A deputada Tulsi Gabbard participou do primeiro debate entre pré-candidatos do Partido Democrata realizado pela rede NBC em duas noites seguidas no Adrienne Arsht Center, em Miami. 20 pré-candidatos se inscreveram e 10 debateram na quarta (26) e outros 10, na quinta-feira (27). Tulsi Gabbard destacou-se na primeira rodada por criticar a política externa belicista e fomentadora de guerras dos EUA, e foi enfática ao alertar para o perigo que representa hoje uma guerra de Washington contra o Irã.
A coluna que traduzimos, do articulista Christian Britschigi, mostra que Gabbard assumiu para si um papel nunca antes abraçado – e de forma tão definida – por outro pleiteante a uma candidatura do partido: trazer para a discussão nas primárias democratas a questão central da política externa de dominação, agressão e ocupação por parte de Washington.
O colunista considera que Gabbard traz com isso “uma lufada de ar fresco” neste início das primárias e, de fato, essa não é uma questão de menor importância, uma vez que os mais diversos presidentes democratas não se negaram a começar ou a dar continuidade a guerras pelo mundo. Kennedy, Johnson, Clinton e, mais recentemente, Obama, encabeçam essa lista.
N.B.
CHRISTIAN BRITSCHGI*
“Enquanto o restante dos candidatos, no primeiro debate do Partido Democrata desta noite (26), fizeram o máximo para descreverem o quanto seus oponentes não eram socialistas o suficiente, a deputada Tulsi Gabbard se posicionou para manter o país fora de uma nova guerra.
Quando questionada se ela voltaria a trazer o país para o acordo nuclear com o Irã, de 2015, – primeiramente negociado pelo governo Obama e do qual o país saiu sob Donald Trump – Gabbard deu um inequívoco sim, e aproveitou para alertar sobre as graves consequências da guerra.
‘Uma guerra com o Irã seria pior do que a guerra com o Iraque’, declarou Gabbard, veterana da Guerra do Iraque.
‘Donald Trump e seu gabinete de falcões-galinhas —Mike Pompeo, John Bolton e outros – estão criando uma situação onde uma faísca poderia acender uma guerra com o Irã. Trump precisa engolir sua empáfia e voltar ao acordo com o Irã’, acrescentou.
A posição de Gabbard contrastou com as posições oferecidas pelos demais candidatos democratas no palco do dia 26. O senador Cory Booker (Nova Jersey) foi o único a dizer claramente que não entraria de novo no acordo pelo qual Obama trabalhou, sugerindo que tentaria um novo e melhor.
A senadora Amy Klobuchar (Minesota) disse que, ainda que fosse a favor da reentrada no acordo, ela pressionaria por termos mais restritos com relação ao Irã. Klobuchar também enfatizou que se ocorresse uma guerra com o Irã, isso teria que passar por uma autorização congressual.
Gabbard manteve o foco na política externa agressiva dos Estados Unidos durante toda a noite. Quando perguntada acerca da diferença de salários entre os gêneros, a deputada do Havaí, declinou de falar do assunto para usar o seu tempo com mais denúncias da política intervencionista do governo atual.
Mais adiante, no debate, quando o deputado por Ohio, Tim Ryan, referiu-se à morte de dois soldados norte-americanos no Afeganistão como uma razão para a continuação da guerra com tropas norte-americanas no país, Gabbard contestou:
‘O senhor vai dizer aos pais destes dois soldados, que foram mortos no Afeganistão, que nós devíamos estar engajados nesta guerra? Isto é inaceitável. Nós perdemos muitas vidas, gastamos muito dinheiro.’
Chamar uma atenção crítica para as intermináveis guerras de além-mar dos EUA, tem sido o propósito da campanha de Gabbard desde o início.
Desde quando anunciou sua candidatura à indicação do Partido Democrata à Presidência, ela disse ao jornalista da CNN, Van Jones, que ‘existe uma questão principal que é central a todo o resto, e ela é a questão da guerra e da paz’.
Este foco direcionado pode não lhe ter conquistado muitos votos no partido, dada a predominância da política interna no debate desta noite e na primária democrata como um todo.
Isso mostra que Gabbard não estava querendo simplesmente cavalgar em um assunto qualquer por ser mais palatável, questões que vão desde o risco com o consumo da carne vermelha até o do salário igual para homens e mulheres, para entrar no assunto da produção de guerras pelos Estados Unidos no exterior, o que foi, com certeza, uma lufada de ar fresco, em um debate, que de outra forma seria uma aborrecida e inócua retórica de ‘esquerda’ do restante do campo democrático no debate da noite”.
*É editor associado de Reason.com
Título original: Tulsi Gabbard enfrenta demais democratas com respostas contra a guerra