Presidente colombiano denuncia cumplicidade dos EUA com Israel e Trump revoga seu visto

Petro respondeu a cancelamento de seu visto aos EUA: “Sede das Nações Unidas não pode permanecer em Nova Iorque” (DRM)

Denúncia foi em manifestação em frente à sede da ONU. Em discurso na Assembleia Geral na terça-feira, Petro condenou ataques dos EUA no Caribe, apontando que chefes dos cartéis de droga “moram em Miami” e “são vizinhos” de Trump

O governo Trump anunciou na sexta-feira (26) a revogação do visto do presidente colombiano, Gustavo Petro, que está em Nova Iorque participando da 80ª Assembleia Geral da ONU, alegando supostas “ações imprudente e incendiárias”, após Petro ter participado de manifestação em apoio à Palestina ao lado do fundador da banda Pink Floyd, Roger Waters, e de seu discurso na ONU de terça-feira, condenado os ataques dos EUA no Caribe.

Diante da revogação do visto, Petro disse não se importar, lembrou que [pelo acordo que fez da cidade a sede da ONU] ”os presidentes presentes na Assembleia Geral recebem imunidade completa”, apontou que, antes, Trump já havia revogado o visto do presidente palestino, Mahmoud Abbas, forçando-o a falar por videoconferência, e instou à mudança da sede da ONU.

O governo dos EUA não respeita o direito internacional, ele apontou, e “a sede das Nações Unidas não pode permanecer em Nova Iorque.”

Na manifestação em Nova Iorque, que ocorreu no mesmo dia do esvaziamento quase total do plenário em rechaço à presença do chefe do genocídio, Netanyahu, o presidente colombiano anunciou a proposta de formar um exército de paz para por fim ao massacre, a ser aprovado por pelo menos dois terços da Assembleia Geral da ONU. Ele pediu, ainda, aos soldados norte-americanos que “não apontassem seus fuzis contra a humananidade”, que desobedecessem as “ordens de Trump” – este, notoriamente quem banca, com armas, dinheiro e vetos, Israel e seu horripilante massacre colonial dos palestinos.

A manifestação ocorreu no lado de fora da sede da ONU e viralizou nas redes sociais.

Na terça-feira, em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, Petro havia condenado explicitamente a intervenção militar norte-americana no Caribe, sob o pretexto de “combate ao narcotráfico”, e que, segundo declarações do próprio Trump, já matou 14 pessoas e afundou três pequenos barcos.

Operação para a qual Trump enviou oito navios de guerra, entre destroieres lançadores de mísseis, submarino nuclear e embarcações anfíbias para desembarque de 4000 marines, e deslocou para Porto Rico aviões F-35.

O presidente colombiano chamou a abrir um “processo criminal” contra Trump por permitir “os disparos de armas contra jovens que simplesmente queriam escapar da pobreza” – na verdade, um assassinato extrajudicial desde Washington, já que não há nada que prove que houvesse drogas a bordo, inclusive porque o barco foi explodido, não há sobreviventes, nem depoimentos.  

Petro denunciou que os mortos – talvez jovens colombianos – não eram os grandes chefes dos cartéis, que na verdade, sublinhou, “moram” em Miami e “são vizinhos do presidente dos Estados Unidos”.

“Dizem que os mísseis no Caribe eram para deter as drogas. Mentira!”, ele acrescentou, sobre a questão óbvia de que o alvo de Trump não são as drogas, mas sim a Venezuela e as maiores reservas comprovadas de petróleo do planeta.

(A propósito, no primeiro mandato, documentadamente, Trump perguntou em uma reunião ‘porque não estamos em guerra com a Venezuela, que tem todo aquele petróleo e fica do outro lado do Golfo’).

A Venezuela nem figura no relatório anual da ONU sobre as drogas e nem recebeu destaque no mais recente relatório da DEA, o órgão dos EUA oficialmente de combate às drogas. E segundo essas mesmas fontes 87% da cocaína que chega nos EUA parte do Pacífico (Colômbia e Equador), não do Caribe.

Petro disse, ainda, que “aqui [nos EUA] estão os consumidores”, alertando que Trump tem assessores que são “aliados há décadas dos chefes do narcotráfico de cocaína na Colômbia”.

Nesse discurso, Petro também acusou Trump de ser cúmplice do genocídio perpetrado por Israel em Gaza.

Contrariado pela oposição da Colômbia à provocação no Caribe, o governo Trump acaba de cortar a Colômbia da lista de países que “certifica” como colaboradores de Washington no combate ao narco.

Já em Bogotá, o presidente Petro, cujo mandato vai até o próximo ano, fez muxoxo sobre a revogação de seu visto, lembrando que possui passaporte europeu – o que é muito comum em países hispano-americanos -, e que por isso nem precisa de visto, podendo utilizar simplesmente o chamado mecanismo ESTA, automático.

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