Com 11 candidatos no palco, não houve a polarização entre situação e oposição. Russomanno saiu com a máxima que, por ser “amigo de Bolsonaro”, vai angariar mais dinheiro
O debate desta quinta-feira (01) entre 11 dos 14 candidatos a prefeito de São Paulo, promovido pela Rede Bandeirantes, não apresentou a tradicional disputa plebiscitária entre situação e oposição.
O que se viu foram embates mais localizados. Como disse o Estadão, em artigo publicado nesta sexta-feira (02), a dispersão de assuntos, a linha de defesa adotada pelo prefeito e o grande número de candidatos acabou beneficiando o desempenho do tucano, que teoricamente, por estar no governo, deveria ser o mais cobrado.
Tanto o candidato do PT, Jilmar Tatto, quanto Andrea Matarazzo (PSD), bem que tentaram se confrontar com a administração de Bruno Covas, mas não conseguiram marcar os pontos que almejavam.
Tatto levantou problemas como a redução do tempo do bilhete único e os cortes no programa Leve Leite e Matarazzo criticou a obra da prefeitura do Vale do Anhangabaú. A linha de defesa de Covas foi contra-atacar, criticando a administração petista da cidade e apontar que a amargura de Matarazzo era ressentimento por ele não ter conseguido a indicação como candidato pelo PSDB.
Márcio França também chegou a ensaiar uma dobradinha com Andrea Matarazzo nas cobranças a Bruno Covas. França citou as obras nas calçadas e disse que elas estavam atrapalhando a volta do funcionamento das lojas. Tanto França quanto Matarazzo criticaram a falta de planejamento e prioridades erradas da administração tucana. Eles se referiam à construção pela prefeitura de uma grande fonte luminosa no Vale do Anhangabaú.
Esquivando-se de cobranças mais duras, Covas foi quem trouxe o tema do racismo para o debate. Para isso, ele se dirigiu ao deputado Orlando Silva (PCdoB), apontado por ele, como único candidato negro, e pediu que ele falasse sobre suas opiniões e medidas que tomaria contra a discriminação racial.
Orlando aproveitou a pergunta para denunciar a discriminação que existe no país e na cidade de São Paulo. Apresentou sua visão sobre o problema e lembrou a grande contribuição dos negros na construção do Brasil.
A participação de Celso Russomanno no debate esclareceu para muita gente os motivos que levaram sua assessoria a avaliar, há alguns dias, a possibilidade do candidato não participar desses encontros.
O motivo é que, ao vê-lo e ouvi-lo, as pessoas percebem que sua candidatura peca por falta de conteúdo. É uma candidatura oca, que lembra a figura de um balão, que, como sempre, acaba se esvaziando antes do pleito.
O fato da conversa de que ele seria o “defensor dos consumidores” já tê-lo derrubado em várias de suas pretensões eleitorais passadas, fez com que agora resolvesse inovar na marquetagem.
Acrescentou que, como é “amigo” de Bolsonaro, vai conseguir dinheiro para a cidade. Disse que é só pedir ao presidente para reduzir a dívida do município com o governo federal.
Falou como se esse assunto das finanças públicas fosse uma ação entre amigos. Como se o Brasil não fosse uma República. E mais, disse que, com sua amizade com o presidente, ele poderia até implantar um programa social local para substituir o auxílio emergencial que Bolsonaro reduziu à metade e que acaba em dezembro.
A demagogia passou de todos os limites e expôs a falta de seriedade e de escrúpulos do candidato.
Foi o deputado Orlando Silva (PCdoB) que alertou para um outro aspecto, além da falta de escrúpulos do discurso de Russomanno. O total despreparo e desconhecimento do candidato sobre administração das finanças públicas.
“Eu estou perplexo com o que disse o candidato Russomanno, de que Bolsonaro vai dar dinheiro para um programa aqui na cidade. Isso não é resolvido como se fosse uma conversa de amigos. Isso não é dinheiro do Queiroz, não é dinheiro de rachadinha”, ironizou o candidato do PCdoB.
Como na réplica, Russomanno insistiu na demagogia, Orlando rebateu. “Você tem que falar a verdade, Russomano. A renegociação da dívida de uma cidade tem que passar pelo Senado, não é o presidente que toma essa decisão”, advertiu o parlamentar. Orlando lembrou ainda que Bolsonaro não queria o auxílio emergencial. “Ele tolerou os R$ 600 e já reduziu, e agora ainda fez explodir o custo de vida”, denunciou.
Guilherme Boulos (Psol) reforçou a figura de Luiza Erundina, vice de sua chapa, e disse que era o único candidato que mora na periferia. Ele cobrou de Márcio França maior atenção com a violência contra as mulheres. Neste momento, Boulos citou uma declaração que França teria dado em 2018, de que violência contra as mulheres não seria caso de polícia.
O candidato do Psol disse que essa declaração talvez explicasse porque Márcio França teria agora “corrido atrás de Jair Bolsonaro”. França respondeu sobre a declaração, dizendo que ela foi deturpada, mas não falou nada sobre a aproximação com Bolsonaro.
Joice Hasselmann protagonizou um dos momentos hilários do debate ao dizer que, para reduzir os acidentes de motos, ela vai implantar um capacete eletrônico que, ao ser colocado na cabeça do motoboy, automaticamente liga o motor da moto.
Outra afirmação da candidata do PSL que provocaria risos, caso houvesse plateia, é que ela não brigou com Bolsonaro, mas apenas com os filhos dele.
Os candidatos do Novo e do Patriotas insistiram nas maravilhas do mercado para resolver os problemas da cidade e a deputada Marina Helou, candidata da Rede, concentrou seu discurso nas questões ambientais.