
Após a chegada de Bolsonaro à Presidência da República, o preço das carnes explodiu nas gôndolas dos supermercados e açougues do país. Entre janeiro de 2019 e agosto de 2021, o aumento acumulado no preço das carnes chegou a 69,9%, de acordo com Valor Econômico, com base em números do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.
“Para o consumidor, é um grande desafio. O preço das carnes afastou o item da dieta dos brasileiros. É um problema que atinge também diferentes setores, como restaurantes, hotéis, hospitais”, disse o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV/Ibre, André Braz, ao alertar que o impacto dos preços altos não apenas afeta o consumidor final, mas também setores de alimentação e alojamento.
“Todos pagam mais pela proteína e é um problema que precisa ser enfrentado. O dono do restaurante ou repassa o custo, mas pode perder o cliente, ou reduz a proteína, por exemplo”, disse Braz.
No resultado acumulado em 12 meses até agosto, as carnes subiram 30,77%. A disparada nos preços é generalizada entre os cortes, vai desde o filé mignon, que é considerada uma carne nobre, com alta de 35,27%, como também carnes tipicamente chamadas de “segunda”, como acém, 2,55%, pá, 35,86%, e músculo, 38,89%.
O impacto é ainda bem maior para quem recebe menos, que além da comida se depara com a carestia nos preços do botijão de gás e na conta de luz. Sem emprego e sem renda, dois anos atrás 10 milhões de brasileiros acordavam sem saber se iam comer durante o dia, hoje são 19 milhões em situação de extrema pobreza.
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) aponta que a variação acumulada em 12 meses do preço da carne bovina está em dois dígitos há quase dois anos, desde outubro de 2019, sendo muitos meses nas faixas dos 30% e 40%. Em agosto deste ano, estava em 30,06%.
Ainda no acumulado de 12 meses, o preço de aves segue na trajetória de inflação, em dois dígitos, de forma ininterrupta desde setembro de 2020, chegando ao patamar de 56,20% em agosto de 2021.
Na carne suína, são 29 meses seguidos de taxas em dois dígitos, desde abril de 2019.
Segundo pesquisa do Datafolha, 85% dos brasileiros reduziram ou deixaram de consumir alimentos desde o início do ano por conta da inflação.
O principal item que desapareceu da mesa dos brasileiros foi a carne bovina, cujo consumo foi reduzido por 67% dos entrevistados entre 13 e 15 de setembro.
Com a inflação oficial do país em dois dígitos – segundo prévia de setembro, 10,05% no acumulado de 12 meses –, hoje, milhões de brasileiros já vivem sem acesso pleno e permanente a alimentos.
Na semana passada, enquanto Bolsonaro comemorava 1000 dias de seu governo, brasileiros com fome disputavam carcaça de boi, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
A reportagem do jornal Extra mostrou a triste realidade de pessoas formando fila no aguardo para recolher sobras de supermercados da cidade, que são distribuídas pelo ‘Caminhão de ossos’. Segundo o motorista do caminhão, seu José, antigamente as pessoas catavam carcaças para darem aos cachorros, mas hoje, a realidade é que estes restos de ossos e sebos alimentam famílias inteiras. “Pedem para comer mesmo. A gente avisa que está meio estragado, que pode passar mal. Mas é assim mesmo. É triste meu irmão”, lamentou José Divino Santos, de 63 anos.
São 32 milhões de pessoas que estão em busca de um trabalho no país com a economia em estagflação – fenômeno caracterizado por uma economia que não cresce, ou que apresenta crescimento negativo, com inflação (alta generalizada dos preços).