
“Em nossas negociações, não recuaremos de forma alguma de nossos princípios e, ao mesmo tempo, não buscamos tensão”, disse o presidente iraniano Masoud Pezeshkian, reiterando a finalidade pacífica da estratégica energia e da busca da paz através de “melhor entendimento com Washington”
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, reiterou neste domingo (11) que “em nossas negociações [com os Estados Unidos], não recuaremos de forma alguma de nossos princípios e, ao mesmo tempo, não buscamos tensão”. Com a compreensão da importância estratégica da energia nuclear para o desenvolvimento nacional, apontou, a prioridade é o fortalecimento desta infraestrutura.
Frisando que as negociações com Washington vêm sendo conduzidas em sintonia com o líder da Revolução Islâmica, o aiatolá Seyed Ali Khamenei, que aponta ‘‘uma luz no caminho” para o diálogo, Pezeshkian esclareceu que Teerã “não vinculou e não vinculará as vidas e os meios de subsistência de seu povo às negociações”.
“O Irã tem uma posição bem conhecida, baseada em princípios claros, e avançamos em um caminho completamente direto. Nossa posição é totalmente transparente. O programa nuclear iraniano se baseia em fortes fundamentos legais e legítimos, e todos os seus aspectos pacíficos sempre estiveram, e continuarão a estar, sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)”, declarou o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, à televisão estatal IRIB no domingo. O ministro enfatizou que “isso faz parte dos direitos do povo iraniano e não está sujeito a negociação ou compromisso”.
“A quarta rodada de discussões foi muito mais séria e franca do que as três anteriores”, disse Araghchi, avaliando que “superamos as generalidades e começamos a lidar com questões mais detalhadas”, classificando as negociações como “construtivas”.
O enriquecimento de urânio e a remoção das sanções são pontos chaves para a posição do Irã. “Do nosso ponto de vista, o enriquecimento é uma questão que deve definitivamente continuar, e não há absolutamente nenhuma margem para concessões”, afirmou o ministro, acrescentando que, no entanto, o nível e a escala poderão estar sujeitos a certas limitações para “fins de construção de confiança”.
Expressando preocupação com as atividades de enriquecimento do urânio, que poderiam dar ao país a possibilidade de produzir rapidamente uma bomba nuclear – algo que os xerifes do mundo advogam tão somente para si e para os seus – os EUA impuseram sanções ao povo iraniano. Dando as costas ao diálogo, abandonaram unilateralmente o acordo nuclear com o Irã de 2015 apenas três anos depois de firmado.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baqaei, descreveu as negociações como “difíceis, mas úteis para entender melhor as posições de cada um e encontrar maneiras razoáveis e realistas de lidar com as diferenças”.
EUA NÃO ENTENDE O RECADO
O enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, parece não ter entendido o recado e voltou a exigir o desmantelamento completo das instalações nucleares – mais do que abundantes nos EUA – ao dizer que há uma linha vermelha nas negociações com o Irã que representa: “Sem enriquecimento. Isso significa desmantelamento, sem armamento”.
Teerã voltou a dar a conhecer sua posição ao desinformado e disse que está disposto a negociar algumas restrições à sua atividade nuclear em troca do levantamento das sanções, mas encerrar seu programa de enriquecimento ou entregar seu estoque de urânio enriquecido estão entre as “linhas vermelhas do Irã que não podem ser comprometidas” nas negociações.
ATIVIDADES NUCLEARES PACÍFICAS SÃO PARTE DA POLÍTICA IRANIANA
“Nós declaramos que o Irã está comprometido com atividades nucleares pacíficas e estamos prontos a dar as garantias necessárias a esse respeito. Mas isso não significa de forma alguma um recuo, mas sim parte de nossa política macroeconômica”, esclareceu Abbas Moqtadaei, vice-presidente do Comitê de Segurança Nacional e Política Externa do parlamento iraniano.
A quarta rodada de negociações indiretas entre o Irã e os EUA sobre o programa nuclear iraniano começou na capital omanense, mediada por Omã, neste domingo (11), após duas semanas de intervalo.
A primeira e a terceira rodadas de negociações indiretas foram realizadas nos dias 12 e 26 de abril, enquanto a segunda foi realizada no dia 19 de abril.
Em 2015, o Irã assinou um acordo nuclear com a China, França, Rússia, Reino Unido, EUA e Alemanha, bem como com a União Europeia (UE) comprometendo Teerã a restringir níveis de enriquecimento do Urânio em troca do alívio das sanções. Foi exatamente Trump quem em seu primeiro mandato, em 2018, rasgou o acordo que foi duramente construído inclusive com o apoio de Lula na Presidência durante as negociações.