O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, acusou a União Europeia de hipocrisia e dupla moral após sua denúncia do referendo catalão como ilegal, enquanto mantém o reconhecimento da ‘independência’ de Kosovo, província sérvia que se separou unilateralmente, sob a ocupação das tropas da Otan. “A questão de todos os cidadãos da Sérvia para a União Europeia hoje é: como é que, no caso de Catalunha, o referendo sobre a independência não é válido, enquanto que no caso da secessão do Kosovo é permitido mesmo sem um referendo?”, assinalou Vucic em entrevista à rádio B92.
“Como você proclamou a secessão do Kosovo como legal, mesmo sem um referendo, e como 22 países da União Européia legalizaram esta secessão, enquanto destruíam o direito europeu e os fundamentos do direito europeu, sobre os quais a política européia e a política da UE se baseiam?”, acrescentou o presidente sérvio.
Na segunda-feira (2), a Comissão Européia fez eco da posição do governo espanhol de que o referendo realizado na Catalunha era ilegal, descrevendo os acontecimentos no domingo, com os eleitores catalães espancados pela tropa de choque do governo Rajoy, como uma “questão interna”. Em contraste, em 2010, o Parlamento Europeu aprovou resolução instando os Estados membros a reconhecer a independência do Kosovo. “Este é o melhor exemplo dos padrões duplos e hipocrisia da política mundial”, disse Vucic.
No bombardeio da então Iugoslávia em 1999, milhares de civis foram mortos e até a sede da televisão iugoslava, a embaixada chinesa em Belgrado, usinas elétricas e abrigos de idosos foram destruídos. Sob cobertura das tropas de ocupação da Otan, que não tinha mandato do Conselho de Segurança da ONU, os terroristas do Exército de Libertação de Kosovo tiveram autorização para decretar a secessão em 2008, e uma base gigantesca norte-americana foi instalada na região. A maior parte da população sérvia teve de fugir, restando agora sobreviventes em Mitrovica.