
Presidente Claudia Sheinbaum repudiou declaração “ofensiva, difamatória e infundada” visando sobretaxar em 25% as exportações mexicanas para os EUA e alertou que a “decisão afetará os nossos povos e nações”. “Cooperação e coordenação, sim; subordinação e intervencionismo, não. O México é respeitado, somos nações iguais”, sublinhou
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou que o seu governo responderá com medidas tarifárias e não-tarifárias à imposição “unilateral” anunciada na segunda-feira (3) à noite por Trump visando sobretaxar em 25% as exportações do seu país para os Estados Unidos. E desfazendo dos acordos e dos avanços nas negociações, “a Casa Branca publicou uma declaração ofensiva, difamatória e infundada sobre o governo do México, que negamos categoricamente e condenamos categoricamente”.
Poucas horas após a entrada em vigor das tarifas, na terça-feira (4), Claudia leu um comunicado em que condena o descaminho escolhido pelo norte-americano, alertando que “a decisão afetará os nossos povos e nações”, frisando que “não há motivo, razão ou justificativa que o apoie”. “Temos dito de diferentes maneiras: cooperação e coordenação, sim; subordinação e intervencionismo, não. O México é respeitado, somos nações iguais”, enfatizou.
Após uma pausa de um mês, recordou a líder mexicana, o governo dos EUA decidiu impor unilateralmente tarifas de 25% às exportações mexicanas, “apesar do acordo comercial assinado pelo próprio presidente Trump no seu primeiro mandato e do fato de neste período de tempo nestes 30 dias terem sido desenvolvidas ações contundentes contra o crime organizado e o tráfico de fentanil, bem como reuniões bilaterais de segurança e comércio, que alcançaram um acordo de cooperação substantivo entre ambos os países”.
Desde que começou o governo que represento, em 1º de outubro de 2024, lembrou Claudia, “trabalhamos e entregamos resultados em termos de segurança”, com cifras contundentes reconhecidas pelos próprios EUA. “Por exemplo, no caso do tráfico de fentanil, os próprios números da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) desse país mostram que as apreensões de fentanil nos Estados Unidos provenientes do México foram reduzidas em 50% entre outubro de 2024 e janeiro de 2025″.
“Outros resultados nestes cinco meses de governo são os seguintes: a apreensão de 6.998 armas de fogo, 75% das quais provenientes dos Estados Unidos, e 121,4 toneladas de drogas, incluindo 1.260 quilos e 1.332.126 comprimidos de fentanil. Foram desmantelados 329 laboratórios clandestinos de produção de metanfetaminas e apreendido um número histórico de 26,4 toneladas de cocaína em operações marítimas. Foram presas 13.858 pessoas por crimes de alta gravidade e 29 pessoas foram privadas de liberdade, acusadas de crimes graves relacionados a violência e tráfico de drogas, e recentemente transferidas (para os Estados Unidos), em benefício da segurança de ambos os países. Isto permitiu uma redução de 15% nos homicídios dolosos no nosso país entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025” prosseguiu.
Por isso, reiterou, “somos enfáticos: mão há motivo, razão ou justificativa que apoie esta decisão que afetará ambos povos e nações”. “Por razões humanitárias colaboramos para prevenir o tráfico de drogas ilegais para os Estados Unidos, mas como já afirmamos em diversas ocasiões, o governo desse país também deve assumir o controle da crise do consumo de derivados do ópio que causou tantas mortes nos Estados Unidos. É um problema profundo de saúde pública que deve ser abordado”.
Portanto, da mesma forma como o governo mexicano redobra esforços no combate aos opiáceos, o norte-americano deve também agir contra grupos criminosos que “importam ilegalmente precursores de fentanil através dos seus portos e aeroportos, bem como contra o crime que produz, distribui e vende ilegalmente fentanil e outras drogas no seu território, envenenando os seus habitantes”.
