
Em seu discurso, Suzuki Shiro ofereceu “sinceras condolências àqueles que perderam suas vidas” em 9 de agosto de 1945 pela 2ª bomba atômica lançada pelos EUA no país, quando foram executadas instantaneamente 74 mil pessoas, deixando mais de 120 mil vítimas em Nagasaki
Neste sábado, 9 de agosto, data em que a humanidade relembra os 80 anos do bombardeio atômico que devastou Nagasaki e ceifou, instantaneamente, a vida de mais de 74 mil japoneses da cidade e deixando mais de 120 mil vítimas, o prefeito Shiro Suzuki, homenageou as vítimas da segunda bomba atômica lançada pelos EUA três dias depois da explosão em Hiroshima.
Em 1982, o falecido Senji Yamaguchi, que proferiu seu primeiro discurso nas Nações Unidas como sobrevivente da covardia atômica norte-americana, relatou a dimensão do horror que presenciou na época. “Ao meu redor, havia pessoas com os olhos saltados, pessoas com cacos de madeira e vidro cravados no corpo, uma jovem mãe segurando um bebê com a cabeça meio decepada, chorando e gritando. De ambos os lados, corpos jaziam como pedras”, lamentou Yamaguchi, que sofreu queimaduras graves de terceiro grau em partes do rosto, ombros e abdômen, e foi o único dos colegas de trabalho que sobreviveu no dia da explosão.
Além das dezenas de milhares de vidas ceifadas pelo impacto nuclear às 11 horas e dois minutos daquele dia fatídico, a radiação fez com que o número de mortos dobrasse nos meses seguintes, por conta da gravidade das queimaduras, do envenenamento e da variedade de lesões, que expuseram ao mundo até onde o império estava disposto a ir para afirmar sua supremacia. O bombardeio norte-americano que havia devastado Hiroshima três dias antes (6 de agosto), matando mais de 140 mil homens, mulheres e crianças, o mais hediondo dos crimes, já havia apontado o rumo da caminhada.
REPRESENTAÇÃO DE MAIS DE 100 PAÍSES NO MEMORIAL DA PAZ
Diante de uma representação de mais de 100 países, a “Cerimônia Memorial da Paz às Vítimas da Bomba Atômica de Nagasaki” deste ano foi marcada por uma solenidade em que ressoou – pela primeira vez desde o maior ato de terrorismo de Estado da história – o sino restaurado da catedral da Imaculada Conceição, reconstruída em 1959.
O prefeito de Nagazaki citou seu conterrâneo Senji Yamaguchi, sobrevivente, que descrevera o horror da explosão e apelara à humanidade: “Observem atentamente meu rosto e minhas mãos. Não devemos permitir que nem uma única pessoa, incluindo as pessoas do mundo e as crianças que ainda não nasceram, sofra a morte e o sofrimento causados pelas armas nucleares que vivenciamos”.
A capitulação dos sucessivos governos japoneses aos EUA fez com que proliferasse a versão de que os dezenas de milhares de sobreviventes da bomba (hibakusha, em japonês) – fulminados por cânceres e pela leucemia – fossem vítimas de propaganda enganosa. Segundo a versão dos capachos, eram resultado da “doença dos raios”, hereditária e contagiosa. Portanto, que era melhor manter-se bem longe dos hibakusha, que além de sofrerem com os males físicos, também passaram ser segregados. Isso fez com que o seu reconhecimento como “vítima oficial” das bombas atômicas, que concedeu direito a atendimento médico gratuito, tenha sido dado sob condições extremamente restritivas, excluindo boa parte deles de socorro.