Na opinião do presidente da Abradin, “não há como agradar todos os donos. Se fizer o que os acionistas privados querem, prejudica a economia do país. Se fizer o que o governo quer, prejudica os interesses dos privados”
O economista Aurélio Valporto, presidente da Associação Brasileira de Investidores (Abradin) avaliou que a saída de Jean Paul Prates do comando da Petrobrás se deu pelo fato dele defender prioritariamente os interesses dos acionistas privados da empresa em detrimento dos interesses da política econômica do governo.
“A demissão do presidente da Petrobrás é muito mais do que uma briga de diferentes forças políticas dentro do governo. É o resultado da dualidade esquizofrênica da personalidade jurídica da empresa. Parte dela pertence ao governo brasileiro e outra parte a acionistas privados, a maior parcela deles estrangeiros”, apontou.
Ele destacou, em vídeo enviado ao HP, que “os interesses do governo e dos acionistas privados são geralmente antagônicos”. “A Petrobrás é a maior empresa de energia do Brasil. Fornece mais energia do que a Eletrobrás, sob a forma de combustíveis. Então, é uma empresa essencial para a política econômica do país. Não só em função dos preços que vende seus produtos, especialmente combustíveis, mas também pelo direcionamento de seus investimentos”.
“Para os acionistas privados, a empresa deve investir o mínimo, vender seus produtos pelo maior preço possível para ter também o maior lucro possível e distribuir todo esse lucro, os famosos dividendos, para eles, seus acionistas”, destacou Valporto. “Isso é bom para esses acionistas, mas é ruim para a economia do país, uma vez que combustíveis caros causam inflação e impedem o crescimento do emprego e da renda”, acrescentou.
“Por outro lado”, prosseguiu Valporto, “um governo que almeje crescimento da economia quer que os combustíveis sejam vendidos por preços mais baixos, baseando-se no custo de produção da empresa e não no preço praticado pelo mercado externo. Quer também que seus lucros sejam investidos no aumento da produção da empresa, alavancando a economia”. “O problema é que isso implica em menores lucros e uma distribuição de dividendos mais baixa”, observou.
Na opinião do economista, “não há como agradar todos os donos. Se fizer o que os acionistas privados querem, prejudica a economia do país. Se fizer o que o governo quer, prejudica os interesses dos privados”.
“No governo passado, o presidente Bolsonaro dizia que a Petrobrás era um problema, e, de fato foi um dos maiores problemas de seu governo. Investiu pouco, praticou preços ditados pela OPEP+ e, com isso, a empresa teve lucros nababescos, totalmente distribuídos entre os acionistas, mas causou inflação e desemprego na economia”, afirmou. “Podemos dizer que o ex-presidente perdeu a batalha para os acionistas privados, que vêm do mercado financeiro”, disse Valporto.
“O agora ex-presidente da Petrobrás Jean Paul Prates tentou se equilibrar numa tênue linha e tentou agradar aos dois lados. Acabou com a política de paridade de preços definidos pela OPEP+, embora não tenha se afastado tanto dos preços externos, mas ao mesmo tempo não aumentou os investimentos no ritmo desejado pelo governo e distribuiu como dividendos aos acionistas uma parcela de seus lucros que o atual presidente entende que deveria ser investida, e assim fomentar a retomada do crescimento econômico”.
“O fato”, conclui Aurélio Vaporto, “é que o presidente Lula assumiu o governo determinado a não perder a briga da Petrobrás para os interesses dos acionistas privados e, na sua visão, Jean Paul Prates estava cuidando mais dos interesses desses acionistas do que os interesses da política econômica do governo”. “Jean Paul Prates é apenas mais um dos diversos presidentes demitidos de seu cargo nos últimos governos pela insanidade da dualidade esquizofrênica na composição societária da Petrobrás”, disse o economista.
Assista ao vídeo que Aurélio Valporto enviou ao HP analisando a mudança na Petrobrás