Presidente da Transpetro anuncia plano para retomada da indústria naval brasileira

Subsidiária de logística da Petrobrás possui 26 embarcações

“Tem que ser um projeto de Estado”, destacou Sérgio Bacci, presidente da subsidiária da Petrobrás

A Transpetro criou um grupo de trabalho para preparar, em 60 dias, o projeto de retomada da construção de navios no Brasil. A companhia é o braço de logística da Petrobras, responsável por operar embarcações e dutos para atender à estatal.

O anúncio foi realizado pelo presidente da empresa, Sérgio Bacci, na quinta-feira (4). Segundo ele, a retomada da indústria naval brasileira deve ser encarada como uma prioridade de Estado, não somente de governo.

“Chego à Transpetro com a missão de retomar a construção de navios em estaleiros brasileiros. É a primeira decisão dessa gestão e, para isso, já criamos um grupo de trabalho que em 60 dias apresentará um projeto com o novo modelo de contratação e o número de embarcações”, afirmou o executivo em entrevista coletiva à imprensa.

Ele pleiteia a inclusão do plano no novo programa de desenvolvimento anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em abril. Criado aos moldes do antigo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o programa listará as obras prioritárias do governo.

“Precisamos construir navios no Brasil, mas não será a qualquer preço e a qualquer prazo”, disse Bacci. Segundo o executivo, a construção será financiada pelo Fundo da Marinha Mercante – administrado pelo Ministério dos Transportes e cuja utilização de recursos foi flexibilizada pela lei da BR do Mar.

PÁGINA VIRADA

Bacci reforçou que as discussões sobre a privatização da companhia são uma página virada. O foco agora é na retomada dos concursos públicos, na ampliação de clientes, no aumento da capacidade de operação e dos serviços oferecidos pela empresa.

Em vídeo aos trabalhadores da estatal, ele acrescentou que a privatização não está na rota da Transpetro, e sim a expansão da companhia. Bacci acrescentou que a atual gestão buscará incansavelmente crescer e ser exemplo. “Iremos retomar a construção de navios para a frota da Transpetro, tanto para cabotagem como de aliviadores. Isso faz parte de um projeto de soberania nacional e irá gerar emprego e renda para os brasileiros”, afirmou Bacci, em vídeo direcionado aos trabalhadores da Transpetro, por ocasião do Dia do Trabalho, celebrado na última segunda-feira (1º).

“Para a indústria naval ser efetiva, ela precisa ser perene, ter demanda de longo prazo. E infelizmente, aqui no Brasil, você vive de altos e baixos. Tem dez anos de construção naval forte, depois passa outros dez anos sem encomendas. Precisamos construir o projeto pensando no país, não no governo. Tem que ser um projeto de Estado. Independentemente de quem esteja na gestão, o projeto precisa sempre continuar”.

Para acelerar as construções, um dos caminhos é estimular estaleiros atualmente parados a retomarem os trabalhos. Nesse sentido, a Transpetro também disse ter avançado em conversas com o TCU e a CGU.

“O estaleiro faz parte de um grupo econômico, que fez acordo de leniência, ou seja, o problema está pago. Se fez o acordo, não tem porque não ser contratado. Isso é uma das coisas que conversei com a CGU e ela concorda. Então, a gente tem esse tipo de estaleiro que é uma solução rápida. Há os que não fizeram acordo de leniência, mas a CGU está aberta a conversar. A gente precisa superar essa fase. Se não, nunca mais vamos contratar no Brasil? Vamos continuar contratando tudo na China? É isso que a gente quer para o país? Precisamos andar para frente”, afirmou o presidente da Transpetro em relação às investigações da Operação Lava-Jato.

 “Na terça-feira, eu fui até Brasília visitar a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) para que eles acompanhem desde o momento zero esse projeto de construção de navios. Eu quero acompanhamento de perto dos órgãos de controle. E as duas instituições se colocaram à disposição para fazer esse trabalho”.

EXPANSÃO DA FROTA

A subsidiária da Petrobras atualmente tem 26 navios e contrata os serviços de outros dez de origem estrangeira. Os 26 foram construídos via Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota), que integrou o PAC.

Segundo Bacci, o novo projeto da Transpetro será diferente do Promef. “Aprendemos muito com a história, na hora que vou ao TCU e à CGU, estou dando um recado concreto: não quero que tenha problema”, disse. O executivo afirmou que quer um programa de construção de navios no Brasil “extremamente sustentável do ponto de vista econômico, de necessidade, mas [sobretudo] de controles”.

Em termos financeiros, a Transpetro informou que é superavitária e não tem problemas de caixa. Dentre as fontes disponíveis de recursos está o Fundo da Marinha Mercante, constituído em 1958 para financiar a indústria naval. Mas a companhia também está se juntando à Petrobras e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na Comissão Mista que vai discutir outras possibilidades de investimentos.

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