O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Luiz Augusto Ferreira, afirma ter recebido “pedidos não republicanos” de secretário de Paulo Guedes, ministro da Economia.
Segundo o presidente da ABDI, o secretário especial de Produtividade e Emprego no Ministério da Economia, Carlos Alexandre da Costa, pediu para que Luiz Augusto bancasse o aluguel de salas em São Paulo, sob o custo de R$ 500 mil por ano, sem necessidade, para abrigar escritórios da secretaria.
A ideia de Costa era que a ABDI e a secretaria que ele chefia dividissem o espaço, em acordo de cooperação, de um andar no prédio localizado no Banco do Brasil, na Avenida Paulista. Segundo Luiz Augusto, Costa o pressionou para fazer o negócio, em mensagens de WhatsApp.
Ferreira respondeu que não via necessidade e que não o faria, já que a ABDI já utiliza salas no prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) sem custo nenhum e não tinha planos para mudar.
“O secretário Carlos da Costa me fez pedidos não republicanos e recusei”, disse.
“Não fazia o menor sentido, nem econômico nem de gestão pública, de assumir um custo deste. Por isso me opus”, afirmou o presidente da ABDI.
A ABDI é um órgão ligado ao Ministério da Economia que visa “investir em inovação e na competitividade da indústria brasileira”, segundo define em seu site. A agência é mantida com recursos do Sistema S.
Costa é presidente do conselho deliberativo da agência, mas Luiz Augusto não é seu subordinado, já que a nomeação ou demissão dele cabe a Bolsonaro.
Segundo Luiz Augusto Ferreira, o secretário de Paulo Guedes insistiu no pedido e acabou conseguindo com que o Ministério da Economia pagasse o aluguel das salas.
Mais tarde, Costa anunciou que iria demitir Luiz Augusto Ferreira por questões de produtividade. Ferreira, entretanto, disse que só deixará o cargo se for demitido por Bolsonaro.
Além do pedido do aluguel, Augusto Ferreira fez outras acusações contra Costa.
Em entrevista à revista Veja, disse: “Você sabia que ele não pagou a bolsa de doutorado dele? Pergunta se ele terminou o doutorado que colocou no currículo?”.
“Pergunta quem paga as passagens aéreas dele, se é ele ou a secretária do ministério. Pergunta quem está pagando as viagens que ele faz com o filho dele nos eventos do LIDE [Grupo de Líderes Empresariais]”, questionou.
A repercussão da entrevista do presidente da ABDI fez Bolsonaro se posicionar sobre o assunto. Mas de forma estranha. Ele ameaçou os dois de demissão. “Um dos dois, ou os dois perderão a cabeça”, disse Bolsonaro na manhã da segunda-feira (2), na saída do Palácio da Alvorada.
Bolsonaro demonstrou mais irritação com quem denunciou o caso, o presidente da ABDI.
De acordo com Bolsonaro, “não pode ter uma acusação dessas”. “Daí vão dizer que ele ficou lá porque tem uma bomba embaixo do braço”, assinalou, dizendo que ia apurar a denúncia junto a Paulo Guedes.