Aumentos ficaram acima do IPCA de fevereiro, antes da alta autorizada dos combustíveis por Bolsonaro e das sanções econômicas impostas à Rússia
A inflação dos alimentos que compõem a cesta básica chegou a 12,67% no acumulado de 12 meses até fevereiro, ultrapassando a inflação oficial – medida pelo IPCA do IBGE – que acumula alta de 10,54%, para o mesmo período analisado. É o que aponta um estudo produzido por professores do curso de economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
A última vez que a inflação dos alimentos ficou acima da inflação geral foi em outubro do ano passado. “Toda a população é afetada pela alta dos alimentos que compõem a cesta básica. As pessoas querem comprar produtos como café, açúcar, pão e carne. Mas são as classes com renda mais baixa que sofrem mais com uma inflação tão alta”, declarou o coordenador do curso de economia da PUCPR Jackson Bittencourt à Folha.
O indicador é calculado com base nos 13 produtos de alimentação definidos pelo Decreto Lei n° 399, de 30 de abril de 1938, que regulamentou o salário mínimo no Brasil, e que continua em vigor. Os registros da série tiveram início em setembro. Naquele mês, a inflação da cesta básica era ainda maior, estimada em 15,96%. Enquanto isso, o IPCA estava em 10,25%.
Veja a variação dos 13 produtos da cesta básica, em 12 meses até fevereiro:
Café em pó: +61,2%
Açúcar cristal: +36,3%
Tomate: +31,3%
Margarina: +20,6%
Banana prata: +18,6%
Carne (contrafilé): +14,2%
Farinha: +12,1%
Óleo de soja: +10,9%
Batata: +10,6%
Pão francês: +7,1%
Leite longa vida: +2,4%
Feijão: -3,2%
Arroz: -17,9%
O estudo da PUCPR tem como base os dados de alimentos que integram a pesquisa do IPCA, calculado pelo IBGE, que ainda não consideram as sanções impostas à Rússia, em relação ao conflito com a Ucrânia, que elevou as cotações de commodities agrícolas, como trigo, milho, soja e petróleo. Também não contabilizam o mega aumento nos preços dos combustíveis anunciado na semana passada pelo governo Bolsonaro, de 18,8% no preço da gasolina, do diesel em 24,9% e o do gás de cozinha em 16,1%.
A carestia dos alimentos já aterrorizava o Brasil antes do conflito no Leste Europeu. Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, deram corda para a disparada dos preços dos alimentos quando eliminaram os estoques reguladores da Conab em 2019. Com o choque do preços dos alimentos provocados pela pandemia da Covid-19, o Brasil ficou sem estoques para fazer o abastecimento do mercado interno e viu o país aumentar a exportação de produtos básicos, como carnes e frangos, para países que estavam preocupados em garantir a segurança alimentar de seus cidadãos. No Brasil os preços, que já castigavam os brasileiros naquele período, que além disse viram suas rendas despencarem, dispararam.
Alinha-se isso, a manutenção da desastrosa política de atrelar os preços da Petrobrás ao preço do barril de petróleo no mercado internacional e à cotação do dólar. Os preços dos combustíveis não param de subir, o que faz elevar ainda mais os custos da produção alimentos e o transporte de mercadorias no Brasil.