A China anunciou nesta segunda-feira (29) o compromisso de fornecer 1 bilhão de doses de vacinas anti-Covid à África, sendo 600 milhões de doses gratuitamente, a fim de ajudar o continente a alcançar a meta da União Africana de vacinar 60% da população até 2022 – atualmente, apenas 7% estão totalmente imunizados.
“No âmbito da luta contra a Covid, a China fornecerá a África mais 1 bilhão de doses de vacinas, incluindo 600 milhões sob a forma de doações e 400 milhões sob outras formas, como a criação de unidades de produção de vacinas”, afirmou o presidente Xi Jinping em discurso por videoconferência ao Fórum de Cooperação China-África (Focac), que está ocorrendo em Dacar, capital do Senegal.
Decisão ainda mais relevante diante da descoberta da nova variante ômicron no sul do continente, já declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma “variante de preocupação”, a que se seguiu o discriminatório fechamento da entrada de africanos em países da Europa e Ásia, já denunciado por governos africanos.
“Temos de dar prioridade à proteção da população e fechar a lacuna de vacinação”, sublinhou o presidente Xi.
O surgimento da Ômicron na África do Sul põe em evidência as terríveis consequências da desigualdade da vacinação entre os países mais ricos e aqueles em desenvolvimento, especialmente na África.
Especialistas chineses têm chamado a atenção de que essa desigualdade no fornecimento de vacinas está tornando regiões como a África no elo fraco da batalha mundial contra a Covid-19.
Com ajuda da China está em construção em Adis Abeba, capital da Etiópia, a sede dos Centros de Controle de Doenças da África (CDC), que será um marco para a melhora da situação sanitária no continente.
TERRA DO GRANDE SENGHOR
Em sua saudação ao fórum no Senegal, o presidente Xi rememorou que este ano marca o 65º aniversário do início das relações diplomáticas entre a China e os países africanos. “Nos últimos 65 anos, a China e a África forjaram uma fraternidade inquebrantável na nossa luta contra o imperialismo e o colonialismo, e enveredaram por um caminho distinto de cooperação na nossa jornada rumo ao desenvolvimento e revitalização. Juntos, escrevemos um esplêndido capítulo de assistência mútua em meio a mudanças complexas, e demos um exemplo brilhante para a construção de um novo tipo de relações internacionais”.
Ele homenageou o patriarca da independência do Senegal e seu primeiro presidente, Léopold Senghor, citando sua conclamação de “vamos responder ‘presente’ ao renascimento do mundo”. “Estou convencido que os esforços concertados da China e de África farão desta Conferência da Focac um sucesso total, que reunirá a força poderosa dos 2,7 bilhões de chineses e africanos e nos guiará para uma comunidade de alto nível China-África com um futuro comum”.
“CAROS AMIGOS”
Aos “caros amigos” líderes africanos, o presidente Xi indagou: “Por que é que a China e a África têm uma relação tão estreita e um laço de amizade tão profundo?”
Sua resposta: “a chave reside num espírito eterno de amizade e cooperação China-África forjado entre os dois lados, que se caracteriza por amizade sincera e igualdade, cooperação ganha-ganha para benefício mútuo e desenvolvimento comum, equidade e justiça, e progresso e inclusividade”.
Este ano marca o 50º aniversário da restauração da sede legal da China nas Nações Unidas, destacou Xi. “Aqui, permitam-me expressar o meu sincero apreço aos muitos amigos africanos que apoiaram a China àquela altura. Permitam-me também deixar solenemente claro que a China nunca esquecerá a profunda amizade dos países africanos e permanecerá guiada pelo princípios da sinceridade, boa fé e busca do bem maior e dos interesses compartilhados”.
COOPERAÇÃO GANHA-GANHA
O presidente também avaliou como evoluiu sua proposta de 2018, na cúpula do Fórum em Pequim, a da construção de “uma comunidade China-África de futuro comum ainda mais forte”, que foi aprovada unanimemente pelos líderes presentes.
Para Xi, isso significa agora “combater a Covid-19 com solidariedade”, colocando as pessoas e suas vidas em primeiro lugar, apoiando a renúncia aos direitos de patentes das vacinas e garantindo verdadeiramente o acesso da África às vacinas.
Em segundo lugar, aprofundar a cooperação prática, expandir o comércio e o investimento, partilhar experiências sobre a redução da pobreza, reforçar a cooperação na economia digital e promover o empreendedorismo dos jovens africanos e o desenvolvimento das pequenas e médias empresas (PMEs).
Terceiro, face às alterações climáticas, defender o desenvolvimento verde e de baixo teor de carbono, promover ativamente as energias renováveis, trabalhar para a implementação efetiva do Acordo de Paris e continuar a reforçar a nossa capacidade de desenvolvimento sustentável.
Em quarto lugar, defender a equidade e a justiça. O mundo precisa de um verdadeiro multilateralismo. Paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade são valores comuns da humanidade e representam as aspirações permanentes tanto da China quanto da África. Ambos nos opomos à intervenção em assuntos internos, à discriminação racial e às sanções unilaterais.
INTERCÂMBIO CHINA-ÁFRICA
A conferência África-China acontece no quadro de um esforço dos países africanos para reanimar as suas economias, duramente atingidas pela pandemia, no qual esperam contar com uma cooperação mais estreita com Pequim, o maior parceiro comercial do continente há uma década.
Segundo recente relatório do Conselho de Negócios China-África, no ano passado o intercâmbio comercial bilateral atingiu US$ 180 bilhões. As empresas chinesas criaram mais de 4,5 milhões novos empregos na África. A taxa de contribuição da cooperação bilateral para o crescimento econômico da África é superior a 20%.
Esse intercâmbio resultou em um grande número de projetos de infraestrutura, incluindo mais de 10 mil km de ferrovias, quase 100 mil km de rodovias, 1000 pontes, 100 portos, 80 usinas de geração de eletricidade, 66 mil km de linhas de transmissão de energia, 150 mil km de rede de telecomunicação e de internet com 700 milhões terminais de usuários.