Instituição está sob sério risco após ter sido abandonada pelo governo Bolsonaro
O vereador Gilberto Natalini (PV-SP) está organizando uma vaquinha de emendas parlamentares na Câmara Municipal de São Paulo para arrecadar recursos para a Cinemateca Brasileira. A instituição está sob séria ameaça pelo governo Bolsonaro, que não realiza os repasses para a sua manutenção desde o fim de 2019.
A iniciativa dos vereadores paulistanos se soma à ação do prefeito da cidade, Bruno Covas, que propôs ao governo federal municipalizar o maior acervo audiovisual brasileiro.
“Reafirmo que a Prefeitura está à disposição pra assumir a gestão da Cinemateca caso o Governo Federal assim o deseje”, disse Bruno Covas após conversa com Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro.
Responsável por abrigar 250 mil rolos de filmes — que contêm 44 mil títulos de curta, média e longas-metragens, além de programas de TV e registros de jogos de futebol —, a Cinemateca Brasileira está à míngua no governo Bolsonaro. Destituí-la da má administração de Bolsonaro pode ser uma saída, urgente, para que todo o acervo não se perca. Enquanto isso, medidas são propostas para evitar o pior.
Segundo o vereador Gilberto Natalini, 12 vereadores já se comprometeram a destinar R$ 50 mil cada em emendas para salvar a Cinemateca. “O dinheiro será usado para auxiliar nas emergências da Cinemateca, que ameaçam a integridade de seu acervo”, afirmou Natalini.
O vereador Xexéu Tripoli (PSDB-SP) se comprometeu a destinar R$ 1 milhão em emenda parlamentar para socorrer a Cinemateca Brasileira, caso a Prefeitura de SP assuma a gestão da instituição.
“A Prefeitura de São Paulo tem todas as condições de manter e preservar esse acervo. Quando propus a ideia ao Bruno Covas ele já entendia do assunto e após discutir com o secretário municipal de cultura Hugo Possolo e com a Laís Bodanzky, da Spcine, tomou a decisão de buscar municipalização da Cinemateca”, conta Xexéu.
A tentativa de ajudar o local é vista com bons olhos pela SOS Cinemateca, apesar da municipalização ser uma preocupação. “A Cinemateca é brasileira, e estamos em um período eleitoral em São Paulo, não sabemos nem se vai ser ele o prefeito. A prefeitura tem muito menos recursos para manter a cinemateca do que o Governo Federal. O que a prefeitura propôs, e foi muito bem visto por todos, foi ajudar nesse período de emergência. Eventualmente, em uma estrutura futura, a Cinemateca poderia ser Federal com aportes tanto do município quanto do estado, que seria melhor dos cenários. Mas, municipalização da Cinemateca levaria meses, o que não podemos esperar”, pondera Roberto.
A agonia da Cinemateca aumenta enquanto o governo não faz nada. Não paga o que deve, nem nomeia pessoas para cuidar da instituição.
O drama do comando se agravou em dezembro, quando o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, encerrou o contrato da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) para a realização da TV Escola. Como havia um aditivo para a administração da Cinemateca, a situação virou um imbróglio jurídico — o acordo original vai até março de 2021, e a Roquette Pinto continuou com recursos do próprio caixa. Agora a dívida chega a R$ 13 milhões, além das pendências anteriores (em 2019, dos R$ 13 milhões previstos, o governo entregou à Acerp só R$ 7 milhões).
A brigada de incêndio, terceirizada, deixou de trabalhar em 26 de junho. No dia seguinte, a crise no local ficou ainda mais evidente, quando houve queda de energia pela manhã no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, onde está localizada a Cinemateca. O gerador que garantiria o funcionamento ininterrupto das câmaras climatizadas, onde se encontra todo o acervo de filmes, não funcionou. Ainda pela manhã, a luz voltou, mas o alerta para um acidente de graves proporções foi dado.
O último susto veio na quinta-feira, dia 1º, com a demissão de Heber Trigueiro do cargo de secretário nacional do Audiovisual, área responsável pela Cinemateca. O novo secretário especial da Cultura, o ator Mario Frias, ainda não empossou um substituto.
Funcionário de carreira, Trigueiro havia assumido na gestão de Regina Duarte — para quem, aliás, Jair Bolsonaro prometeu uma posição de chefia na Cinemateca após a saída da Secretaria Especial da Cultura. A vaga, que não existe, virou mais uma das dúvidas em torno da instituição.
Em busca de uma saída
Em audiência pública virtual da Câmara Municipal, no último dia 18, os vereadore demonstram-se empenhados em encontrar uma saída.
De acordo com o Natalini, “A primeira solução é o repasse de dinheiro (do governo federal) para saldar as dívidas com a empresa de eletricidade, com a empresa de manutenção elétrica, com a empresa de refrigeração, com a empresa de segurança e pagar os salários atrasados dos funcionários”, falou Natalini.
O vereador Celso Giannazi (PSOL) pediu ajuda da Prefeitura e dos parlamentares para resgatar a instituição. “Protocolamos uma Frente Parlamentar aqui na Câmara Municipal e já temos o apoio de 23 vereadores”. Giannazi ainda acrescentou. “Também apresentamos um PL (Projeto de Lei) que autoriza o município a celebrar um convênio de ajuda imediata para a Cinemateca”.
Para o vereador Antonio Donato (PT), a Cinemateca Brasileira é um patrimônio do audiovisual do país e precisa de uma solução. O parlamentar trouxe para o debate uma sugestão para ser discutida.
“Evidentemente que vai ter que haver um acordo com o governo federal, pelo menos do Congresso Nacional, mas que a Prefeitura assumisse a manutenção, os recursos para manter a Cinemateca, e esses recursos fossem abatidos da dívida do município com o governo federal”, sugeriu Donato.
A sugestão do vereador Donato foi comentada pela vereadora Soninha Francine (CIDADANIA). “Pode ser o caso agora dessa solução muito engenhosa, oferecida pelo vereador Donato, para o município conseguir aportar recursos na Cinemateca, que é fazer o encontro de contas. A gente socorre esse equipamento ligado ao governo federal e deduz isso da dívida com a União”.
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