um estrangulamento do mercado interno maior ainda que o atual – ou seja, as indústrias nacionais, o comércio (e outros serviços), e, inclusive, a agricultura de produtos para a alimentação interna, ficariam com menos gente – ou, mais precisamente, menos dinheiro – que compre as suas mercadorias.
Para os empresários seria o corredor da morte. A maioria deles não tem a menor condição de vender sua produção no exterior.
Certamente, poderiam aumentar a parte de seus recursos que aplicam no mercado financeiro – ou seja, deixar, cada vez mais, de ser empresários produtivos para passar a especuladores e parasitas, até, no limite, liquidarem de vez as suas empresas, ou, mais precisamente, deixar que suas empresas sejam liquidadas ou engolidas por dinheiro estrangeiro.
Se é esse o ideal na vida desses empresários, que assim seja. Mas não acreditamos que o conjunto dos empresários seja tão tacanho, tão bitolado, com tão pouco apego aos seus próprios interesses, tão pouca coragem para defendê-los, para não falar nos interesses de sua classe ou do país de que fazem parte.
Vejamos, mais, a situação presente.
Já somos um dos países de mercado interno mais achatado, mais estrangulado, de todo o mundo.
A renda média domiciliar per capita no Brasil é R$ 1.226 – e em 20 Estados ela é ainda menor (cf. IBGE, “Rendimento domiciliar per capita 2016”, 24/02/2017).
No Brasil, 80% da população ganha de zero até R$ 2.203. E 90% ganha até R$ 3.256 (cf. IBGE, PNAD Contínua, “Rendimento de todas as fontes 2016”, 29/11/2017).
CONSUMIDOR
É evidente que, com esse nível de renda, as empresas (e a economia) vão estar estagnadas, por falta de compradores de mercadorias.
Pois essa é a questão: o trabalhador, para o empresário, não é apenas um custo. Ele é, também, um consumidor de suas mercadorias, seja direta ou indiretamente.
O empresário que não entende algo tão palmar, realmente não merece ser empresário, e não tem chance alguma de sobreviver como empresário.
Por piores que sejam os deputados da base governista – os que estão resistindo – eles percebem que, exatamente devido ao que acabamos de mostrar, seria um suicídio político votar em algo que, por sinal, também repugna, pelo menos a alguns, humanamente.
Mas, se é verdade que deputado que votar nessa torpeza não vai se reeleger, também é verdade que empresário que apoiar essa calhordice contra o povo não sobreviverá, exceto se o povo salvá-los de si mesmos, isto é, se a PEC do Além-túmulo for derrotada.
CARLOS LOPES