(HP 11/05/2016)
Apresentamos aqui entrevista com o presidente nacional do Partido Pátria Livre (PPL), Sérgio Rubens de Araújo Torres, em que avalia a conjuntura nacional atual e seus possíveis desdobramentos.
HP – E Dilma, já era?
Sérgio Rubens – Esperamos que sim. No plano formal, Dilma, como Al Capone, está sendo derrubada pelo mais inocente de seus delitos, as pedaladas e os créditos suplementares não autorizados pelo Congresso. Na prática, está sendo cassada porque numa democracia é impossível governar quatro anos se colocando aberta e frontalmente contra a vontade da esmagadora maioria da população. Ela e os líderes do PT deveriam ter pensado duas vezes antes de trair o povo nas eleições, apresentando um programa de esquerda e governando com um de direita. Esse governo é fruto de um estelionato eleitoral financiado com dinheiro roubado da Petrobras. Que legitimidade isso tem?
HP – Mas essa cassação não é um golpe contra contra a esquerda?
SR– Os líderes do PT perderam a vergonha e o senso de ridículo. Patrocinaram uma política neoliberal, uma política de direita, até a medula, que afundou o país produzindo 3,2 milhões de desempregados em 16 meses e uma brutal concentração da renda. Ainda assim, querem ser considerados de esquerda… É dose.
HP – Pode ser mais específico quando fala em política neoliberal?
SR – Juros astronômicos; privatizações; desnacionalização da economia; arrocho salarial; cortes nos direitos trabalhistas, previdenciários e sociais; assalto despudorado ao patrimônio público.
HP – Mas o discurso anticorrupção não é próprio da direita?
SR – Próprio da direita é a corrupção. Atacar a corrupção alheia para encobrir a sua é próprio da hipocrisia da direita. Até nisso o PT se comporta como tal.
HP – Não há nada que se salve na política do PT, nem a valorização do salário mínimo? Dilma jurou que não ia mexer na lei…
SR – É outra impostura. A recuperação do salário mínimo está parada há seis anos, porque essa lei subordina o aumento real do salário mínimo ao crescimento do PIB. Como o PIB não cresce, o salário também parou de crescer. E, num país com os salários tão baixos como o nosso, melhoria salarial não é consequência, é causa do aumento do PIB. A maior parte da recuperação do salário mínimo ocorreu no governo Lula, antes da aprovação da lei, e ajudou a promover o crescimento econômico daquele período. A lei deteve essa recuperação.
HP – E Temer?
SR – Com Temer teremos mais do mesmo. A escolha de Meireles para o ministério da Fazenda, que era a proposta de Lula para Dilma, sinaliza que Temer vai manter o mesmo projeto, que, aliás, também é o dos tucanos – as disputas entre eles são só para definir quem o encabeça. Isso significa que a crise econômica vai se agravar. É impossível tirar o país da crise sem uma redução significativa das taxas de juros. Não há crescimento econômico que agüente uma transferência anual de R$ 500 bilhões de juros do setor público para o setor financeiro. Meireles representa quem? Os destinatários destes R$ 500 bilhões.
HP – Então, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come?
SR – Não. Se formos capazes de unir o Brasil e antecipar as eleições de 2018 – ao menos as eleições presidenciais – para realizá-las neste ano, vocês podem estar seguros de que o bicho foge. Provavelmente isso terá que ser feito através de um plebiscito. O Congresso Nacional tem dificuldades para convocar essas eleições, mas o povo não tem, pois é o que ele deseja. E vai desejar mais, conforme o governo Temer vá mostrando ao que veio. A luta, agora, é essa.