“80% dos detidos nos portos de entrada dos EUA por tráfico de fentanil entre 2019 e 2024 foram cidadãos estadunidenses”
Como fez questão de ressaltar, os dados do Customs and Border Protection (CBP) [Alfândega e Proteção de Fronteiras] de 2024 publicados pelo Instituto Cato em Washington “revelam que 80% dos detidos nos portos de entrada dos EUA por tráfico de fentanil entre 2019 e 2024 foram cidadãos estadunidenses”. “Mesmo a comissão de sentenças dos EUA relata que 81,9% dos processados por tráfico de drogas são de nacionalidade estadunidense”, acrescentou.
O próprio Departamento de Justiça dos Estados Unidos reconheceu em 8 de janeiro passado, apontou a presidente, “o grave problema do tráfico de armas dos EUA para o México: 74% das armas de alta potência apreendidas no México provêm ilegalmente dos Estados Unidos”.
“É hora de cada país assumir o nosso compromisso”, cobrou Claudia Sheinbaum, lembrando que a crise de consumo de derivados de ópio que se desendecadeou nos EUA iniciou com a aprovação irresponsável de medicamentos pela FDA (Food and Drug Administration), a agência reguladora de alimentos e medicamentos. “Um julgamento contra uma empresa farmacêutica no seu próprio país demonstrou que a aprovação do primeiro medicamento opiáceo vendido e promovido massivamente se baseou em informações alteradas para a aprovação da própria FDA”, reiterou. Por isso, fez questão de demarcar, “a coordenação entre as duas nações é necessária para enfrentar o fenômeno da violência e do tráfico de drogas, mas sempre baseada no respeito”.
“Quero deixar claro hoje que buscaremos sempre uma solução negociada, como propusemos, no marco do respeito à nossa soberania. Mas a decisão unilateral dos Estados Unidos afeta as empresas nacionais e estrangeiras que operam no nosso país e afeta o nosso povo. Por esta razão, decidimos responder com medidas tarifárias e não-tarifárias que anunciarei publicamente no próximo domingo”, disse.
O governo mexicano não tem o propósito de iniciar um confronto econômico ou comercial, manifestou Claudia, “que infeliz e lamentavelmente é o oposto do que deveríamos estar fazendo”. “Mas, é inconcebível que não se pense nos danos que serão causados aos cidadãos e às empresas nos Estados Unidos devido ao aumento dos preços dos itens produzidos no nosso país, bem como nos danos que serão causados ao parar a criação de empregos em ambos os países. Ninguém ganha com esta decisão, pelo contrário, afeta as pessoas que representamos”, protestou.
“Há seis anos construímos o crescimento e o fortalecimento do mercado interno, a criação de empregos através do investimento público, o aumento do salário mínimo e os Programas de Bem-estar Social”
Ao povo mexicano, Claudia ponderou que “há seis anos construímos o crescimento e o fortalecimento do mercado interno, a criação de empregos através do investimento público, o aumento do salário mínimo e os Programas de Bem-estar Social. Além disso, apresentamos recentemente o plano México para fortalecer o investimento no mercado interno”.
“Conseguimos nos momentos infelizes de tristeza e desolação causados pela pandemia subir quando a economia caiu como nunca antes na história moderna do país. Em dois anos nos levantamos. Temos uma economia forte e, acima de tudo, um povo consciente e empoderado, que se tornou a principal força política. Vamos continuar buscando o diálogo para encontrar uma alternativa com argumentos e racionalidade”, destacou.
Diante deste desafio, a presidente mexicana apelou a seu povo, “a todos e a cada um, para enfrentarmos este desafio juntos. Para manter a unidade”. “Reitero, é hora de defender o México e a sua soberania. Devemos estar atentos e ter tranquilidade, e a cabeça fria. Nosso povo e nossa abençoada Nação são muito fortes e poderosos”, declarou.
Por isso, Claudia convocou “homens e mulheres mexicanos para uma assembleia informativa no Zócalo da Cidade do México, no próximo domingo, às 12 horas, para partilhar as ações que empreenderemos”. “Podemos enfrentar este desafio juntos. Orgulhosamente, somos um país livre e soberano. Juntos iremos em frente”, concluiu.