“Litro tem que ser vendido na bomba por R$ 4,91 e não por R$ 7,30”, afirma o engenheiro Fernando Siqueira, diretor da Aepet
“O litro de gasolina tem que ser vendido na bomba por R$ 4,91 e não por R$ 7,30″ defende o engenheiro Fernando Siqueira, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), no artigo Manipulação na estrutura de preços da gasolina”. “Ainda assim, gerar bom lucro para garantir os investimentos da Petrobras”, completa o especialista. “Não se trata aqui de gerar perdas para os acionistas, mas sim, evitar que eles obtenham lucros imorais como vem ocorrendo, desde 2018”, afirma.
Veja a seguir o artigo reproduzido do site Holofote.
Manipulação na estrutura de preços da gasolina
Por Fernando Siqueira
Dando sequência à série de artigos que explicitam a manipulação dos preços dos combustíveis pela atual direção da Petrobrás e a transferência de recursos do povo brasileiro para os acionistas privados (63,25% do capital total da Companhia), mostraremos a manipulação dos preços da gasolina.
Lembrando que tudo o que está ocorrendo tem o objetivo de jogar a opinião publica contra a Petrobras visando privatizá-la sem que haja reação do povo brasileiro.
Vamos detalhar e justificar esta afirmação no próximo artigo.
Buscando na internet a estrutura de preços dos combustíveis, vemos que a estrutura referente à gasolina C (comum) tem a seguinte participação, em reais, dos diversos participantes envolvidos:
ICMS – 1,75 (24%); Distribuição e revenda – 1,01 (13,8%); Remuneração do etanol misturado na gasolina – 1,04 (14,25); Impostos federais – 0,69 (9,45%); Parcela da Petrobrás – 2,81 (38,5%).
O litro de gasolina, nesta estrutura tem o preço total de R$ 7,30 por litro.
Aparentemente, a Petrobrás fica com R$ 2,81 por litro (38,5%). Ocorre que em cada litro de gasolina vendida nos postos, a Petrobras contribui com 73% e o etanol – álcool anidro – misturado à gasolina contribui com 27%.
Portanto, a Petrobrás recebe R$ 2,81 por 0,73 do litro. Ou seja, a sua remuneração por 100% de um litro é, na realidade, R$ 3,85.
Como o custo de produção de um litro de gasolina fica em torno de R$ 1,30, o ganho da Petrobrás é absurdo, cerca de 200%.
Como visto nos artigos anteriores, até 1995 o governo federal detinha 84% do capital social da Companhia.
No Governo FHC, que vendeu 36% das ações na Bolsa de Nova Iorque, por um preço irrisório, essa participação caiu para 37%.
Subiu para 48% no governo Lula com a capitalização feita por conta da cessão onerosa, em que o governo vendeu sete blocos para a Petrobras explorar.
Agora, no governo Bolsonaro, voltou para 36,75%. Assim, 63,25% desse lucro imoral que a Petrobrás vem obtendo, à custa do povo brasileiro, vão para acionistas privados, sendo 42% para acionistas da Bolsa de Nova Iorque.
Ou seja, transfere recursos do povo, que paga preços absurdos, sem justificativa, para acionistas privados. E gera uma inflação perniciosa, que prejudica ainda mais a todos os brasileiros.
Olhando a estrutura de preços supracitada, e o fato de que a Petrobrás recebe R$ 2,81 por 0,73 de um litro, ou seja, R$ 3,85 por litro, vemos que esta parcela da Petrobrás pode ser reduzida de R$ 3,85 para R$ 2,60.
Isto representa obter um lucro de 100%, que ainda é alto, mas permite que ela obtenha recursos para investir na imensa reserva do pré-sal.
Assim, no litro vendido nos postos, 73% de 2,60 são R$ 1,89, que é a parcela que ela deveria receber por litro vendido na bomba.
Portanto, a parcela adequada da Petrobrás (73% do litro vendido) cai dos R$ 2,81 para R$ 1,89. Com isto, aplicando os mesmos percentuais da estrutura de preços acima, teremos as seguintes parcelas em reais se os participantes envolvidos e os acionistas passarem a ter um lucro decente:
ICMS – 1,18 – (24%); Distribuição e revenda – 0,68 (13,8%); Remuneração do etanol misturado na gasolina – 0,70 (14,25%); Impostos Federais – 0,464 (9,45%); Parcela da Petrobras – 1,89 (38,5%); Preço total por litro – R$ 4,91.
Portanto, o litro de gasolina tem que ser vendido por R$ 4,91 e não por R$ 7,30. Não se trata aqui de gerar perdas para os acionistas, mas sim, evitar que eles obtenham lucros imorais como vem ocorrendo, desde 2018.
Reiterando que esta parcela da Petrobras é referente a 0,73 de um litro de gasolina vendido na bomba ao consumidor (0,27 é de álcool anidro).
Logo, o litro de gasolina pode ser vendido na bomba por R$ 4,91 e, ainda assim, gerar bom lucro para garantir os investimentos da Petrobras.
A grande mídia, que Paulo Henrique Amorim chamava de PIG – Partido da Imprensa Golpista – e que defende a privatização da Petrobras, comete uma série de fake news contra a Companhia. Vejamos dois exemplos significativos:
“O preço da Petrobras ainda está 11% abaixo do internacional” e “É bom privatizar a Petrobras, para ter mais concorrência e fazer com que os preços caiam para o consumidor”.
Essas duas mentiras são desmascaradas pelos preços que mostramos no artigo anterior. Nos países que têm monopólio, todos os preços são inferiores aos da Petrobras; nos países que têm concorrência, privada, todos os preços são muito superiores aos da Petrobras.
Vale a pena relembrar o final do artigo anterior, que desmente de forma categórica as falácias dessa grande mídia:
O preço em dólar do litro de gasolina das estatais monopolistas: Venezuela – 0,001; Irã – 0,06; Angola – 0,268; Kwait – 0,348; Malásia – 0,49; Iraque – 0,51; Catar – 0,56; Arábia Saudita – 0,62; Rússia – 0,72; Brasil – 1,20 (Petrobras não é mais executora única do monopólio da União e a distribuição agora é totalmente privada).
Preços das empresas dos países sem monopólio, em dólar por litro: Canadá – 1,34; Japão – 1,43; Coreia do Sul – 1,525; Espanha – 1,736; Bélgica – 1,90; França – 1,91; Alemanha – 1, 949; Inglaterra – 1,96; – Portugal – 2,001; Suécia – 2,068; Dinamarca – 2,148; Holanda 2,282.
Portanto, a afirmação nº 1 de que o preço da Petrobras está 11% abaixo dos preços internacionais, não tem qualquer sentido. A que preços internacionais se referem? A realidade é que o preço da Petrobrás está acima de todos os preços das estatais monopolistas.
Na afirmação 2 vemos que os preços onde há monopólio são muito menores do que nos países onde não há. Portanto, se privatizarem a Petrobrás como defendem os jornalistas da grande mídia, os preços vão subir, ao contrário do que eles afirmam.
Infelizmente, há um grupo de pessoas que é pago para defender os interesses das grandes corporações e dos países hegemônicos. Ou seja, ganham comissões para ajudar a vender as nossas riquezas.
Fernando Siqueira é engenheiro, diretor da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras) e presidente da Apape (Associação de Participantes da Petros)