“Ensinar ao inimigo como nos combater na selva Amazônica é alta traição”, afirmaram militares que criticaram a presença de Forças Armadas do EUA
A convite do governo brasileiro, tropas norte-americanas participam de um exercício militar conjunto, em Tabatinga, na tríplice fronteira amazônica entre Brasil, Peru e Colômbia que acontece desde o dia 6 deste mês e irá até a próxima segunda-feira (13).
A operação faz parte do projeto AmazonLog – um exercício de logística multinacional inter-agências militar criado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 2015, onde o Brasil foi um dos observadores. Esta é primeira vez que o projeto norte-americano é implementado na América Latina e mobiliza 11 aviões, 13 helicópteros, navios e 1.600 membros das Forças Armadas Brasileiras e da polícia, 150 homens das Forças Armadas colombianas, 120 do Peru e 30 dos Estados Unidos.
O exercício feito sob os auspícios dos EUA e da OTAN está sendo realizado numa região é estratégica do ponto de vista dos interesses nacionais por concentrar a maior biodiversidade do planeta e ser fonte de recursos hídricos e reservas minerais.
A proximidade estabelecida por Michel Temer (PMDB) com o governo de Donald Trump indignou especialmente os oficiais da reserva. Um e-mail que circula entre os oficiais e deixa claro o grau de insatisfação. “Convidar as forças armadas dos EUA para fazer exercícios conjuntos com nossas Forças Armadas, na Amazônia, é como crime de lesa-pátria. Ensinar ao inimigo como nos combater na selva Amazônica é alta traição”, afirmaram os militares como divulgou o Zero Hora.
O deputado Glauber Braga (RJ), líder do PSOL na Câmara dos Deputados encaminhou requerimento ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, e ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, pedindo informações sobre a participação de militares dos Estados Unidos. Para Glauber a medida representa a perda de soberania e uma subordinação dos interesses brasileiros aos EUA.
Oficialmente, o Exército brasileiro nega que a intenção seja criar uma base multinacional em plena Floresta Amazônica, ainda que exatamente isso tenha sido um dos subprodutos da operação da Otan, realizada na Hungria, há dois anos. Lá, a operação foi militar; aqui, é descrita como uma “cooperação de paz e ajuda humanitária comum em áreas remotas e desassistidas”, ainda que a região seja visada pelo narcotráfico como rota de passagem, dentre outras já citadas acima.
A bajulação do governo Temer aos EUA vem se exacerbando nos últimos tempos. Em março último, o comandante do Exército Sul dos Estados Unidos, o major-general Clarence K.K Chinn, recebeu a medalha da Ordem do Mérito Militar. Na ocasião, visitou instalações do Comando Militar da Amazônia – uma demonstração clara de que a defesa da Amazônia as investidas ianques perdia força.
O professor Thomas Heye, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), chama a atenção ainda para o contexto de instabilidade atual naquela região. “Não vamos esquecer que a Venezuela – que está hoje num estado bastante tenso – está ali. Um exercício militar com as Forças Armadas americanas na fronteira é meio esquisito”, disse.
ALCANTARA
Não é de hoje que o governo federal se submete à política belicista dos EUA. Em 2013, o então governo Dilma Rousseff (PT), retomou a discussão sobre o uso da Base Aérea de Alcântara, no Maranhão, pelos norte-americanos.
Já o governo Temer tenta acelerar o processo, a fim de entregar o centro de lançamento de foguetes, que tem uma das melhores localizações do mundo para a tarefa. No mês de junho de 2017, uma proposta de uso compartilhado da base foi entregue ao governo norte-americano.
Segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS-PE), além dos EUA, Israel, Rússia e França também já manifestaram interesse em usar a estrutura do equipamento. Segundo ele, um projeto de lei está sendo elaborado e a ideia é que sejam firmadas parcerias vantajosas financeiramente para custear a base. Em 2001, um projeto que previa a entrega da base para o exército norte-americano já havia sido rechaçada no Congresso.
Em 22 de agosto de 2003, a explosão de um foguete na base de Alcântara provocou a morte de 21 pessoas e a destruição da torre de lançamento no Maranhão. Até hoje, as causas da explosão não foram esclarecidas.