Além dos alimentos, vestuário, saúde, despesas pessoais, educação, artigos para residência e habitação subiram de preço em agosto. Deflação no mês foi puxada apenas pelo grupo de transportes e comunicação
Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de -0,36%, fechando em alta de 8,73% nos últimos 12 meses, segundo divulgou o IBGE nesta sexta-feira (9). A deflação registrada no indicador oficial de inflação do Brasil não chegou aos supermercados do país, já que os preços dos alimentos continuaram a avançar na passagem de julho para agosto, assustando as famílias brasileiras e agravando a fome no país que explodiu com Bolsonaro, atingindo 33 milhões de brasileiros.
Em agosto, a alta de 0,24% no grupo alimentação e bebidas foi a nona alta mensal seguida. No ano, acumula aumento de 10,10% e, em 12 meses, de 13,43%.
Sete das nove áreas pesquisadas pelo IBGE tiveram alta em agosto. Apenas transportes e comunicação registraram deflação: vestuário: +1,69%, saúde e cuidados pessoais: +1,31%, educação: +0,61%, despesas pessoais: +0,54%, artigos de residência: +0,42%, alimentação e bebidas: +0,24%, habitação: +0,10%, comunicação: -1,10% e transportes: -3,37%.
Só neste ano, de janeiro a agosto, a inflação da alimentação no domicílio chega a 11,85%. Em 12 meses, a alta é de 15,63%, quase o dobro do que foi registrado pelo índice geral para o mesmo período.
Em agosto, houve altas em componentes importantes na cesta das famílias, como o frango em pedaços (2,87%), o queijo (2,58%) e as frutas (1,35%). As altas destes produtos chegam a 17,91%, 26,97% e 32,03%, respectivamente, em um ano.
O preço do ovo também registrou alta no mês passado, subiu 0,96%, ficando em alta de 17,40% em 12 meses. O ovo é um dos itens alimentares mais usados pelas famílias pobres, como substituto das carnes.
A carestia dos alimentos ocorre num ambiente de elevado nível de desemprego no País, com 9,9 milhões de desempregados e 4,2 milhões de “desalentados” – pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditar que há oportunidade ou por outros motivos. Há ainda, mais de 39 milhões de pessoas, ou quase 40% da força de trabalho no País, exercendo atividades de trabalho informal, trabalho precário, com instabilidade ou jornada excessiva e de baixos salários, vivendo dos famosos “bicos” para gerar alguma renda.
ALTA NOS PREÇOS DOS ALIMENTOS CHEGA A ATÉ 91%
Entre os campeões da inflação dos alimentos, no intervalo de 12 meses, estão: Cebola (91,21%), Mamão (81,83%), Melão (79,34%), Melancia (61,88%), Leite longa vida (60,81%), Manga (47,05%), Café moído (46,34%), Tangerina (41,56%), Milho em grão (34,83%), Farinha de trigo ( 33,22%), Maçã (32,1%), Alimentação infantil (31,54%), Banana prata (31,07%), Morango (30,64%), Maionese (30,49%) e Macarrão instantâneo (29,77%).
A deflação ficou também distante dos itens de higiene pessoal que subiram 2,71% em agosto, acumulando alta de quase 12% entre agosto deste ano e agosto de 2021. Destaques, para o preço do Sabonete, que aumentou 27,11% em 12 meses, do Papel higiênico (12,55%); Absorvente (11,12%), Fraldas descartáveis (11,03%) e produtos para cabelos (14,11%).
Na passagem de julho para agosto, o grupo Saúde e cuidados pessoais registrou aumento de 0,49%, fechando em alta de 8,8% em 12 meses.
No drama da carestia, os trabalhadores de baixa renda, ao irem fazer as compras nos supermercados, são obrigados a fazer escolhas, não apenas de alimentos, mas também na hora de usar produtos básicos de higiene pessoal. Uma pesquisa recente da Kantar, consultoria que monitora hábitos de higiene e consumo, revelou que 31% dos brasileiros cortaram o sabonete e o xampu da lista de compras.
“O aumento da inflação e o agravamento do cenário econômico levaram o consumidor a ter de fazer escolhas, seja cortando produtos, seja racionalizando o uso para que durem mais”, afirmou Rafael Couto, diretor de soluções avançadas da consultoria.
Para garantir o mínimo de comida no prato da família, milhões de brasileiros estão deixando de lado as contas, muitas delas, contas básicas, como água e luz, e o nível de inadimplência é recorde atingindo cerca de 67 milhões de pessoas.
Comprar roupas e calçados também ficou ainda mais difícil para os brasileiros. Só neste ano a alta chega a 11,62% e, em 12 meses, de 17,44%. No mês de agosto, o grupo Vestuário registrou aumento de 1,69%, sendo a maior variação de alta no IPCA. Os destaques foram as roupas femininas (1,92%), masculinas (1,84%) e os calçados e acessórios (1,77%).
Já os artigos de residência também subiram 0,42% em agosto e, em 12 meses, fecharam em alta de 12,67%.
A deflação registrada no IPCA foi puxada pelos preços dos combustíveis em geral, que caíram 10,82% em agosto, com destaque para o recuo de 11,64% no valor médio do litro da gasolina. Em 12 meses, os combustíveis acumulam queda de 7,11%, contribuindo para uma alta menos acentuada no grupo transportes, acumula alta de 7,62% em 12 meses.
Os combustíveis tiveram o ICMS limitado às vésperas das eleições por meio da Lei Complementar 194/22 do governo Bolsonaro, que propõe a perda de arrecadação de recursos do ICMS, que seriam destinados à prestação de serviços públicos estaduais e municipais, em troca de uma redução momentânea nos preços da gasolina, do diesel e outros produtos da Petrobrás, que têm seus preços fixados ao dólar e ao barril do petróleo no mercado internacional.
Mesmo com o recuo de -3,76% no mês passado, o preço do óleo diesel acumula alta de 53,16% em 12 meses. O diesel alto tem impacto no preço dos alimentos, por onerar a produção e os serviços de transportes de alimentos.
Veja abaixo a variação dos grupos pesquisados pelo IBGE, no acumulado em 12 meses:
Alimentação e bebidas (13,43%)
Habitação (3,83%)
Artigos de residência (12,67%)
Vestuário (17,44%)
Transportes (7,62%)
Saúde e cuidados pessoais ( 8,8%)
Despesas pessoais (7,87%)
Educação (7,08%)
Comunicação (2,26%)